Com ativos caros, estratégia volta-se para medicamentos

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Uma operação até então considerada comum está se tornando uma tendência no setor farmacêutico do Brasil. Com o preço dos ativos em alta no país, algumas multinacionais estão comprando marcas e registros de produtos já estabelecidos no mercado nacional para entrar ou expandir seus negócios no país.

A sul-africana Aspen tornou essa prática comum. A meta é comprar medicamentos que perderam a patente de laboratórios que não têm mais interesse pelo produto. Alexandre França, presidente da companhia no país, disse que essa estratégia foi adotada pela empresa para crescer no Brasil. Com escritório no Rio de Janeiro e uma fábrica em Serra, no Espírito Santo, a companhia sul-africana pretende continuar com essa política e promete ir novamente às compras até o fim do ano. A companhia já investiu cerca de R$ 90 milhões no país nos últimos três anos com a aquisição de medicamentos. "É mais rápido", disse.

Com a crise na zona do euro e pouco espaço para expansão em mercados mais maduros, algumas multinacionais estão olhando os países emergentes como uma saída para não reduzirem receita. Essa maior demanda ajudou a inflacionar o mercado brasileiro. Tanto os ativos - os mais recentes negócios superaram 20 vezes o Ebtida (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), quando a média no mercado internacional gira em torno de sete a oito vezes -, como a compra de marcas estão valorizadas.

A precificação de um medicamento é calculada por sua receita anual, multiplicada por três. Com a alta demanda, alguns produtos chegam a custar seis vezes o faturamento anual, afirmaram fontes ao Valor. Mas se o produto é genérico e tem muitos concorrentes no mercado, esse "ativo" sofre um certo deságio.

Além dos altos custos atuais, a compra de um medicamento de outro laboratório embute uma burocracia considerada desnecessária pelo setor. "Ao comprar um medicamento, o produto precisa ser novamente registrado pela Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária]. Eles não aceitam transferência de registro", explicou Nelson Mussolini, vice-presidente executivo do Sindusfarma (Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo).

Segundo Mussolini, a entidade está em conversações para tentar mudar essa legislação com a diretoria coligada da Anvisa. "Não tem muita razão de ser [a obrigatoriedade de novo registro]."

A farmacêutica de origem sueca Ferring, com sede na Suíça, está há alguns meses sondando o mercado brasileiro. A estratégia era adquirir um laboratório de pequeno porte e medicamentos que fizessem sentido ao portfólio da companhia, que desenvolve e comercializa produtos inovadores nas áreas de saúde reprodutiva, urologia, gastroenterologia e endocrinologia. Como ainda não fechou aquisição no país, a empresa passou a cogitar a compra de medicamentos, mas esse mercado também está competitivo, informou em recente entrevista ao Valor o executivo Michel Pettigrew, CEO global da Ferring. A companhia não desistiu do país e sua saída foi fechar acordo com universidade para pesquisa.

 

Veículo: Valor Econômico


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