O investidor ativista Nelson Peltz levou pela primeira vez sua estratégia agressiva para a França, após comprar uma participação na Danone, uma das empresas mais conhecidas do país.
A iniciativa jogará a Trian, a empresa americana de investimentos cofundada por Peltz, contra o "establishment" empresarial francês e uma base de acionistas tradicionalmente resistente ao ativismo de estilo anglo-saxão.
A Trian comprou uma participação de 1% no grupo de alimentos francês, no valor de cerca de € 300 milhões, segundo pessoas familiarizadas com a situação.
Com ocorreu com o envolvimento recente do ativista Bill Ackman com o grupo de produtos de consumo Procter & Gamble, a iniciativa vai pôr à prova a capacidade de investidores sem papas na língua de mudar a direção tomada por grandes empresas e o preço de suas ações.
Os investidores da Danone não veem qualquer retorno há cinco anos, já que os dividendos, em grande medida, neutralizaram os efeitos da queda de quase 20% do preço das ações. Depois de uma advertência de lucros, no terceiro trimestre, as ações da empresa [que fecharam ontem a € 48,06, com queda de 0,24% em 12 meses], são as mais baratas do setor de alimentos como um todo.
Franck Riboud, o principal executivo da Danone desde 1996, remodelou o grupo de modo a se concentrar em iogurte, água engarrafada e alimentos infantis e para uso médico.
A compra, por € 13,4 bilhões, da fabricante de alimentos infantis Numico em 2007 deixou o grupo sobrecarregado por dívidas, e a Danone foi obrigada a emitir ações para quitar empréstimos tomados durante a crise financeira.
Embora a empresa tenha anunciado este ano uma recompra de ações, os investidores continuaram preocupados com sua utilização de capital.
Peltz apoia Riboud e pretende tentar discutir com a empresa, segundo pessoas próximas ao assunto. Ele deverá defender melhorias, como a das margens operacionais para 15,1% até 2015, e o retorno de fluxo de caixa excedente sob a forma de recompras de ações.
Peltz quer chamar a atenção para a subavaliação pela qual passa a empresa, e não vai defender medidas radicais, disseram essas pessoas. [Ontem, em uma apresentação para investidores, Peltz afirmou que a Danone está subavaliada e que pretende envolver-se com a administração da companhia para pedir que não sejam feitas fusões e aquisições que poderiam diluir o valor da empresa, segundo agências internacionais].
A Trian ganhou fama por sua defesa de reestruturações de empresas de alimentos como a Heinz, onde Peltz travou uma luta por votos por procuração em 2006 e ainda mantém seu assento no conselho de administração, bem como na Kraft e na Cadbury, a fabricante britânica de doces adquirida pelo grupo americano.
Veículo: Valor Econômico