A ordem do dono do grupo Marfrig é reduzir o endividamento. Depois de buscar um sócio para a Seara, decidiu ir ao mercado e fazer uma emissão de ações para captar R$ 1,1 bilhão.
Poucos setores da economia brasileira se internacionalizaram tanto quanto o de frigoríficos. Em pouco mais de dez anos, as principais empresas da área deixaram de ser companhias de horizontes regionais e transformaram-se em colossos globais, dos quais o JBS, da família Batista, e o Marfrig, controlado pelo empresário paulista Marcos Molina, são os dois exemplos mais vistosos. Esse avanço para o Exterior foi alcançado graças a uma agressiva estratégia de aquisições de ativos barateados em razão da crise financeira internacional. O JBS, por exemplo, arrematou por US$ 2,8 bilhões a americana Pilgrim’s Pride, que estava em concordata, em 2009. O Marfrig, por sua vez, não ficou atrás. No mesmo ano, comprou a Seara da americana Cargill por US$ 706 milhões.
Um ano depois, arrematou por US$ 1,2 bilhão a Keystone Foods, dos EUA, tornando-se o maior fornecedor global da rede de fast-food McDonald’s. De 2006 a 2010, Molina comprou 38 empresas, um ritmo médio alucinante de uma a cada 45 dias. Para crescer lá fora, os frigoríficos brasileiros contraíram dívidas cerca de quatro vezes a capacidade de geração de caixa no curto prazo (veja quadro ao final da reportagem). É uma característica que preocupa os empresários e os investidores no setor. No caso do Marfrig, Molina decidiu que é hora de reverter esse quadro, numa estratégia que envolve a negociação de ativos e atração de investidores. Sua primeira alternativa foi sair em busca de um parceiro disposto a adquirir uma fatia de até 40% da Seara Foods, divisão com as áreas de suínos, aves e alimentos processados.
Essa participação, de acordo com fontes ouvidas por DINHEIRO, foi avaliada pelo próprio Marfrig em R$ 2 bilhões. Como as conversas não prosperaram, abriu seu leque de opções para a capitalização do grupo. Na semana passada, Molina resolveu ir ao mercado por meio de uma oferta primária de ações, com o objetivo de captar pelo menos R$ 1,1 bilhão e reforçar sua estrutura de capital. O Marfrig tem uma dívida de curto prazo (que vence em até um ano) de R$ 3,2 bilhões. Seu caixa é respeitável – R$ 2,8 bilhões –, mas Molina quer reforçá-lo ainda mais para reduzir o risco do negócio, descrito em detalhes no prospecto da emissão. No quebra-cabeça para reduzir o endividamento do Marfrig, a venda de uma participação na Seara sempre foi a alternativa que mais agradava a Molina.
Por isso, envolveu-se pessoalmente na tarefa e chegou muito próximo de concretizá-la. As conversas com um grande fundo de investimento avançaram bastante, mas esbarraram, pouco antes da assinatura de um acordo, em função da discordância em torno da participação dos minoritários na gestão do grupo, cujo valor de mercado estava em R$ 3,5 bilhões, segundo as cotações da quinta-feira 25. A Seara não é, no entanto, o único ativo com potencial de negociação no Marfrig. Em dezembro do ano passado, o frigorífico anunciou um acordo com a JSL, da família Simões, na qual transferia suas operações logísticas à transportadora de Mogi das Cruzes, no interior de São Paulo. Três meses depois, o negócio foi desfeito. “A empresa ainda busca alguém que assuma suas operações logísticas”, diz uma fonte ligada ao Marfrig. Procurado pela DINHEIRO, Molina não concedeu entrevista.
Veículo: Revista Isto É Dinheiro