Nesta época do ano, as transportadoras negociam prazos mais extensos para entrega das encomendas
As chuvas típicas de fim de ano provocam, tradicionalmente, prejuízos às transportadoras, sobretudo no terceiro trimestre, quando elas se tornam mais intensas e freqüentes. Em decorrência de fatores como maior número de acidentes nas estradas, congestionamento e interrupção de rodovias, o faturamento no período costuma registrar retração, que varia de 5% a 15%. A fim de minimizar perdas, as empresas seguem à risca um planejamento, que inclui, entre outras ações, a conscientização dos motoristas, monitoramento das rotas e negociação de prazos mais extensos para entrega das encomendas.
A Transpes, especializada em transportes de equipamentos para manutenção e construção de novos negócios, com sede em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), reclama de dois principais problemas provocados pelas chuvas: maior número de acidentes e piora na condição das rodovias, sobretudo das estaduais, e falta de escolta da Polícia Rodoviária Estadual e Polícia Rodoviária Federal, obrigatória para o transporte do tipo de carga com a qual a empresa trabalha.
A fim de evitar estradas mais perigosas, a empresa dá preferência a rotas alternativas, mesmo que isso resulte em viagem mais demorada. No entanto, driblar a falta de escoltas representa um desafio ainda maior. "Neste período, nossa carga, muitas vezes, fica parada por falta de escolta e não há muito que fazer, pois como se trata de uma exigência legal, não podemos deixar de cumprir", afirma o diretor de Operações da Transpes, Mário Lincoln Costa.
Além disso, a Transpes reforça, junto aos motoristas, a necessidade de uma direção mais defensiva neste período. Mesmo assim, todas as ações não impedem que a produtividade, ao longo do período chuvoso, registre queda de até 15%. Contudo, Costa estima que, se não fosse pela adoção das medidas preventivas, a retração poderia dobrar, chegando até a extrapolar os 30%.
Estratégia - A Ventana Serra do Brasil, sediada na região da Savassi, na capital mineira, recorre a estratégias para evitar que o faturamento registre variação negativa superior aos habituais 5% durante o período chuvoso. De acordo com o gerente de Operações Adriano Morais, antes do volume de água aumentar, a empresa realiza reuniões periódicas com os motoristas para alertar sobre os perigos e a importância de se respeitar os limites de velocidade.
Antes das chuvas chegarem, a transportadora também realiza uma minuciosa revisão mecânica de toda a sua frota. "Temos que tomar todas as precauções, pois como nossas entregas se concentram no Rio de Janeiro e em São Paulo somos obrigados a seguir sempre a mesma rota. O prazo de entrega que estipulamos já inclui atraso, o que elimina a necessidade de negociar prazos maiores junto ao cliente", explica.
Já a Transportes Martins, no bairro Alípio de Melo (região Noroeste), além de planejar as entregas com mais antecedência e instruir os caminhoneiros, evita chegar aos grandes centros em horários de pico, especialmente no período chuvoso, para não provocar atrasos ainda maiores na entrega das encomendas. "Isso exige adaptação não apenas dos motoristas, mas de vários setores da empresa, como carregamento e toda a logística", informa o gerente Operacional Pedro Wagner da Silva. Algumas rotas, como para o Espírito Santo, também são alteradas, para evitar a BR-381, onde são registrados altos índices de acidentes.
A transportadora, que também costuma registrar queda de 5% na rentabilidade no período, ainda evita deixar mercadorias espalhadas pelo pátio. "A parte coberta, onde ficam as mercadorias, era muito pequena, e, nos últimos anos, ampliamos a área. Mesmo assim, para evitar que elas sejam danificadas pela água, optamos por armazená-las dentro das carretas, uma vez que nosso galpão costuma alagar quando chove", justifica Silva.
A Unicarga, com sede em Contagem (RMBH), afirma que segue o mesmo planejamento com rigor há dez anos e, com isso, nunca registrou prejuízo expressivo. "A chuva já é esperada, então, para evitar problemas, verificamos a mecânica de todos os veículos e estendemos o prazo de entrega. Viagens normalmente feitas em 10 horas, passam a ser cumpridas em 12 horas", argumenta a gerente Monique Alves.
Federação - A Federação das Empresas de Transporte do Estado de Minas Gerais (Fetcemg) também faz a sua parte, a fim de evitar que as transportadoras registrem prejuízos exorbitantes no período. "Como tudo é muito previsível, nossa estratégia consiste em traçar ações preventivas. Entre elas, estão palestras com os motoristas e alerta para a manutenção mecânica dos veículos, até mesmo para evitar vazamentos, no caso dos líqüidos, e acúmulo de prejuízo com a perda de cargas", declara o presidente Vander Francisco Costa.
Veículo: Diário do Comércio - MG