A eleição presidencial de hoje nos Estados Unidos tem um peso enorme para os executivos das empresas americanas, grandes e pequenas, influenciando desde sua carga tributária até as atitudes dos reguladores que as fiscalizam.
Decepcionados com o presidente Barack Obama e em desespero com a disfunção do governo federal, a comunidade dos negócios, em sua maior parte, está investindo no desafiante Mitt Romney.
A reeleição de Obama, na opinião de muitos executivos, quase certamente significaria impostos mais altos para as empresas, pressão contínua por parte de reguladores insistentes e mais anos de frustração com um ex-organizador comunitário que, lamentam eles, não compreende o papel das empresas e não hesita em repreendê-las em público.
Uma vitória de Romney, por outro lado, tem uma probabilidade maior de trazer alívio fiscal, contenção da regulamentação governamental e afinidade com um profissional de investimentos que se define como amigo das empresas.
Claro, Obama ainda tem fãs no mundo dos negócios. Semana passada, ele ganhou o apoio do prefeito de Nova York, o bilionário e empresário de comunicações Michael Bloomberg. E o entusiasmo empresarial por Romney é temperado pela promessa do candidato de agir mais duro com a China - o mercado mais promissor para muitas grandes empresas. Além disso, alguns afirmam que Romney e seu companheiro de chapa, Paul Ryan, com sua promessa de não aumentar os impostos, não traçaram um plano realista para reduzir a montanha de dívida do país.
As empresas estão votando com seus dólares. Na eleição de 2008, que teve John McCain como candidato republicano, os comitês empresariais de ação política e empregados do setor privado contribuíram com US$ 2 bilhões para as campanhas, sendo 55% para o Partido Democrata, de Obama, e 45% para o Republicano, de acordo com o Centro para a Responsabilidade Política. Até agora nesta eleição, 60% do US$ 1,8 bilhão em contribuições do meio empresarial foram doados para os republicanos.
Os partidários de Romney esperam que o ex-governador de Massachusetts - que exalta o seu sucesso no governo estadual como republicano lidando com uma legislatura democrata - consiga quebrar o impasse em Washington. Outros apoiadores temem que ele ficará cativo da ala "Tea Party", a mais direitista do Partido Republicano.
Uma constelação de questões vai afetar a forma como as empresas fazem negócios. Uma vitória de Obama provavelmente vai cimentar a lei de seguro-saúde do presidente, cujos méritos dividem as empresas; uma vitória de Romney significaria uma tentativa de reduzir o alcance dessa lei. As leis de imigração dos Estados Unidos, de grande interesse para muitos empregadores, também podem ser modificadas. E o vencedor da eleição de hoje quase com certeza vai escolher o sucessor de Ben Bernanke, presidente do Federal Reserve, o banco central americano.
Mas os impostos estão no alto da lista das preocupações dos empresários. O presidente e o Congresso terão que decidir se vão prolongar uma série de benefícios fiscais que estão para expirar, e ponderar a conveniência de aumentar os impostos pagos pelos americanos mais ricos a fim de reduzir o déficit. Fala-se também, em ambos os partidos, em uma ambiciosa reforma das leis tributárias individuais e empresariais - projeto que poderia criar duas colunas bem distintas de vencedores e perdedores no setor empresarial.
Romney já disse que uma reforma das leis tributárias pode reduzir as taxas de impostos e estimular o crescimento econômico, trazendo, em última análise, mais receita fiscal. Mais de 80 executivos disseram, em uma declaração conjunta, que o crescimento por si só não será suficiente, e que será necessário aumentar a receita fiscal e também cortar gastos para reduzir o déficit.
Muita coisa mudou nos últimos quatro anos. A eleição presidencial de 2008 coincidiu com uma enorme ameaça para a prosperidade americana. Naquela época, as empresas americanas tinham um único imperativo: salvar a economia e o sistema financeiro do colapso. O mercado financeiro voltou-se para Washington em busca de uma tábua de salvação. Os executivos da maioria das empresas - mesmo os que criticavam Obama - torciam para que seus esforços de reanimar a economia tivessem sucesso.
O governo diz que os pacotes de socorro cumpriram sua função. O sistema bancário dos EUA está mais saudável do que em 2008, e em melhor forma do que o da Europa. E a General Motors e a Chrysler, ambas socorridas com verbas federais, se reestruturaram e estão ganhando dinheiro novamente.
O clima começou a mudar com a agressão verbal de Obama, em dezembro de 2009, aos "banqueiros ricaços" ("fat cats") e outras palavras que irritaram os executivos. Os lobistas e executivos de Wall Street se sentiram rejeitados pela Casa Branca; ao mesmo tempo, os democratas se queixavam de que o governo estava sendo demasiado tolerante com o setor financeiro.
O confronto em Washington sobre a elevação do teto da dívida, em agosto de 2011, tirou muitos executivos da posição de observadores. Enquanto as negociações entre a Casa Branca e os republicanos do Congresso fracassavam, as manchetes alertavam para uma possível insolvência do Tesouro americano.
Cerca de 395.000 novas empresas do setor privado foram criadas em 2010, o menor número em 33 anos, de acordo com o último censo dos EUA. A Agência de Administração de Pequenas Empresas financiou um total recorde de US$ 30 bilhões em empréstimos no seu ano fiscal de 2011.
As pesquisas com donos de pequenas empresas mostram que a maioria está a favor de Romney. Para eles, em particular, um grande problema são as ações incisivas dos reguladores nomeados pelo presidente Obama.
Embora a regulamentação seja algo impreciso de se medir, o Secretaria do Orçamento da Casa Branca contou 192 normas com implicações econômicas decretadas nos primeiros três anos e meio do governo Obama contra 146 no mesmo período do primeiro mandato do presidente George W. Bush, do Partido Republicano, números baseados nos regulamentos publicados por órgãos do poder executivo e examinados pelo Secretaria do Orçamento federal.
Se Romney vencer, poderá substituir os principais reguladores, alguns dos quais servem por um prazo indefinido, determinado pelo presidente, e outros que cumprem mandatos fixos. Mas, quase tão importante como as nomeações, é o vigor com que os reguladores executam seu trabalho e obrigam o cumprimento das regras.
Algumas pequenas empresas veem méritos em ambos os candidatos. "A ideia de ter um homem de negócios na Casa Branca é atraente para mim, que sou empresário, em um nível fundamental", disse Michael Brey, presidente da Brey Corp., cadeia de lojas de brinquedos e materiais para hobbies, sediada na área de Washington. "Mas eu gosto de saber o que vai acontecer, e o presidente Obama já colocou isso claramente."
Em 2010, a empresa de Brey conseguiu um empréstimo concedido pela Agência de Administração de Pequenas Empresas, que o ajudou a manter a cabeça fora d'água até a firma voltar ao azul em 2011, disse ele.
Veículo: Valor Econômico