Boa parte dos fabricantes de móveis estão mantendo suas programações de compra de insumos como chapa de madeira, acessórios, aços e plástico para o primeiro trimestre do próximo ano. O varejo costuma fazer suas compras em outubro já para atender a demanda de final de ano e o estoque restante entra nas fase de promoção. Este ano, a crise internacional mudou a prática. O comércio reteve os pedidos e somente no começo de dezembro chamou a fabricas para negociar, disse o gerente comercial da Colibri Móveis do Brasil, Valmir Vasconcellos. "Já virou costume as promoções no período seguinte ao das festas de fim de ano."
A Marelli, fabricante de móveis para escritório, de Caxias do Sul (RS) está com a carteira de pedidos tomada para janeiro e um pedaço de fevereiro e não há dados concretos, ainda, que indiquem que as vendas irão baixar nos primeiros três meses do próximo ano. O que pode impactar é o preço - mas não para cima, como, apressadamente, se poderia imaginar. O presidente da Marelli, Rudimar Borelli disse que, com o crescimento da demanda, o preço de diversas matérias-primas e insumos subiu bem acima do normal. "Com a diminuição da demanda a tendência é a redução significativa dos preços e isso certamente será repassado para o produto", afirmou o empresário.
"Muitos insumos e matérias-primas tiveram aumentos desproporcionais ", informou o presidente da Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário (Abimóvel), José Luiz Diaz Fernandez. Ao longo de 2008, o reajuste médio das chapas de madeira ficou em torno de 10%. Agora é torcer para que o rumor em torno de uma nova rodada de reajustes não ocorra nos próximos 90 dias.
"Podemos ter boas surpresas no começo de 2009", prevê Marcelo Prado, diretor do Instituto de Estudos e Marketing Industrial (Iemi), que pesquisa o setor, ao avaliar o impacto da crise mundial. As fabricantes, principalmente as pequenas empresas, reconhecem o momento de incerteza. Diversas indústrias do pólo de Votuporanga e de Mirassol, no interior de São Paulo, têm enfrentado ultimamente sérias dificuldades. Com a necessidade de fazer produtos cada vez mais baratos as taxas de rentabilidade reduziram.
O setor fechará este ano com produção de 365 milhões de peças de madeira e faturamento de R$ 20,3 bilhões, 8% de crescimento sobre 2007, estimados pelos dirigentes. Confirmado o percentual, a taxa será igual a registrada de 2006 para 2007
O prognóstico feito no terceiro trimestre pelo Iemi apontava alta de 10,1% para 2008. "De fato, a previsão era esta até a chegada da crise financeira. Revisamos para algo entre 8,2% e 8,4%, mas apesar disso, o ano foi muito positivo, porque o abalo veio no último trimestre", disse a presidente da Associação das Indústrias de Móveis do Rio Grande do Sul (Movergs), Maristela Longhi.
Cautelosa, a empresária comenta que o real impacto para os moveleiros será conhecido em fevereiro. Passadas as festas de fim de ano, ela acredita que o varejo fará a reposição dos estoques sem nenhum obstáculo. "A exceção das empresas que trabalham com planejados e modulados, o restante do setor já está acostumado a trabalhar com estoques reguladores", disse. O presidente da Marelli também é cuidadoso ao falar de 2009. "A dúvida é saber se o fôlego de 2008 continuará", afirmou. " Tomara que não tenhamos mais sustos", comenta Vasconcellos, da Colibri Móveis.
No quesito investimento a avaliação preliminar é de que haverá uma puxada de freio comparativamente ao ritmo registrado nos últimos anos. O montante provável ficará na casa de R$ 500 milhões. Neste ano, o consolidado atingirá R$ 630 milhões. É comum indústrias fazerem encomendas de máquinas com seis meses de antecedência.
Mesmo não dispondo de dados confiáveis em relação à tendência do mercado corporativo para 2009, a Marelli já tem previsto investir R$ 5 milhões, provavelmente, na ampliação da fábrica. Nos últimos dois anos, aplicou cerca de R$ 10 milhões na compra de maquinário e processos de produção. Resultado: encerrará 2008 com faturamento de R$ 90 milhões, 12% superior ao obtido em 2007.
Veículo: Gazeta Mercantil