A progressiva recuperação dos níveis dos reservatórios de água em função das chuvas das últimas semanas e a expectativa de preços maiores no ano que vem melhoraram o ânimo dos produtores de arroz do Rio Grande do Sul. As projeções para a área plantada nesta safra 2012/13 ainda variam, mas já apontam para um cenário melhor que o observado no ciclo anterior, quando as lavouras encolheram 10% ante 2010/11, para 1,053 milhão de hectares no Estado, que responde por dois terços da produção brasileira do grão, de acordo com a Companhia Nacional do Abastecimento (Conab).
Por enquanto, a estimativa mais pessimista é da própria Conab, que em seu primeiro levantamento da intenção de plantio para a próxima safra de verão, divulgado no início deste mês, projetou uma área entre 1,02 milhão e 1,04 milhão de hectares plantados com arroz no Rio Grande do Sul, o que significa uma queda de 1% a 3% ante 2011/12. A produção prevista inicialmente para o Estado vai de 7,635 milhões a 7,793 milhões de toneladas, frente às 7,740 milhões da temporada passada (ver tabela).
A mais otimista é a Emater-RS, que partiu de uma projeção inicial de apenas 1,006 milhão de hectares plantados, mas já estima pelo menos 1,050 milhão. Conforme o agrônomo José Enoir Daniel, o problema da chuva forte e disseminada das últimas semanas é o atraso do plantio, que está na faixa de 15% da área, ante uma média histórica de 20% a 25% para esta época do ano, e pode afetar a produtividade final. Mas, se o rendimento de 7.546 kg/ha estimado pela instituição se confirmar, o Estado deverá produzir 7,923 milhões de toneladas nesta temporada.
O Instituto Riograndense do Arroz (Irga), que reúne representantes do governo estadual, dos produtores e da indústria, trabalha com uma área de 1,036 milhão de hectares e uma produtividade de 7.400 kg/ha, o que daria uma safra de 7,666 milhões de toneladas. Assim como o agrônomo da Emater-RS, o presidente do Irga, Cláudio Pereira, entende que a conversão esperada de parte das lavouras de arroz para a soja não se confirmou e ficou restrita à rotação normal de culturas para controle de ervas invasoras.
Segundo os dois especialistas, a relativa manutenção das plantações deve-se a dois fatores. Um deles é a recuperação dos níveis dos reservatórios, que depois da estiagem do último verão caíram para 50%, em média, em julho, mas agora já se recuperaram para 80% e devem continuar subindo com as previsões de mais chuva neste mês e em novembro. Outro é o aumento acentuado das cotações do grão desde o ano passado.
Nos últimos 12 meses, o preço médio do arroz em casca pago aos produtores gaúchos subiu 53%, para R$ 38,18 a saca de 50 quilos, de acordo com a Emater-RS. A alta foi puxada pela redução de 13% na safra local 2011/12 em relação à anterior, enquanto em todo o país a produção caiu quase 15%, para 11,6 milhões de toneladas. Ao mesmo tempo, conforme a Conab, os estoques finais do grão no país recuaram de 2,57 milhões para 1,569 milhão de toneladas.
Para o ano agrícola 2012/13, a Conab prevê nova queda nos estoques finais, desta vez para 900 mil toneladas, o que também atiça as expectativas de manutenção dos preços em patamares elevados. Conforme o presidente do Irga, no ano que vem as cotações serão "bem melhores" quando comparadas com iguais períodos deste ano. Ele não arrisca percentuais, mas aposta em boas margens para os produtores, apesar do custo total de produção "um pouco maior" nesta safra do que os R$ 28 por saca do ciclo anterior.
Segundo o agrônomo da Emater-RS, a saca deve ficar entre R$ 33 e R$ 35 na próxima colheita e chegar perto dos R$ 40 na entressafra, daqui a 12 meses. "Acima disso não vai porque aí haveria redução do consumo". O presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Renato Rocha, projeta cotações entre R$ 30 e R$ 40 em 2013, desde que as intenções de plantio projetadas se confirmem. Segundo ele, mesmo com a recuperação dos mananciais, por enquanto a água disponível garante o plantio de apenas 900 mil hectares.
Veículo: Valor Econômico