Apesar de ainda faltarem praticamente dois meses para o término do ano, 2012 não foi positivo para a agropecuária leiteira e nem para a indústria de laticínios de Minas Gerais. Segundo representantes do setor ouvidos pela reportagem, o produtor sofreu com a elevação dos custo de produção nos campos, puxada pelas despesas com a alimentação dos bovinos, e a indústria perdeu margens expressivas porque não conseguiu segurar as pressões do mercado varejista.
O presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Leite da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e presidente da Comissão de Leite da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Rodrigo Sant’Anna Alvim, resume o panorama. "Foi um ano atípico. A indústria se viu obrigada a reduzir preços sob risco de não conseguir repassar os produtos para o varejo", afirma.
Segundo Alvim, tradicionalmente, o preço final do produto lácteo é distribuído de forma que 35% ficam com o produtor, 33% para a indústria de laticínios e 27% para o varejo. Neste ano, completa o representante da CNA e da Faemg para o setor, o parque industrial perdeu entre 11% e 14% para o mercado varejista.
O momento da pecuária leiteira no Brasil, e Minas não foge à regra, é também crítico para os produtores. Alvim explica que, enquanto os custos de produção de leite continuam avançando com a alta do milho e do farelo de soja em índices próximos de 25% na comparação mensal deste ano com 2011, o preço pago está em níveis inferiores em confrontos semelhantes.
Conforme Alvim, corrigido pela inflação, o preço pago ao produtor em setembro na média nacional foi 9% menor do que no mesmo mês do ano passado. Por outro lado, dados de agosto mostraram que na comparação com idêntico período de 2011, os custos aumentaram aproximadamente 26%. "A atividade não foi remunerada em função desses aumentos nos custos", pontua.
Transferência - O resultado da transferência de margem da indústria para o varejo, na avaliação do diretor-executivo do Sindicato das Indústrias de Laticínios no Estado de Minas Gerais (Silemg), Celso Costa Moreira, é o desestímul aos investimentos. Além disso, ele lembra que o baixo número de fiscais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento no Estado também é um entrave para aportes do setor.
"Minas Gerais tem hoje cerca de 500 indústrias de laticínios, que têm seus projetos de expansão, novos investimentos, lançamentos de produtos ou até algo mais simples, como a mudança de rótulos de mercadorias, submetidos à fiscalização de aproximadamente 40 inspetores do ministério. Esse número é muito pequeno para o Estado e gera atraso e perda de aportes", explica.
Outro ponto defendido por ambos os representantes ouvidos pela reportagem foi a implementação de políticas públicas que defendam a competitividade da produção láctea mineira no mercado doméstico. Entre elas, foi citada a regulação das importações desenfreadas, sobretudo da Argentina e do Uruguai. "Essas importações prejudicam a indústria mineira", ressalta o diretor do Silemg.
Veículo: Diário do Comércio - MG