Contratar e manter funcionários qualificados é prova de fogo para micro e pequenas empresas, ainda mais em tempos de pleno emprego na região metropolitana de BH
Com a contratação de apenas uma funcionária temporária para o período de Natal, os sócios Alessandro Oliveira, Rubens Campos e Sérgio Silva, da Inbox, já se preparam para colocar a “mão na massa” e ir para trás do balcão durante o melhor período de vendas do ano. A ideia promete reduzir os custos fixos da empresa, que passa por sua segunda grande data comemorativa. “Hoje, cuidamos prioritariamente da parte administrativa, mas vamos nos revezar no atendimento para reforçar a equipe.”, conta o sócio Alessandro.
Ainda de acordo com o empresário, o varejo passa por um momento de apagão de mão obra qualificada, com dificuldade de contratação. “Todas as empresas, grandes ou pequenas, disputam o mesmo funcionário. Nesse aspecto, as maiores têm mais vantagens por já serem estabelecidas”, explica.
Se contratar e manter funcionários é uma prova de fogo para as grandes empresas – diante do cenário de pleno emprego da Grande BH, com taxa de desocupados de 4%, segundo o Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – para as micro e pequenas o desafio se torna ainda maior. Esse é o tema da sexta reportagem da série Minha vida de empresário que, desde julho, acompanha os primeiros passos de seis empreendimentos abertos em Belo Horizonte e Montes Claros, no Norte de Minas. O projeto terá duração de um ano, período crucial para sobrevivência do negócio e ao longo do qual quase um quarto das empresas não resiste e fecha as portas.
Sem espaço para novos custos e diante de expectativas pouco animadoras de vendas para o Natal, a empresária Adriana Carvalho, da Infatti Interiores, não fala em contratação de temporários. Na torcida por negócios mais aquecidos neste mês, ela espera que as duas funcionárias sejam suficientes para atender a clientela. “Efetivei uma nova pessoa com experiência na semana passada. Já deu para perceber a diferença quando se tem alguém que conhece o setor e a área de vendas”, afirma Adriana. Sem condições de garantir grandes benefícios aos empregados, Adriana e o sócio Radamés Pereira tentam ser flexíveis. “Mudamos os horários aos domingos e negociamos quando necessário”, conta Adriana.
De acordo com João Bonomo, professor de empreendedorismo do Ibmec, hoje os pequenos empresários vivem um cenário em que a disputa pelo bom profissional é acirrada. Para fazer uma boa contratação – na sazonalidade ou não –, o empresário também deve se preparar com cursos voltados para a área. “Um recrutamento amador e sem treinamento do funcionário impacta o próprio negócio. É preciso pensar a necessidade e o perfil desse funcionário desde o planejamento da empresa”, afirma. “Um profissional que não se comprometa com a empresa pode virar um transtorno e não trazer o retorno esperado”, acrescenta.
Na tentativa de fugir das dificuldades com mão de obra antes mesmo de abrir a loja física da Doce Requinte, as sócias Juliana Rezende e Débora Oliveira, vivem o dilema: comprar uma máquina ou se render à contratação de um funcionário. “Os pedidos aumentaram e hoje estamos trabalhando no limite. Se quisermos pegar mais trabalho, vamos precisar de ajuda”, conta Juliana. As empresárias colocam na balança os prós e contras de cada alternativa para tomar a decisão mais acertada.
MOVIMENTO Em Montes Claros, na Retorno Confecções, Raphael Oliveira espera melhoria dos negócios para, então, pensar em contratar alguém para ajudar nas vendas. “Só vou pensar nisso depois das duas primeiras semanas deste mês, quando o movimento deve aumentar”, afirma.
Já na Drogaria Planalto, também em Montes Claros, o proprietário Bruno Guedes pensa em contar com a ajuda de familiares para reforçar a equipe caso o movimento aumente no Natal. “Se for preciso, vou recorrer à família”, conta. Já no Empório Colonial, as irmãs e sócias Adriana Melgaço, Fabiana Felipe e a mãe Miralvina Melgaço descartam a contratação de temporários ou de um funcionário fixo no primeiro momento.
Veículo: Estado de Minas