No Brasil, a moda do café em doses individuais começou há pouco mais de uma década, com sachês de filtro de papel. As cápsulas de alumínio, lançadas pela Nestlé, com marca Nespresso, vieram depois. Hoje, mais do que moda, elas estão se tornando hábito entre consumidores e atraem empresas como a holandesa Master Blenders (ex- Sara Lee) e as brasileiras Café Utam e Lucca Cafés.
A Master Blenders e a Café Utam começaram a importar e vender cápsulas neste ano no Brasil, mais baratas do que as da Nestlé. A Lucca, de Curitiba, inicia a produção em maio.
Com investimento de R$ 1,2 milhão no ano, a Café Utam, de Ribeirão Preto (SP), firmou parceria com a portuguesa Kaffa Caffè. Vai importar com exclusividade 4 milhões de cápsulas de café até o fim de 2013. As cápsulas, lançadas em março no mercado e vendidas em São Paulo e Minas Gerais, são compatíveis com as máquinas Nespresso e custam entre 10% e 20% menos do que as da grife divulgada pelo ator George Clooney. Em julho, a Utam vai lançar sua própria máquina, a Utam Uno.
"Apesar das cápsulas serem compatíveis com Nespresso, priorizamos cápsulas produzidas com grãos selecionados em diversos países, para formação de 'blendings' exclusivos de alta qualidade, de forma a evitar que o produto fosse comercializado como um genérico do mercado", diz a diretora presidente da Utam, Ana Carolina Soares de Carvalho.
O que atrai a Utam para o negócio é um mercado novo e com perspectivas de crescimento. Em 2011, segundo pesquisa da Kantar Worldpanel, havia 450 mil máquinas de café espresso - incluindo cápsulas, sachês e grãos - para consumo doméstico no país. No ano passado este número alcançou 850 mil máquinas. "O consumidor está mudando o hábito de tomar café atraído por inovação, qualidade e máquinas mais baratas", diz o diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), Nathan Herszkowicz.
Segundo as estimativas do mercado, a maioria das cápsulas que supre o consumo brasileiro vem da Suíça, onde está a sede da Nestlé, dona das marcas Nespresso e Dolce Gusto. Mas é de Portugal que começam a chegar as "cápsulas alternativas", compatíveis também com essas cafeteiras. O movimento teve início na Europa, segundo Herszkowicz, quando há cerca de dois anos, coincidindo com a quebra de algumas patentes da Nespresso, países como Alemanha e França começaram a comprar cápsulas portuguesas mais baratas.
A Lucca Cafés torra e comercializa 20 tipos de cafés brasileiros considerados especiais pelo tipo de cultivo e a preparo em pequena escala e principalmente por sua certificação de origem. Há um ano, vendo que perdia clientes que migravam para a comodidade das máquinas de café espresso com cápsulas para consumo em casa, o empresário Luiz Otávio de Souza decidiu fazer suas próprias cápsulas. Passou a importar as embalagens de um fornecedor na França que eram preenchidas manualmente por seus funcionários com cafés especiais brasileiros.
"A qualidade ficava a desejar porque a cápsula era frágil e a dosagem imprecisa, o que dava diferença no sabor", diz Souza. Partiu então para a fabricação própria das cápsulas, em Curitiba. As primeiras, em dez versões de cafés, chegarão ao mercado em maio, com o nome Dom.
Serão produzidas entre 1 milhão e 2 milhões de cápsulas ao mês, compatíveis com as cafeteiras Nespresso a um preço médio de R$ 1,30. A da Nespresso custa a partir de R$ 1,50. "O consumidor vai ter oferta de cafés brasileiros e não vai ficar restrito a um único fornecedor", diz o empresário, que não teme um processo da Nespresso por cópia. "Depois de várias experiências jurídicas, eles [Nestlé] entenderam que o sistema é agora de domínio público".
A multinacional Master Blenders lançou em fevereiro no mercado brasileiro as cápsulas Café do Ponto L'OR, vendidas em 84 cafeterias Café do Ponto e compatíveis com as máquinas Nespresso. O produto também é comercializado com o nome de marcas locais de café em vários países da Europa e na Austrália. Com seis misturas de café diferentes, a cápsula custa R$ 1,49.
Desde setembro, a Delta Cafés, de Portugal, está no Brasil com cápsulas e dois modelos de máquinas de café importadas. Seus produtos são compatíveis entre si e vendidos no site e na loja localizada na cidade de Vitoria (ES) além de algumas redes de varejo.
Para a italiana Lavazza, há 15 anos no país, o foco é o mercado de hotéis, restaurantes e empresas, no qual está presente através de importação. "Importamos as cápsulas da Itália, principalmente para nos possibilitar oferecer uma ampla gama de 'blends' com sabores particulares de outros países produtores como a América Central, África, Índia, Indonésia entre outros", afirma o gerente-geral da Lavazza Brasil, Cesare Noseda.
Veículo: Valor Econômico