A Votorantim Celulose e Papel (VCP) transformou-se na primeira companhia de capital aberto a revelar o tamanho do impacto financeiro resultante da alta instabilidade do câmbio durante este quarto trimestre de 2008 - e o número não é nada animador.
A empresa, controlada pela família Ermírio de Moraes, disse esperar que o resultado financeiro dos últimos três meses deste ano deverá ficar em R$ 800 milhões negativo. A maior parte do resultado - R$ 525 milhões - é fruto da variação do câmbio na parcela da dívida denominada em dólares da companhia. No quarto trimestre até sexta-feira, o real teve uma desvalorização de quase 20% frente ao dólar, fechando a moeda americana a R$ 2,38.
A VCP lembrou, contudo, que o impacto do resultado financeiro negativo não tem efeito imediato sobre o desembolso de caixa da companhia. "Reafirmamos que a volatilidade do mercado nos últimos meses não alterou a capacidade da VCP de refinanciar suas dívidas e obter financiamentos anteriormente compromissados", disse a empresa, em comunicado divulgado na sexta-feira com estimativas para analistas sobre seu balanço financeiro do quarto trimestre.
A empresa do grupo Votorantim, que negocia a aquisição do controle majoritário da Aracruz Celulose, companhia que teve perdas de US$ 2,1 bilhões com derivativos alavancados, fez questão de enfatizar que suas operações financeiras com esses instrumentos têm um "valor conservador e em linha com a política interna." Do resultado financeiro negativo do quatro trimestre, cerca de R$ 200 milhões referem-se à exposição da empresa com instrumentos derivativos, a valor de mercado.
Na sexta-feira, a VCP informou que tinha US$ 264 milhões em contratos de venda futura de dólares - um valor considerando uma alavancagem de duas vezes e outros US$ 18 milhões em contratos derivativos não-alavancados.
A empresa afirmou que fez uma reorganização para ajustar a companhia à nova realidade de desaquecimento da economia - três diretores, por exemplo, saíram da VCP, dos quais apenas um foi substituído. Essas mudanças na administração trouxeram aumento das despesas administrativas, com cerca de R$ 10 milhões a mais em gastos. "Esse valor não é recorrente e nos próximos trimestres os resultados positivos da reestruturação já devem ser notados", disse a VCP.
A companhia projetou que sua margem, medida pelo lucro antes dos impostos, juros, depreciação e amortização (lajida), deve ficar ao redor de 30% no quarto trimestre.
Veículo: Valor Econômico