Seis anos e três meses após o início da vigência da Lei Cidade Limpa, coube a uma marca de cerveja abrir caminho para a volta da publicidade nas ruas de São Paulo.
Desde a última segunda-feira, cartazes da Brahma, uma das marcas da Ambev, surgem instalados pela cidade ao lado dos novos abrigos em pontos de ônibus.
A empresa escolheu algumas das regiões consideradas mais nobres da capital -Itaim Bibi, Jardim Paulista e Perdizes, todas na zona oeste, e Moema, na zona sul- para "reinaugurar" a propaganda no mobiliário urbano, embora já existam novos abrigos também em áreas tidas como menos nobres -Cambuci, Santa Cecília e Liberdade, todas na região central de São Paulo, por exemplo.
Ao todo, a empresa Otima, responsável pelos espaços, prevê instalar 6.500 novos abrigos na cidade até 2015, sendo 1.400 só neste ano -até agora, 97 estão prontos ou em processo de instalação.
A Otima -novo nome do consórcio Pra SP, formado por Odebrecht, Rede Bandeirantes, Kalitera Engenharia e APMR- vai gastar cerca de R$ 300 milhões para instalar os abrigos, pagando R$ 167 milhões à prefeitura pelo direito de explorar a publicidade nos espaços por 25 anos.
Nesse período, o que for arrecadado com os anúncios publicitários é do consórcio.
Também haverá propaganda nos relógios de rua. Serão mil ao todo na cidade, sob controle do grupo formado pela francesa JCDecaux e a brasileira Publicrono. Os novos relógios começam a chegar às ruas no mês que vem.
A arquiteta Regina Monteiro, uma das pessoas que ajudaram a criar da Lei Cidade Limpa, que entrou em vigor em janeiro de 2007, disse que a publicidade no mobiliário urbano estava prevista desde que a propaganda foi abolida, mas a falta de critérios pode prejudicar a cidade.
Até dezembro, Regina Monteiro era responsável pelo setor de proteção da paisagem urbana da prefeitura,
"A ideia era espalhar a mídia exterior pela cidade para não saturar a paisagem com publicidade. Tenho medo de que as pessoas entendam isso [a volta da propaganda] como jurisprudência", afirmou.
O corpo técnico que julgaria os espaços publicitários a serem explorados foi desfeito pela atual gestão e a diretoria de paisagem urbana da SP Urbanismo, extinta.
Sem critérios técnicos, diz Regina, pode ocorrer uma disputa pela paisagem urbana, se a marca no mobiliário ofuscar a publicidade permitida nas fachadas de prédios.
Veículo: Folha de S.Paulo