Certificados ambientais ainda não convencem brasileiros

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CRIADOS HÁ CERCA DE TRÊS DÉCADAS, OS CHAMADOS “SELOS VERDES” AINDA PASSAM DESPERCEBIDOS POR MUITOS COMPRADORES E, QUANDO NOTADOS, SÃO COM FREQUÊNCIA PRETERIDOS POR PRODUTOS COM PREÇOS MAIS BAIXOS.

Foram sete anos de trabalho, uma série de adequações e 30 mil reais de despesas até que, em 2003, Wagner Alves enfim conseguiu um selo verde para a fábrica de bateria de carros em Minas Gerais da qual é gestor ambiental. O objetivo era apresentar um produto diferenciado, preocupado com o meio ambiente, mas ele admite que, apesar do investimento, o consumidor final acaba não percebendo a diferença.

Certificações ambientais como a obtida por Wagner surgiram no Brasil no fim da década de 1980, com a finalidade de educar as pessoas a darem mais valor à forma de produção da mercadoria. O selo foi criado por organizações independentes e também ligadas ao governo, que faziam a análise das empresas e as selavam como “limpas” ou não. O método é o mesmo até hoje, mas o problema é que a maior parte da população não observa o detalhe. O selo geralmente vem na embalagem e ocupa um espaço pequeno, de menos de 3 centímetros.

“Foram muitas fases e adequações. E ainda somos monitorados”, conta Wagner. “Mas se você chega numa loja, você não pergunta se ela é ambientalmente correta. Você quer o mais barato e vai embora.”

O selo obtido por ele foi o ISO 9001, direcionado à linha de produção e que atesta que a indústria tem uma uniformidade naquilo que faz e entrega ao comprador. O próximo passo é conseguir o ISO 14001, com mais ênfase ambiental.

“Estamos nos preparando para melhorar”, afirma. “[Nossa empresa] já obedece a lei e recicla o chumbo, um dos principais componentes da bateria.”

A iniciativa de Wagner, no entanto, pode ser ser mais uma tentativa frustrada de convencer o consumidor por uma “marca” e não pelo preço, o que geralmente o brasileiro leva mais em conta.

A PASSOS CURTOS
“Ainda estamos caminhando devagar”, diz Alexandre Sylvio, engenheiro agrônomo e professor universitário, autor do livro Introdução à gestão ambiental, de 2011. “As próprias empresas não fazem campanhas na mídia”.

Segundo Sylvio, os “carimbos sustentáveis” são uma ferramenta de marketing, adotada somente por empresários em situação regular. “Se o empresário tem um problema, ele não vai dizer. Agora, se está tudo certo, ele diz”, comenta.

Para Marco Lentini, presidente da unidade brasileira do Conselho de Manejo Florestal (FSC, na sigla em inglês), emissor de certificados através de parceiros mundo afora, os selos são importantes e geram benefícios para todos.

“No caso de uma certificação como a nossa, uma certificação florestal, quer dizer que se um produto tem alguma coisa de origem florestal, veio de uma floresta que foi bem manejada”, resume.

A FSC selou, até maio de 2013, 177 milhões de hectares de florestas em 75 países. Na prática, isso significa que todo esse volume de área verde está protegido e passa por fiscalizações periódicas. Assim, é possível verificar se os responsáveis pelos terrenos cumprem a lei, conservam o que têm, controlam o que usam e podem continuar com o atestado de excelência FSC. É uma espécie de sistema de vigilância.

O Instituto Brasileiro de Florestas (IBF) também certifica propriedades com boas práticas ambientais. “Nós analisamos se uma usina de cana-de-açúcar funciona direito, se o etanol é limpo, se há exploração de nascentes e até os níveis de emissão de CO2”, explica Solano Martins, presidente do IBF.

De acordo com Martins, a validade do selo varia. Pode ser de um ano, dois ou mais e pode ser cassada caso as regras não estejam sendo levadas a sério. Sobre a visão do consumidor, ele é enfático: “O consumidor está mais exigente. E essa ‘coisa’ de pintar a fachada de verde não dá certo. Quem investe num certificado é porque está com responsabilidade.”




Veículo: O Debate - MG


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