Boehringer produz no país insumo estratégico

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É em uma fazenda na cidade de Arapongas, no Paraná, que a farmacêutica alemã Boehringer Ingelheim "cultiva" seu faturamento. A duboísia, uma planta exótica de origem australiana, é a base de produção de dois importantes medicamentos da companhia - o tradicional Buscopan, para dores e cólicas, e o Spiriva, para tratamento respiratório e o carro-chefe da companhia, que respondeu no ano passado por vendas globais de € 3,562 bilhões.

"Cultivamos essa planta no Brasil e na Austrália. No Brasil, temos a maior fazenda do grupo", disse ao Valor Andreas Barner, principal executivo e presidente do conselho de administração do laboratório alemão. Da duboísia, a companhia extrai das folhas o princípio ativo do Buscopan, o butilbrometo de escopolamina, e também um importante componente para a produção do Spiriva, remédio que trata a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). "Esse componente passa por uma mudança genética na Alemanha."

Se em receita o Brasil ainda representa uma pequena parte do faturamento do grupo alemão, o país é a principal fonte dessa matéria-prima natural. Embora seja uma planta nativa da Austrália, a Duboísia é cultivada em larga escala pela fazenda Solana Agropecuária, controlada pelo laboratório. "Mantemos a produção em dois países para evitar riscos [climáticos, por exemplo] e garantia de abastecimento", disse o principal executivo do grupo. O cultivo dessa planta passa por rigoroso controle de qualidade.

A farmacêutica divulgou ontem faturamento líquido global de € 14,691 bilhões em 2012, crescimento de 11,5% sobre o ano anterior. O lucro líquido ficou em € 1,237 bilhão, queda de 16,2%. Com esse resultado, a empresa manteve-se como o maior laboratório alemão e o 13º maior do mundo. Do total do faturamento do grupo, a área de saúde animal respondeu por € 1,062 bilhão. No Brasil, a receita bruta do laboratório ficou em R$ 1,2 bilhão em 2012, alta de 16,5% sobre 2011.

Sem planos no curto prazo em termos de investimentos em genéricos, a companhia quer manter sua estratégia de crescimento respaldada em produtos inovadores. As áreas de oncologia ao lado da de diabetes serão os novos pilares do grupo. A companhia planeja lançar este ano um medicamento voltado para câncer do pulmão. O foco atual está em doenças respiratórias e cardiovasculares, sobretudo. O Spiriva, "blockbuster" (campeão de venda) da farmacêutica, registrou vendas de € 3,562 bilhões, quase um quarto da receita do grupo; seguido pelo Micardis (pressão alta), com € 1,9 bilhão; Pradaxa (anticoagulante oral), com € 1,1 bilhão; Combivent (broncodilatador), € 883 milhões; e Trayenta (diabetes tipo 2), com vendas de € 189 milhões.

Com tradicionais medicamentos isentos de prescrição, como o Anador, Buscopan, Mucosolvan, a companhia pretende manter investimentos nesse segmento, que representa vendas globais de € 1,5 bilhão. O grupo é um dos maiores do mundo nessa área.

Seguindo a tendência global da maioria das indústrias do setor, a Boehringer Ingelheim quer avançar no segmento de biológicos e para isso tem realizado pesquisas para desenvolver medicamentos biossimilares (cópias de biológicos). "Cerca de 25% de nosso investimento em P&D é voltado para os biológicos", disse Barner.

Com uma fábrica instalada em Itapecerica da Serra (Grande São Paulo), a companhia quer reforçar suas vendas no país para o setor público. No fim de 2011, a multinacional fechou um acordo de transferência de tecnologia para o medicamento Sifrol, que trata do mal de Parkinson. Esse acordo começou a ser colocado em prática este ano. O Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) vai iniciar a distribuição do dicloridrato de pramipexol, por meio de uma Parceria de Desenvolvimento Produtivo (PDP) com o governo. Cerca de 20 mil pessoas que sofrem com a doença de Parkinson serão beneficiadas no país e essa iniciativa vai gerar uma economia de R$ 90 milhões aos cofres públicos durante os cinco anos do acordo de transferência tecnológica.

A unidade brasileira produz importantes medicamentos, como o Buscopan, Anador, Dulcolax, Atensina, Micardis e Bisolvon. As exportações a partir do Brasil ainda são baixas, representando US$ 40 milhões. A expectativa para este ano é aumentar os embarques em cerca de 30%.

De acordo com Allan Hillgrove, membro do conselho de administração da múlti alemã e da área de marketing da farmacêutica, outras parcerias nesse sentido poderão ser anunciadas no futuro. O Sifrol é o terceiro medicamento mais vendido pela farmacêutica no país, atrás do Spiriva e Micardis.

No ano passado, a Boehringer Ingelheim anunciou fechamento de unidades químicas nos EUA por excesso de capacidade. Barner afirmou que, apesar da medida, a companhia tem planos de expansão para os negócios no Brasil e em países emergentes. "Planejamos crescimento orgânico, sustentado por lançamentos de produtos inovadores. Crescemos acima da média do setor farmacêutico global nos últimos anos."



Veículo: Valor Econômico


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