"Este é o Natal da (TV de) LCD", sentencia um vendedor da maior loja do Ponto Frio no Rio, na zona oeste. A loja é uma enorme vitrine de aparelhos de LCD e de plasma, as duas tecnologias mais modernas do mercado. Wagner Othon e Juliana Alvarenga, analistas de telecomunicações da Vivo, entram na loja, olham, conferem, pesquisam. Procuram uma LCD de 32 polegadas, da marca LG, que viram na Super Casas Bahia, a megaloja da varejista paulista instalada no Riocentro, em Jacarepaguá, a 10 km dali. Lá, o preço era de R$ 1.599 em dez vezes sem juros. O vendedor do Ponto Frio diz que dá desconto de 10% sobre o preço do concorrente, e em dez vezes, sem juros.
A compra não se concretiza naquele momento. "Agora vamos conversar para ver se precisamos comprar mesmo ou se é apenas um impulso", pondera Othon. Ele diz que se a decisão for comprar, o casal não vai hesitar por causa da crise. "Sempre tivemos o hábito de poupar. Então, se decidirmos comprar, faremos sem preocupação com a crise", afirmou.
No feirão Super Casas Bahia, que ocupa um pavilhão de 22,8 mil metros quadrados do Riocentro, as TVs de LCD e de plasma são os objetos de desejo da maioria dos consumidores que passam por lá. O estoque das TVs para a versão carioca da feira da rede paulista acabou no primeiro fim de semana e precisou ser reabastecido. O empresário Bruno Marques comprou uma de plasma de 42 polegadas da Panasonic por R$ 1.999, divididos em dez vezes sem juros. "Já queria comprar há muito tempo e o preço caiu muito. No ano passado, a TV custava o dobro. Até podia esperar por uma promoção após o Natal, mas tenho medo que acabe", disse o empresário, que trabalha com um grupo de revendedoras porta a porta de uma marca de cosméticos populares. Marques não vê crise econômica nenhuma no horizonte. "Eu vendo para pobre, que continua comprando. Não estou vendo crise em nada", afirmou.
No feirão da Casas Bahia, o ritmo de vendas natalinas parece não ter sido afetado pela perspectiva de desaceleração econômica no país. Neste fim de semana, 21 mil pessoas passaram por lá, atraídas também pela programação infantil, com espetáculos da Disney e recreação. As metas de vendas têm sido atingidas, embora a rede não revele os valores envolvidos.
O casal Adriana Lopes e Marcelo Degli, empresários do ramo da construção civil, compraram geladeira, fogão e microondas para a nova casa de praia. Pagaram os cerca de R$ 7 mil em dez vezes sem juros. Degli não estava preocupado com os possíveis efeitos da crise global no país. "Estão exagerando quando falam apenas da parte negativa da crise, mas a economia está forte. A crise não chegou", disse o empresário, que diz temer, entretanto, que o clima de menor confiança atrapalhe o bom momento do setor onde tem seus negócios.
Os computadores e laptops continuam a fazer parte da lista de Natal da Super Casas Bahia, onde o estoque dos modelos mais em conta já acabaram, como o notebook ou desktop da marca Positivo, vendidos a R$ 1.499.
Sem revelar a condição de jornalista, a reportagem do Valor apurou que o esquema de "espionagem" do Ponto Frio na Super Casas Bahia, implementado por seu presidente, Manoel Amorim, está funcionando da seguinte maneira: o cliente chega a uma das dez lojas do Ponto Frio nos bairros próximos ao Riocentro. Se ele tiver levado uma comprovação do preço da Super Casas Bahia, como recomendado nos anúncios da rede carioca, o desconto é negociado imediatamente sobre aquele comprovante. O contra-ataque do Ponto Frio, que usou o slogan "Rio é do Ponto Frio", surgiu logo depois do anúncio da primeira edição da Super Casas Bahia na cidade.
Caso o cliente apenas diga o preço que pesquisou, a gerência da loja aciona um dos 30 "espiões" que estão espalhados pela área da exposição das Casas Bahia para checar a informação. No caso de confirmação, o desconto é negociado. Durante o período de pouco mais de uma hora que a reportagem ficou na loja, praticamente só entraram clientes interessados em TVs de LCD. Quando a reportagem se identificou, os funcionários não quiseram dar entrevista.
O Barra Shopping tem duas lojas do Ponto Frio. A 5 quilômetros dali, no Via Parque Shopping, funciona outra megaloja, de dois andares. Lá, um vendedor comemorava a venda de uma TV de LCD, da marca Sony, que acabava de vender por R$ 5.499, a prazo. Fora das promoções motivadas pela disputa direta com a concorrência, os preços do Ponto Frio podem não ser tão atrativos, especialmente se a compra for a prazo.
Uma TV Sony de 40 polegadas, modelo Bravia, sai por R$ 6.299,99 à vista. A prazo, no cartão da loja, o plano sugerido nos cartazes é de 14 vezes de R$ 629,99 sem entrada, com juros de 4,5% ao mês. O valor do negócio salta para R$ 8.819,86. No mesmo plano, um aparelho de 42 polegadas da LG, menos sofisticado do que o da Sony, sai por R$ 2.399,99 à vista ou em 14 vezes de R$ 239,99 (R$ 3.359,86).
Veículo: Valor Econômico