No varejo popular de São Paulo e Rio, nada de Copa

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Às 16h do dia 15 de junho, a seleção brasileira vai abrir o primeiro jogo da Copa das Confederações. Será um sábado, contra o Japão, em Brasília. O campeonato será realizado em seis das 12 capitais que vão receber os jogos de 2014. Mas poucos brasileiros estão por dentro do assunto: cerca de 85% ainda não sabem que o país vai receber oito seleções para jogar durante 15 dias, mostra uma pesquisa da consultoria Hello Research.

O desconhecimento sobre a competição se reflete no varejo de rua. Nos principais centros de comércio popular do Rio e de São Paulo nada indica que a seleção está a menos de dois meses de entrar em campo. Não há sequer bandeiras penduradas nas vitrines. Na Saara, centro do Rio, camisas da seleção e bandeiras verde e amarelas são itens discretos no fundo das lojas, com menos destaque que a decoração de festa junina. Na região da 25 de Março, em São Paulo - maior centro de comércio de rua do país -, só se fala nos acessórios da Dona Helô, personagem da atriz Giovanna Antonelli na novela "Salve Jorge", da Rede Globo.

Amabile Rodrigues tem uma banca na rua 25 de Março há 16 anos. Na função de camelô, aprendeu a identificar rápido o que paulistanos e sacoleiras de outras cidades querem no momento. "A moda é a Dona Helô. Na hora que começam a pedir, a gente põe para vender. E se Armarinhos Fernando coloca na vitrine, a gente compra também", diz. A lógica, portanto, é simples: quando Armarinhos Fernando começar a vender artigos de Copa, os camelôs de São Paulo vão apostar também.

Varejista tradicional da 25 de Março, Armarinhos Fernando não tem perspectiva de fazer uma vitrine com o tema Copa das Confederações. O gerente João Amorim, há 20 anos na empresa, diz que a seleção brasileira está "desacreditada, sem jogo convincente". Mas ele também aponta outro fator decisivo sobre o evento: "Acho que falta divulgação. Quase não se fala na Copa das Confederações, só ouvimos em veículo especializado."

Paulo Dortas, diretor da Grant Thornton, conduz estudos sobre os eventos esportivos e identificou um problema junto ao empresariado: o fato das obras não estarem prontas "tira o clima" dos jogos.

Ana Paula Bittencourt, gerente da loja GMB Sports, no centro comercial popular Saara, no Rio, concorda. Para ela, o atraso ameaça a credibilidade da Copa das Confederações: "As pessoas não estão motivadas, os estádios nem estão prontos".

A aposta na Copa das Confederações é tão baixa que não há sequer encomendas para o evento. Claudio Muniz, gerente das Lojas Silmer, no Saara, no Rio, planeja vender os estoques que sobraram da Copa da África do Sul, em 2010. "A gente acha que [este ano] vai ser muito ruim", diz ele.

A situação é a mesma no Shopping Leblon, bairro nobre do Rio, onde o consumo de produtos relacionados à Copa das Confederações não deslanchou. Nas quatro lojas de material esportivo do shopping, a camisa da seleção brasileira e a bola da competição ocupam lugares discretos nas vitrines, quase escondidos. Gerente da Five Sports, Anderson Cardoso não sabe dizer quais seleções vão participar do torneio. Segundo ele, as vendas caíram muito desde o Natal e só devem retomar com o começo do torneio: "A TV influencia muito, principalmente crianças".

Para a Copa do Mundo a expectativa é outra. Os comerciantes esperam que vendas maiores já no segundo semestre deste ano. O gerente do Armarinhos Fernando diz que já há importadores que querem fechar contratos para 2014.

Na Ladeira Porto Geral, rua famosa por roupas de fantasia no centro de São Paulo, a decoração é de festa junina. A loja Porto da Festa fabrica no bairro do Ipiranga, zona sul da capital, 80% do que vende. Lá produz também lembrancinhas para atender encomendas de empresas. E já começaram os pedidos para entrega a partir de julho deste ano. "Estamos fabricando chapéu, cartola, óculos, tudo verde-amarelo", diz a gerente Elidiane Capistrano. Entre os clientes da Porto da Festa estão duas das três maiores redes de supermercados e um dos maiores bancos privados do país, diz Elidiane, que trabalha há 11 anos na empresa.

"Em ano de Copa do Mundo, até o asfalto é verde-amarelo", diz Amorim, da Armarinhos Fernando. "Pena que a moda não pegou na Copa das Confederações no Brasil, o país do futebol."



Veículo: Valor Econômico


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