Para se adaptar aos novos hábitos do consumidor, que começa a optar por itens mais baratos, preocupado em não comprometer a sua renda e com receio dos impactos da crise internacional em seu bolso ano que vem, como acontece agora nos Estados Unidos, as redes do varejo começam a fazer substituições e a oferecer itens mais acessíveis, preparando terreno, desta maneira, para uma possível redução do consumo em 2009. A mudança é notada entre varejistas de eletrodomésticos, eletrônicos e móveis, como é a rede Casas Bahia, que afirma ter procurado junto à indústria marcas de menor valor agregado.
Com 560 lojas, a rede segue com fôlego e afirma que não deve parar de comprar e produzir. Ao contrário, na fábrica de móveis da rede as férias coletivas foram reduzidas de 20 para 10 dias, e a produção de móveis mais populares tem aumentado. Michael Klein, diretor executivo da rede, explica que o mix de produtos está maior e estão trazendo mais de 630 lançamentos, neste fim de ano, em busca de opções mais baratas, pensando que o consumidor deve passar a preferir marcas mais acessíveis e migrar para isso, ao deixar de comprar carros e imóveis, com a restrição de crédito.
"Enquanto não houver desemprego, não vai haver mudança. Também não estamos demitindo ou dando férias coletivas [por conta da crise]. Pelo contrário, estamos produzindo mais enquanto a situação está boa", disse Klein, na abertura da 6ª edição da Super Casas Bahia, em São Paulo, em relação à qual também está otimista, embora espere o mesmo faturamento da edição do ano passado, de R$ 80 milhões.
No setor de alimentação e fast-food também aparecem novas opções de itens de menor valor agregado, como pratos e sanduíches mais baratos. A alteração ainda é apontada por especialistas em varejo, como pelo professor Ricardo Pastore do Núcleo de Estudos do Varejo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), que afirma que no exterior isso já está ocorrendo.
"As varejistas têm mudado a comunicação, dado enfoque à economia e a barganhas, além de rapidamente fazerem trocas por produtos mais baratos e marcas próprias", disse ele.
Com a mesma opinião está Patrícia Vance, professora do Programa de Administração do Varejo (Provar) da Fundação Instituto de Administração (FIA): "Na categoria de eletrônicos, principalmente nos produtos que têm componentes importados, há influência do câmbio e das inovações tecnológicas, e as pessoas podem fazer substituições".
A rede de franquias brasileira de fast-food Giraffas, que já é a quarta maior do Brasil, com 270 unidades, trouxe novidades no seu cardápio que incluem refeições mais baratas, como pratos ao preço de R$ 6,90.
Segundo Alexandre Guerra, gerente financeiro da rede, ainda é difícil estimar em quanto eles podem impulsionar as vendas, mas as novas opções podem atrair novos consumidores, como os da classe C, que já teria estimulado o crescimento da rede, além de fidelizar seus clientes que quiserem gastar menos. "Não tivemos grandes diferenças nas margens, e com a crise econômica é uma opção mais barata para agregar consumidores", diz o gerente.
De acordo com o executivo, a rede tem investido em pratos, que representam cerca de 30% das vendas totais, sendo a maior parte das vendas ainda de sanduíches, mas há variação, dependendo da região. Por isso, também criaram novas opções de hambúrgueres, que garantiriam uma boa distribuição nas vendas. A rede também não deverá mudar metas para o ano que vem, beneficiando-se do crescimento esperado no setor de franquias.
Neste ano, a empresa abriu 50 lojas e no ano que vem, espera inaugurar de 50 a 70 unidades. A rede deve fechar 2008 com um crescimento de 26% e faturamento de R$ 345 milhões, que é até acima do esperado, que era de R$ 340 milhões, projetando alta semelhante em 2009.
Impactos
O setor de franquias é um dos que devem até crescer com a crise, de acordo com especialistas e com uma pesquisa realizada pela ESPM, em parceria com o Grupo Cherto e a Advance sobre os impactos da crise nas empresas.
De acordo com Marcelo Cherto, presidente do Grupo Cherto, investir em uma franquia pode ser a opção para executivos de grandes empresas que desejarem ter garantias e temem ficar desempregados. Ele afirma que já houve um crescimento significativo na procura pelo segmento desde o final de setembro, sendo as áreas de educação e alimentação as que se destacam mais.
A pesquisa também detectou que os pequenos empresários, com faturamento até R$ 10 milhões, e as empresas nacionais temem menos a crise e podem ter crescimento diante de grandes empresas que são multinacionais e param investimentos em todo o mundo. 27% dos executivos entrevistados em novembro, por exemplo, acreditam que ganharão alguns clientes, que normalmente comprariam de empresas maiores, 18% devem aproveitar para analisar, trocar ou eliminar alguns produtos ou serviços que já desejavam e 14% vêem redução da concorrência internacional.
Apesar de já pensarem em saídas e verem vantagens, há a percepção de que a crise é grave e 20% acreditam que devem faturar menos este ano do que em 2007. 66% acreditavam que cresceriam de 10% a 49% sem a crise este ano, percentual que já caiu para 39% com as turbulências.
Os setores que vêem maior impacto são o automotivo, com redução de crescimento de 18,30% já este ano, seguido pelo de serviços financeiros, 17,33%, e de seguros, 16,88%. Os que estão mais otimistas são o de restaurantes e fast-food, com impacto de 1,67% este ano, o de saúde e bem-estar, com 2,86%, e o de mídia e comunicação, com 5,31%.
Veículo: DCI