Depois de sete meses consecutivos de alta nas vendas do comércio, outubro apresentou queda de 0,3% em seu volume de vendas ante a setembro, apontou a Pesquisa Mensal de Comércio apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No caso das vendas nominais, a variação foi positiva, mas mínima: 0,1% sobre setembro.
Para o economista Reinaldo Pereira, gerente da pesquisa, o índice frustrou as expectativas da equipe. "Ainda que esses resultados tenham ajustes sazonais, isto é, não considerem o efeito das vendas de Natal, esperávamos uma variação positiva também em outubro, devido ao ritmo da economia dos últimos meses", admitiu o técnico. A variação negativa ganha maior relevância ante o fato de que em setembro o volume de vendas havia crescido 1,2% sobre o mês anterior.
Chama a atenção o resultado do volume de vendas do comércio varejista ampliado - que inclui as atividades de veículos, motos, partes e peças, assim como materiais de construção. O grupo de veículos registrou queda expressiva de 19% no mês "Esta é uma atividade que depende muito de crédito, e ele se mostrou muito escasso de repente", lembra o gerente. Para Pereira, esse é o primeiro sinal que tem "100% a ver com a crise financeira internacional". Segundo ele, o crédito para veículos, que era oferecido em até 72 meses, foi restrito a 60. "Em muitos lugares, adotou-se a prática da exigência de uma entrada maior, de até 50% do valor do veículo", comentou.
Pereira avalia, ainda, que o próprio consumidor, ante a mudança no cenário econômico, tenha ficado mais reticente às compras de maior valor.
Outro segmento que também foi mal em outubro em relação a setembro é o de tecidos, vestuário e calçados, com uma retração de 4,4%. A principal alta no mês ficou por conta da categoria de livros, jornais, revistas e papelaria, com uma alta de 3,8%. Também registrou aumento o grupo equipamentos e material para escritório, informática e comunicação, com variação positiva de 1,4%.
Olhando em perspectiva, contudo, comparando-se outubro com o mesmo mês em 2007, "esse foi o melhor mês da série", frisou o economista. Houve um aumento de 10,1% em volume sobre o mesmo período do ano passado e de 10,4% no acumulado do ano (janeiro a outubro) sobre o mesmo intervalo de 2007. Em todas as atividades de varejo houve alta no volume de vendas entre outubro de 2008 e 2007. Entre as categorias de maior importância no resultado global, hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo cresceram 7,4%; móveis e eletrodomésticos, 15,8%; e outros artigos de uso pessoal e doméstico, 13,9%.
Pereira furtou-se a fazer previsões para os próximos meses. "O cenário está muito nebuloso", explicou. "A queda de 0,3% no volume pode ser o início de uma inflexão, com queda nos volumes de vendas ou não. Afinal, o governo tomou uma série de medidas que poderão ter impacto nos próximos meses, como o financiamento de bens duráveis, por meio do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, o financiamento de imóveis para o funcionário público, a redução do Imposto de Renda, a isenção do IPI para carros 1.0 e a diminuição do imposto para as demais categorias podem ter impacto imediato sobre o varejo", enumerou.
Veículo: Gazeta Mercantil