A entrada de produtos lácteos do Uruguai e Argentina está tirando empregos nos laticínios brasileiros
Representantes dos diversos segmentos do setor lácteo, que desde a última terça-feira participam em Brasília da Conferência Nacional do Leite, vão propor hoje, às 10 horas, ao ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro Filho (PMDB-RS), que convença a governo federal a restringir as importações do Uruguai e da Argentina.
O deputado federal Alceu Moreira (PMDB-RS), relator da subcomissão do Leite da Câmara dos Deputados, acredita que a cadeia láctea dará respaldo político para que o ministro consiga estabelecer limites às importações.
Os dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio mostram que as importações brasileiras de produtos lácteos cresceram 64% nos últimos dois anos, passando de 79 mil toneladas entre janeiro a setembro de 2010 para 129,2 mil toneladas nos nove meses deste ano. Na comparação com 2011, o crescimento é de 12%.
Entre janeiro e setembro de 2012, as importações de lácteos uruguaios cresceram 162% (para 54,7 mil toneladas), da Argentina, 32% (para 60,8 mil toneladas) e do Chile, 93% (para 5,6 mil toneladas).
Alceu Moreira argumenta que a entrada de produtos lácteos dos países vizinhos está tirando empregos nos laticínios brasileiros.
Ele classifica como "lixo, resíduo industrial", o soro de leite em pó uruguaio que é comercializado no mercado brasileiro. Na opinião do deputado, o sistema de cotas de importação, como o acordado entre os setores privados do Brasil e da Argentina, não resolve o problema. "Eles reduziram as vendas de leite, como estava previsto, mas aumentaram as de derivados. Entretanto, um quilo de queijo equivale a 10 litros de leite", disse.
O deputado afirmou que as pesquisas mostram que consumo de produtos lácteos no Brasil passou de 123 kg por habitante/ano em 2010 para 154 kg em 2012, mas o produtor brasileiro não se beneficiou da expansão do mercado, porque a produção nacional se manteve estagnada no período. Ele observa que a melhora do poder aquisitivo aumentou o consumo dos derivados de leite, favorecendo justamente os produtos importados. Os dados oficiais revelam que nos últimos dois anos as importações de queijo cresceram 69%, com destaque para a Argentina (+108%) e em seguida a União Europeia (+48%).
Conseleite - Um dos resultados práticos da conferência é a proposta de criação do Conselho Nacional do Leite (Conseleite), que será responsável pelo acompanhamento da implantação das políticas definidas para o setor.
Moreira explicou que a conferência deste ano resultou de 12 audiências públicas realizadas neste ano nos principais estados produtores e para o próximo ano já estão previstas 17 audiências entre julho a setembro, quando serão escolhidos os delegados para o encontro nacional marcado para novembro em Brasília.
O Conseleite nacional seguirá os moldes dos fóruns estaduais, já existentes em Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e Paraná. Moreira destacou a importância da participação dos representantes dos produtores nos conselhos, que definem o preço a ser pago pelas indústrias na compra do leite, "porque os parâmetros técnicos reduzem a desconfiança".
Ele afirmou que a principal preocupação é com a sustentabilidade do setor, pois os investimentos, muitas vezes com financiamentos públicos, são altos e por isso precisam de uma política que garanta renda. Na opinião do deputado, o setor lácteo "precisa de proteção sem protecionismo". (AE)
Veículo: Diário do Comércio - MG