Com investimentos em pesquisa, o país saiu da situação de insegurança alimentar para grande exportador
Quem hoje conhece o agronegócio brasileiro — principal pilar das exportações — mal imagina que há 40 anos o país sofria com a insegurança alimentar e pagava um preço alto por ter de importar a maior parte dos alimentos.
Neste intervalo de tempo realizou-se o que ficou conhecido como a “revolução agrícola nos trópicos”, capaz de multiplicar por 6 a produção de alimentos, saindo de 30 milhões de toneladas para os 180 milhões de toneladas deste ano.
A principal arma desta revolução foi a disseminação de conhecimento, pesquisa e tecnologia, capitaneada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), fundada a 26 de abril de 1973.
“Nenhum país em todo o planeta foi capaz de promover uma revolução na produção agropecuária como o Brasil fez em tão pouco tempo”, comenta ao BRASIL ECONÔMICO o presidente da empresa, Maurício Lopes. Ele lembra que naquela época a voz corrente era de que jamais se conseguira implementar uma agricultura competitiva nos trópicos.
“Graças à decisão de se criar o sistema de inovação agropecuária, do qual a Embrapa é um componente, junto com instituições estaduais, sistemas de extensões e as universidades, o Brasil superou a situação de importador de alimentos para a auto-suficiência e, mais do que isso, para ser um grande provedor de alimentos para o mundo”, comenta Lopes.
O primeiro passo para alcançar o atual padrão, segundo o pesquisador, foi conseguir transformar as grandes extensões de solos inférteis, característica dos trópicos, em grandes extensões de solos férteis, tão produtivos quanto os solos de países mais avançados na produção de alimentos. Depois, o país teve a capacidade do Brasil de importar espécies vegetais e animais de todas as partes do planeta e adaptá-las aos vários biomas brasileiros. “Atualmente, 80% das espécies que nós utilizamos na agricultura brasileira vêm de outros pontos do planeta”, diz.
O exemplo é o boi, que foi importado da Índia. Hoje o Brasil possui o maior rebanho comercial de bovinos e é o segundo maior exportador de carne bovina. No caso da soja, trazida da China, o Brasil conseguiu alcançar o primeiro lugar em exportações. Também é o maior exportador de café, açúcar e suco de laranja e etanol da cana de açúcar.
Isso fez com que o Brasil se tornasse o terceiro exportador mundial de produtos agropecuários, com vendas que somam em torno de US$ 100 bilhões.
Por causa de uma história bem-sucedida, a Embrapa extrapolou as fronteiras do Brasil. Hoje, desenvolve 51 projetos de cooperação técnica na África, além de outros 49 em 18 países da América Latina e Caribe. Entre os países desenvolvidos, possui cooperação científica com Estados Unidos, França, Coréia do Sul, China e este ano chega ao Japão.
Foco no conhecimento — Fundador e segundo presidente da Embrapa, o pesquisador Eliseu Alves, ainda hoje funcionário da empresa, conta que o pulo do gato foi a decisão do governo militar de focar as atividades em conhecimento.
Veículo: Brasil Econômico