Cresce no mercado a prática de contratação de serviços de recolocação profissional para funcionários desligados
Pode parecer cruel, mas o fato de os contratos de trabalho no Brasil serem firmados por "prazo indeterminado" significa que uma das partes - patrão ou empregado - poderá simplesmente decidir que é hora de pôr um ponto final na relação. Embora a possibilidade da demissão deva sempre estar no horizonte do funcionário, especialistas em recursos humanos dizem que um pouco de solidariedade na hora do desligamento pode ajudar - e muito - a reputação de uma empresa.
A diretora de RH da fabricante de máquinas Agco para a América do Sul, Sheila Fonseca, é uma das defensoras da prática chamada no mercado de "demissão responsável". Segundo ela, a preparação para um desligamento tem dois passos. O primeiro é um cuidadoso processo de feedback, em que o funcionário é alertado de forma clara de possíveis pontos negativos. "Sem isso, a tendência é que a pessoa procure uma série de justificativas para jogar a culpa nos outros", diz.
A outra medida para amenizar o impacto de uma demissão precisa ser tomada no momento do desligamento. É aí que entram em campo os programas de recolocação profissional oferecidos pela empresa ao funcionário que está sendo dispensado. "Isso é especialmente importante para funcionários que tenham um nível menor de empregabilidade. É uma questão de responsabilidade amparar essas pessoas a buscar um novo rumo de carreira", diz Sheila.
A executiva sabe, por experiência própria, que uma demissão mal feita pode deixar marcas. Por 20 anos, Sheila trabalhou na fabricante de pneus Pirelli - até receber a notícia do desligamento, em 2006. "Foi surpreendente, pois estava no meu ano de melhor resultado", lembra a executiva. "Apesar de ter sido uma decisão do diretor mundial de RH de mudar toda a equipe, foi difícil digerir a saída de uma empresa onde eu, até então, havia feito toda a minha carreira", lembra.
Uma companhia pode tomar precauções para evitar deixar um rastro de demissões traumáticas - e, com isso, proteger a reputação de sua marca. De acordo com Rafael Souto, presidente da consultoria em recursos humanos Produtive, é possível planejar todo o processo de desligamento, começando pelo treinamento prévio das pessoas que darão a notícia aos funcionários. "Quando há um programa organizado de apoio, o líder encaminha a pessoa diretamente para a consultoria e as primeiras informações sobre a orientação profissional já são repassadas", conta o especialista. Souto diz que os projetos de recolocação patrocinados pelo ex-empregador precisam durar de quatro a seis meses. Esse é o prazo médio necessário para uma recolocação benfeita de um funcionário de nível gerencial ou de diretoria.
Queixa. Na hora da saída, a maioria das pessoas não reclama da demissão em si, mas do tratamento que recebem no "Dia D", afirma Souto. Por isso, alguns cuidados sem relação com a questão financeira também devem ser tomados. "Muitas vezes, a pessoa mal pode acessar o computador para salvar contatos e arquivos. É o tipo de ação desnecessária."
Pensar em uma estratégia para demissões também pode evitar também despesas extras para a companhia. "Eu já vi casos de a pessoa chegar a ser demitida e só depois a empresa descobrir que o funcionário em questão tinha estabilidade, por causa de relações sindicais ou projetos de segurança do trabalho", exemplifica o especialista.
Veículo: O Estado de S.Paulo