Investir na apresentação para turbinar as vendas

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Investimentos em embalagens podem trazer aumento no volume de vendas, com melhor aceitação no mercado, crescimento da margem frente ao valor agregado do produto e aumento da vida útil da mercadoria, além de redução de perdas em processos de distribuição. Quem afirma é Luciana Pellegrino, diretora executiva da Associação Brasileira de Embalagem (Abre). "As estruturas devem conciliar design, eficiência e viabilidade econômica", diz.

Entre as pequenas empresas, o setor de alimentos é dono de 50% dos projetos na área. Além de um visual atraente, as embalagens podem explorar outras vantagens das mercadorias, como dados de origem, tradição familiar no modo de fabricação e curiosidades sobre o produto para atrair mais consumidores.

Segundo Luciana, a grande variedade de itens e volumes puxa a demanda por embalagens no segmento de alimentos. "Há oportunidades na produção regional, como pescados, geleias, mel e laticínios, além de sucos, frutas e biscoitos". Para a especialista, os pacotes devem ser usados para "contar a história" do produto, com dados sobre a origem, forma de preparo e ingredientes. "Ao mesmo tempo, devem ser trabalhados pensando na eficiência da distribuição e na inviolabilidade do conteúdo".

Na Sierra, que produz e industrializa cogumelos, a sócia Cíntia Motta investiu cerca de R$ 30 mil para reformular a logomarca e embalagens da empresa. "Contratei um designer e pedi apoio ao Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae)", afirma. Com a ação, a fabricante aposentou potinhos plásticos e passou a vender o produto em sachês coloridos. "As vendas aumentaram mais de 100%".

A fabricante, baseada em Biritiba Mirim (SP), área conhecida pelo cultivo de cogumelos, entrega, em média, 60 mil volumes ao mês. "Quando percebi que tinha uma produção superior à da região, comecei a pensar como poderia comunicar isso aos clientes", afirma Cíntia. "Vi que as embalagens antigas não transmitiam confiabilidade, nem mostravam que somos uma empresa responsável não só pelo cultivo, mas pela industrialização do produto. Com a mudança, deixei de ser mais um 'champignon' nas gôndolas para virar uma indústria de cogumelos".

A repaginação incluiu um novo selo nos invólucros, atestando que a marca existe desde 1997 - um dado importante para mostrar que o produto tem história e é confiável. A empresa passou a oferecer ainda uma linha de cogumelos em conserva, com validade de seis meses.

Pacotes devem ser usados para "contar a história" do produto, com dados sobre origem e forma de preparo

O desenho das embalagens deixou espaço ainda para destacar o site da empresa, que reúne dicas e os benefícios alimentares dos cogumelos. A marca fornece produtos para 14 Estados, além de ocupar as prateleiras de grandes redes, como Pão de Açúcar, Extra e Walmart.

"A iniciativa nos colocou à frente dos importadores que envasam champignons vindos da China e representam 90% do mercado", diz. "Agora, estamos trabalhando na impressão de novas receitas no verso das embalagens". A ideia é apresentar sugestões de pratos além do conhecido estrogonofe, com o objetivo de estimular um consumo mais frequente da mercadoria e atingir mais usuários.

Segundo Ricardo Mayer, designer especializado em embalagens que cuidou do reposicionamento da marca Sierra, é preciso deixar de ver o recurso como um custo e passar a explorá-lo como um instrumento de marketing. "Deve-se buscar uma personalidade para o fabricante, com cores marcantes e um logotipo de fácil leitura", ensina o especialista, que finaliza projetos para pequenos fornecedores de barras de cereais e chocolates. "Se houver necessidade de usar imagens, elas devem ser objetivas e bem impressas".

Para o designer, na maioria das vezes, o consumidor "percebe" a embalagem e o produto como um bem único. "Dessa forma, o pacote pode beneficiar ou prejudicar a ideia que o comprador faz da mercadoria", diz. "É importante estar atento também às necessidades dos distribuidores e varejistas, que esperam embalagens resistentes, fáceis de armazenar e expor, com prazos de validade condizentes com o giro das compras".

A marca de sementes de árvores brasileiras Signus Vitae, no município de Volta Redonda (RJ), buscou uma solução diferente para deixar a produção mais conhecida. Agora, novos envelopes sem colagem permitem abrir e fechar os pacotes sem rompê-los. Por ter uma estrutura "sanfonada", pode ainda guardar sementes de diversos tamanhos. A embalagem recebeu, este ano, um prêmio do mercado de embalagens.

"Começamos a investir em novos pacotes há dois anos, com investimentos de mais de R$ 150 mil", afirma Luiz Carlos Busato, sócio da empresa que produz sementes de 200 espécies, como jacarandá e cedro, vendidas em viveiros ou usadas em projetos florestais. O empresário afirma que as vendas dobraram depois da criação das embalagens e já estão programados lançamentos de até 20 sementes para o setor varejista. A nova apresentação levou a marca para mercados em crescimento, como lojas de varejo e de brindes promocionais.

"A Paramount Pictures comprou os produtos para distribuir com o DVD do filme O Lórax-Em Busca da Trúfula Perdida (desenho animado que fala sobre preservação ambiental)", diz Luiz Carlos Busato.

Para Mayer, os megaeventos esportivos no país também vão estimular o uso de embalagens comemorativas. "A presença de textos em línguas estrangeiras deve aumentar nos invólucros, para criar empatia com os visitantes", diz. "As empresas podem atualizar os pacotes usando temas e informações sobre as delegações estrangeiras ou das cidades que vão receber os jogos".

Outro nicho de consumo importante são os idosos. O crescimento da população com mais de 60 anos no Brasil deve obrigar os fabricantes a oferecer embalagens fáceis de manusear, com textos legíveis sobre conteúdo e prazos de validade.

"Antes de fazer investimentos no setor, deve-se visitar os pontos de venda para saber como as embalagens são expostas e analisar os concorrentes", afirma o designer. "As empresas devem despertar o interesse dos varejistas por produtos que, além do preço e da qualidade, se destacam nas gôndolas e geram vendas".


Veículo: Valor Econômico


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