Com operação direta no Brasil desde 2006, a taiwanesa BenQ decidiu reforçar seus laços com o país. Em novembro, a companhia deu início à fabricação local de projetores 3D. Usados em segmentos como educação e entretenimento residencial, os equipamentos são o carro-chefe do portfólio da empresa, que inclui monitores, câmeras digitais e filmadoras.
Os projetores estão sendo produzidos em Manaus, por meio de um contrato de manufatura terceirizada com a americana Diebold, fornecedora de equipamentos, software e serviços de automação. Os termos financeiros do acordo não foram revelados.
Esse é o primeiro investimento de fabricação da BenQ fora da China, onde concentra suas atividades de manufatura. "A operação brasileira foi a que mais cresceu nos últimos dois anos, puxada especialmente pelos projetores. Essa expansão chamou a atenção da matriz", afirmou Marcelo Café, diretor comercial e principal executivo da BenQ no Brasil.
O projeto marca também a primeira incursão da Diebold no segmento de produção para terceiros. A parceria começou a ser desenhada no fim de 2010, quando a Diebold venceu um pregão eletrônico do Ministério da Educação (MEC). O edital de R$ 146,9 milhões previa o fornecimento de até 100 mil projetores multimídia para escolas da rede pública. A oferta vencedora da Diebold incluía a montagem local de projetores da BenQ. Os equipamento integravam também recursos como teclado, mouse e antena para conexão sem fio.
Para atender ao projeto do MEC, a Diebold investiu na época cerca de US$ 500 mil em uma nova linha de produção em sua fábrica de Manaus. Aproximadamente 60 mil projetores foram comprados pelo MEC em dois anos. Com o término do contrato, no fim de 2012, a Diebold começou a avaliar alternativas para que a linha não ficasse ociosa.
A procura da Diebold coincidiu com a decisão da BenQ de fabricar os equipamentos no país. Com a experiência adquirida pela Diebold no projeto do MEC, a empresa americana foi escolhida como parceira para a produção local. A negociação envolveu uma série de testes e visitas de profissionais da BenQ às instalações da Diebold em Manaus. "O acordo é interessante para as duas partes. Para a Diebold, é uma maneira de diluir nosso custo fixo de fábrica", disse Antônio Galvão Cardoso Cintra, vice-presidente de operações da Diebold.
Sob a ótica da BenQ, um dos benefícios da produção local é acelerar a entrega dos projetores no mercado brasileiro. Até então, esse processo dependia de fatores como estoque e aprovações da matriz. Outro aspecto positivo é a possibilidade de reduzir os impactos dos projetores trazidos ilegalmente ao país, o chamado mercado cinza. Segundo Café, esse segmento detém cerca de 30% do mercado total de projetores no país.
O executivo não prevê a redução de preços nos equipamentos fabricados no Brasil em curto prazo. Inicialmente, a produção local envolve dois modelos de entrada, com preços que variam de R$ 1.599 a R$ 1.899. Esses modelos respondem por 80% das vendas de projetores da BenQ no país. Com capacidade mensal de fabricação de 6 mil projetores, a linha opera com uma produção de 3 mil equipamentos por mês. A ideia é dobrar esse volume a cada trimestre.
Sob a perspectiva de interação dos alunos com conteúdos digitais, o setor de educação é o mercado de maior potencial para os projetores no Brasil, na avaliação de Café. Atualmente, essa vertente representa 50% das vendas desses equipamentos da BenQ no país. "A demanda de escolas públicas e privadas aumentou muito nos últimos dois anos. Por outro lado, apenas 5% das salas de aula estão equipadas com projetores no país", disse. Em segundo plano, de acordo com o executivo, está a demanda crescente de consumidores residenciais e empresas.
No mercado mundial de projetores, a BenQ ocupa a segunda posição, de acordo com a consultoria britânica Future Source Consulting. Atrás da japonesa Epson, a companhia detém 12% de participação no segmento.
Empresa de capital fechado, a BenQ não divulga seus resultados financeiros globais e locais. Café revela apenas que a operação brasileira teve um crescimento de receita de 60% em 2011, e de 20% no ano passado. Para 2013, a expectativa é manter o ritmo de expansão de 2012.
A produção local de outros modelos de projetores 3D já está prevista para 2014, como parte das estratégias de crescimento no Brasil, disse Café. Na mesma direção, a companhia avalia a possibilidade de fabricar no país outros produtos, como monitores para computadores e games.
Veículo: Valor Econômico