Aumento em relação a janeiro foi de 2,21%. Farinha subiu 12,7% em apenas dois meses
Em apenas dois meses a cesta básica paraense sofreu uma alta de 5,57%, valor muito acima da inflação do mesmo período, que não ultrapassou 1,50%. O aumento desenfreado no início de 2013 foi “puxado”, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese-PA), pela elevação dos preços de três produtos em especial: café, tomate e, principalmente, a farinha. Belém faz parte de uma realidade nacional; das 18 capitais pesquisadas, apenas três tiveram recuo no custo da alimentação referente ao mês de fevereiro. Apesar de compreender apenas produtos básicos, a cesta paraense, que custou R$ 286,70 em fevereiro, ainda está distante do que é necessário para uma família média - dois adultos e duas crianças. Segundo o Dieese, para suprir um grupo familiar de quatro indivíduos, o mínimo a ser gasto mensalmente chega a R$ 860,10.
A estimativa do Dieese, que avaliou os preços do mês de fevereiro, foi publicada ontem. Só no último mês, o aumento da cesta básica foi de 2,21% em relação a janeiro, que já acumulava a primeira alta do ano. No primeiro mês do ano, o reajuste da cesta básica havia sido de 3,29%, o que perfaz um crescimento médio de 5,57% nos dois primeiros meses. Um valor muito acima da inflação oficial dos dois primeiros meses, de apenas 1,50%. Segundo o Balanço Nacional da Cesta Básica, feito pelo Dieese, não houve um ou dois vilões no mês de fevereiro: a maioria dos produtos teve um aumento de preços. O destaque, porém, ficou com a farinha de mandioca, com alta de 12,71%, tomate (10,38%) e café (1,23%).
Dos 12 itens que compõem a cesta aferida pelo departamento, apenas quatro tiveram recuo nos preços: arroz, que caiu 3,52%, feijão (1,37%), carne (0,50%) e óleo (0,26%), mas as baixas não foram suficientes para manter o preço médio da cesta paraense. O preço apontado no Pará (R$ 286,70) compromete cerca de 46% do salário mínimo (R$ 678).
CONTEXTO
A alta de preços dos alimentos apresenta suas peculiaridades no Pará. Pelo menos três fatores causam o aumento, segundo avaliação do economista Nélio Bordalo, membro do Conselho Regional de Economia (Corecon-PA). O primeiro é a entressafra de alguns dos produtos, o que impacta as elevações em todo o Brasil. Em menor escala, diz o economista, estão os aumentos do pescado no Pará, já que este é o período do defeso de várias espécies. Além disso, o descompasso entre demanda e oferta em razão da Semana Santa catalisa a inflação geral dos alimentos. É que boa parte do pescado paraense sai do Estado nesse período, o que motiva inclusive medidas estatais para barrar a exportação do produto.
Para Bordalo, há um aspecto que se sobressai. O Pará ainda importa pelo menos 70% dos produtos hortigranjeiros, que na maioria das vezes chegam pela malha rodoviária. “O custo logístico contribui de 10% a 15% no preço do produto. Isso causa um impacto”, explicou o economista. Ele ainda lembra que, com o aumento do preço do óleo diesel, os reajustes dos alimentos podem se repetir nos próximos meses. Um ciclo que contribuirá para a elevação da inflação, na opinião do conselheiro do Corecon. “O preço dos alimentos está no cálculo da inflação, junto de habitação, transporte e outros. Isso vai impactar na medição do INPC [Índice Nacional de Preços ao Consumidor]”.
Veículo: O Liberal - PA