O grupo alimentação e bebidas, que foi o principal fator de pressão sobre os preços neste ano até maio, deve mostrar comportamento mais favorável neste e nos próximos dois meses, pelo menos. Ainda assim, com pressões em outros grupos, como vestuário e transportes, e inflação de serviços elevada, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) só deve voltar para a meta em agosto ou setembro, avaliam economistas. Até lá, no acumulado em 12 meses, o índice seguirá acima de 6,5%. Para junho, a média de 15 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data projeta variação de 0,37% do IPCA-15, considerado uma prévia do índice oficial de inflação. As estimativas para o indicador, que será divulgado hoje pelo IBGE, variam entre alta de 0,34% e 0,40%.
No acumulado em 12 meses, os economistas projetam que o IPCA-15 acumulará alta de 6,66% até junho, maior variação nesta base de comparação desde novembro de 2011.
O grupo alimentação e bebidas, que teve variação superior a 1% nos quatro primeiros meses deste ano, começou a desacelerar em maio e esse movimento deve se intensificar neste mês, avalia Daniel Moreli Rocha, superintendente de tesouraria do Banco Indusval & Partners. Rocha projeta que o grupo terá alta de 0,25% em junho, resultado que, se confirmado, será a menor variação do grupo desde março de 2012, quando o avanço foi de 0,22%. Para o economista, os alimentos estão obedecendo ao padrão sazonal, já que o período entre maio e julho costuma ter variação mais branda desse grupo.
André Muller, da Quest Investimentos, estima que os alimentos devem ter alta de 0,10% neste mês, após terem subido 0,47% em maio, no cálculo que não considera a evolução da inflação de refeições fora do domicílio. "De acordo com o que temos visto nas coletas de preço, a tendência é que esses itens não voltem a preocupar no curto prazo", diz, embora faça a ressalva de que a desaceleração foi bem mais lenta do que era antecipado. O economista projeta alta de 0,37% para o IPCA-15 neste mês, resultado que, se confirmado, levará a inflação acumulada em 12 meses a acelerar para 6,66%, após avanço de 6,46% na leitura anterior, na mesma base de comparação. Para Muller, o IPCA só voltará a se situar dentro da banda permitida pelo regime de metas em agosto.
Rocha, do Indusval, avalia que apesar da desaceleração de alimentos, outros fatores continuam a exercer pressão no índice. Outra razão pela qual o índice de inflação continua a se situar em nível razoavelmente elevado é a variação do grupo vestuário, para o qual o economista projeta, por questões sazonais, alta de 0,80%, praticamente repetindo o aumento de 0,76% observado em maio.
Além disso, deve pesar ainda o aumento das passagens de transporte urbano em São Paulo e no Rio de Janeiro, onde as tarifas haviam sido elevadas de R$ 3 para R$ 3,20 e de R$ 2,75 para R$ 2,95, respectivamente, no início de junho. Embora o aumento tenha sido revogado pelos prefeitos das duas capitais, o grupo transportes ainda dará contribuição importante para o IPCA-15 de junho. Para Adriana Molinari, analista da Tendências, após registrar deflação de 0,03% em maio, o grupo deve subir 0,15% neste mês, por causa do impacto já observado do aumento.
Adriana, que projeta alta de 0,37% do IPCA-15 em junho, também destaca que as medidas de núcleo, que procuram expurgar ou minimizar variações de itens mais voláteis, seguem pressionados, com altas em torno de 0,5% ao mês. "Isso pode ser um indício de que parte dos fatores que estão ajudando o IPCA são pontuais. Apesar da sazonalidade mais favorável, os serviços continuam rodando na casa dos 8% no acumulado em 12 meses", comenta.
Por enquanto, a Tendências mantém projeção de alta de 5,6% para o índice oficial de inflação neste ano. A revogação do reajustes de tarifas de ônibus em São Paulo e no Rio de Janeiro deve "tirar" 0,1 ponto percentual do IPCA entre junho e julho, mas como o viés para a projeção anual da consultoria era de alta, a analista preferiu manter sua estimativa.
Rocha, do Indusval, avalia que o câmbio coloca algum risco para a inflação ao longo dos próximos meses. No atacado, após cinco meses de queda, os preços dos alimentos voltaram a subir, em decorrência principalmente da perda de valor do real em relação ao dólar, já que as commodities seguem em tendência de baixa.
Veículo: Valor Econômico