Sem crise, PIB cresce 6,8% no 3º- trimestre

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Ainda sem refletir impactos da crise global, a economia brasileira encerrou o terceiro trimestre com forte expansão, impulsionada pelo consumo das famílias e pelos investimentos. O Produto Interno Bruto (PIB) avançou 6,8% em relação ao mesmo período do ano passado, a maior taxa desde o segundo trimestre de 2004, e 1,8% na comparação com o trimestre anterior, segundo dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O PIB, a preços de mercado, alcançou R$ 747,3 bilhões, sendo R$ 631,5 bilhões referentes ao Valor Adicionado a preços básicos e R$ 115,8 bilhões aos Impostos sobre Produtos.

 

Apesar do desempenho acima do esperado pelo mercado, economistas consultados pela Gazeta Mercantil prevêem um quarto trimestre do ano sem crescimento em relação aos três meses anteriores, com riscos ainda de um cenário de recessão técnica – dois trimestre consecutivos de queda na margem. As projeções oscilam entre o crescimento zero e queda de 1% no período.

 

"O PIB do terceiro trimestre é uma história do passado. Foi o pico", diz Sérgio Vale, da MB Associados. Para o economista, a elevada base de comparação construída entre julho e setembro deve levar a uma queda maior do PIB entre o terceiro e quarto trimestres do ano. Com isso, Vale reviu a sua projeção de retração de 0,3% para -1%. Para o próximo ano, a expectativa é de um crescimento de 2,8%, ante 5,6% previstos para 2008.

 

Na sua avaliação, a desaceleração das exportações com a piora do cenário internacional e dos investimentos produtivos devem puxar o PIB para baixo. "Os investimentos cresciam a dois dígitos e isso não vai acontecer mais", diz. No terceiro trimestre do ano, o crescimento da Formação Bruta de Capital Fixo foi de 19,7% na comparação anual. Vale prevê que o percentual caia para 6,6% no último trimestre. "No primeiro semestre de 2009, ele pode ser negativo."

 

Para Cristiano Souza, do Banco Real, o resultado surpreendeu positivamente, pois era esperado crescimento de 6,1%, frente ao terceiro trimestre do ano passado, e de 1,5% em comparação com o trimestre anterior. No entanto, "o PIB inteiro já estava contratado em setembro, quando se agudizou a crise, e os números refletem um momento pré-crise", diz.

 

Para o quarto trimestre deste ano, Souza prevê queda de 0,5% frente ao terceiro trimestre, e crescimento de 3,5% em comparação aos últimos três meses de 2007. Souza avalia que, no trimestre corrente, consumo e investimento desaceleração, e cita o índice de confiança dos empresários, "que caiu muito em outubro". Outro fator que deverá impactar negativamente o PIB do último trimestre é o comportamento do consumidor, que tem se mostrado um pouco mais cauteloso, "com propensão a evitar dívidas, por isso o consumo também deve se retrair". Para o ano de 2009 o economista do Banco Real estima crescimento do PIB próximo a 2%, com inflação em aproximadamente 6% e câmbio a R$ 2,40 para o fim do ano.

 

Já Thaís Zara, da Rosenberg Consultores & Associados, acredita que o crescimento do PIB no terceiro trimestre pode ser entendido como "a última boa notícia deste ano". Ela destaca a formação bruta de capital fixo como "o lado bom do crescimento e expansão de investimentos", mas ressalta que estes vetores começarão a cair, a partir do quarto trimestre. Para os últimos três meses do ano, Thaís prevê queda de 0,7% no PIB, frente ao terceiro trimestre, e não descarta crescimento negativo para o início de 2009. "O que está determinando as expectativa em relação ao quarto trimestre são os indicadores de indústria de outubro e novembro, que são basicamente negativos."

 

Fernando Montero, da Convenção Corretora, prevê para o quarto trimestre de uma expansão do PIB de 3,7% contra igual período de 2008, o que implica uma queda de 0,8% em relação a o terceiro trimestre. Ele avalia que os últimos trimestres do ano devem refletir a queda na demanda e também a tentativa ajustamento de estoques da indústria, setor que avançou 1,8% no terceiro trimestre em relação ao trimestre anterior. "A indústria se preparou para um crescimento muito forte e perdeu demanda. E essa necessidade de ajuste de estoques sempre antecede uma inflexão da economia", diz. Por outro lado, Montero diz que o desempenho do setor de serviços, que cresceu 1,4% na margem, pode contribuir para uma queda mais "suave". "Serviços vieram melhor que o esperado e podem carregar algo para o próximo trimestre."

 

Já o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, prevê estabilidade para o PIB do quarto trimestre na comparação com os três meses anteriores e de 5% em relação ao mesmo período do ano passado. "É desaceleração brusca, mas ainda garante um crescimento de 6,1% em 2008", afirma.

 

Borges não descarta, no entanto, o risco de uma recessão técnica no Brasil. O bom desempenho no terceiro trimestre apenas empurrou essa possibilidade para frente. Ele ressalta que isso não significa que a economia vai apresentar retração durante o ano de 2009.

 

Veículo: Gazeta Mercantil


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