EUA temem temporada de fim de ano fraca no varejo

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Agora que se aproxima a temporada das compras de Natal, quando tradicionalmente os consumidores dão um grande impulso à economia dos Estados Unidos, algumas pessoas no mercado estão vendo sinais preocupantes de que os americanos estão apertando o cinto.

A posição oficial é cautelosamente otimista: analistas de varejo na Bain & Co. preveem que as vendas de Natal crescerão 3,5% em 2012, um pouco menos que a alta de 3,7% de 2011 e de 3,8% em 2010. Em comparação, houve aumentos de 5% ou mais em 2004 e 2005, e de 3,8% em uma média de 20 anos, segundo a análise feita pela Bain de dados de varejo divulgados pelo Departamento de Comércio dos EUA.

As vendas de Natal representam um quinto ou mais do total anual das vendas de varejo e podem significar a diferença entre um ano de sucesso e um ano medíocre. Mas há cada vez mais especialistas vendo sinais de que o crescimento este ano pode ser baixo, parecido com o de 2011.

O aumento nas vendas, que foi forte no primeiro semestre, perdeu impulso no terceiro trimestre em lojas de todas as faixas de preço, incluindo as redes Wal-Mart, Target Corp. e Saks Inc.

"Estamos otimistas quanto às vendas, mas também realistas", afirmou o diretor financeiro da Wal-Mart, Charles Holley. "As atuais condições macroeconômicas continuam a manter os os nossos clientes sob pressão."

O consumidor americano continua preocupado com a situação do emprego e também com o preço da gasolina e dos alimentos, disse ele. Para atender aos clientes com o orçamento muito apertado neste Natal, a Wal-Mart foi uma de muitas redes varejistas que, pelo segundo ano seguido, trouxe de volta o sistema chamado de "layaway" em inglês - em que o cliente paga um produto em prestações antes de poder levá-lo para casa; assim, os compradores que não desejavam aumentar sua dívida de cartão de crédito puderam alocar uma verba mensal para os presentes durante os meses antes dos feriados de fim de ano. A Wal-Mart lançou o "layway" em 2012 um mês mais cedo do que no ano passado, e informou que já registrou US$ 300 milhões a mais em vendas esperadas através do programa do que em 2011.

Rosalind Brewer, diretora-presidente do clube de compras Sam's Club, da Wal-Mart, disse que viu clientes começarem a fazer compras para a ceia de Ação de Graças, a ser celebrada nesta quinta-feira, já no início de outubro - sinal de que as pessoas estavam tentando esticar seu salário para poder comemorar a data.

As pequenas empresas, que representam cerca de metade dos clientes da rede de compras por atacado da Sam's Club, "continuam a sofrer pressão econômica e incerteza, o que levou a um crescimento lento nos negócios", disse Brewer. "Nossa previsão é que essa desaceleração pode continuar no quarto trimestre."

A retração dos consumidores, que vêm sendo a força motriz da recuperação econômica dos EUA, tem consequências ainda mais graves em um momento em que as empresas restringiram seus investimentos e a produção caiu, em resposta ao desaquecimento na Europa e em países como a China.

As esperanças dos americanos tinham aumentado nos últimos meses com o mercado de trabalho em lenta melhora e o preço dos imóveis subindo. A confiança do consumidor alcançou em novembro o ponto mais alto nos últimos cinco anos, segundo o índice preliminar de confiança do consumidor da Thomson Reuters/Universidade de Michigan. Em paralelo, as vendas nas lojas e restaurantes, medidas pelo Departamento de Comércio dos EUA, subiram durante três meses, recuando 0,3% em outubro, em parte devido aos efeitos da supertempestade Sandy.

Mas, agora que os americanos se aproximam do fim de semana após o Dia de Ação de Graças, que dá início à temporada de compras de Natal, economistas dizem que também há receios quanto a uma eleição presidencial que mudou pouca coisa em Washington. Outro motivo de preocupação é o "abismo fiscal" de bilhões de dólares em cortes de gastos e aumentos de impostos, marcado para começar em janeiro se os congressistas não chegarem a uma alternativa até lá. Como se não bastasse, as consequências do Sandy ainda são sentidas em partes do nordeste do país, levando alguns consumidores a se concentrar em reconstruir suas casas e lojas, em vez de colocar presentes na árvore de Natal.

"A [alta] confiança do consumidor está dissociada da realidade dos dados concretos", disse Jacob Oubina, economista da RBC Capital Markets. "A ideia de que as compras de Natal serão fortes está em desacordo com um público que não tem meios para impulsionar o consumo e com um cenário de confiança fadado a recuar."

A poupança pessoal como porcentagem da renda disponível caiu para 3,3% em setembro, a menor taxa desde novembro de 2011. Um declínio na taxa de poupança pessoal, que chegou a subir para 8,3% durante a recessão, pode ser sinal de que os consumidores estão se sentindo mais seguros financeiramente.

Mas os economistas temem que os consumidores estejam usando a poupança por necessidade, e não por mais confiança, já que os aumentos salariais continuam anêmicos e o preço dos alimentos e combustíveis continuam altos.

"Todos os gastos que temos visto estão vindo diretamente da poupança", disse Chris Christopher, economista da IHS.

Quase 60% dos consumidores disseram que planejam diminuir as despesas de Natal em antecipação ao abismo fiscal, segundo uma pesquisa com 1.007 adultos realizada em novembro pela Ipsos para a RBC Capital Markets. A proporção de pessoas que está acompanhando o drama do abismo fiscal subiu de 45% em junho para 61% em novembro, informou a RBC. "Quanto mais as pessoas ficarem a par do que está acontecendo e perceberem que estão prestes a levar menos dinheiro para casa em seus contracheques, mais a confiança vai diminuir", disse Oubina.

Ainda assim, o consumidor americano tem um histórico de resiliência, especialmente na época de Natal. Resta aos varejistas a esperança de que a história se repita.

 

Veículo: Valor Econômico


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