O comércio de papelaria comemora o período de volta às aulas, considerado o Natal do setor, com crescimento nas vendas de até 30% em alguns casos, mas prevê um futuro difícil a partir de março.
"De março em diante não dá para saber o que pode acontecer, mas imagino que as vendas devam cair muito porque as papelarias não vão querer se endividar sem ter a certeza de que conseguirão vender", afirma Jorge Luis Águas, gerente de compras da Clovis Atacadista, que atende cerca de 10 mil revendedores em todo o País.
Neste início de ano, o atacadista já sentiu a diferença no comportamento das papelarias. O executivo afirma, que muitos revendedores iniciaram as compras logo no primeiro dia útil de janeiro quando o normal é que as vendas para a o período de volta às aulas sejam iniciadas apenas a partir da segunda semana do mês.
"Percebemos que as papelarias optaram por fazer as compras rapidamente pois elas já estavam sem estoques. Isto porque estes revendedores seguraram as compras até o último momento com medo de não vender", afirma o executivo.
Neste início de volta às aulas a Clovis Atacadista já vendeu 30% mais na comparação com o mesmo período do ano passado. Mas uma preocupação ronda a mente dos diretores da companhia. "A quantidade de inadimplentes pode crescer", diz Águas. Atualmente a inadimplência da empresa gira em torno de 3% a 4%. "Não sei quanto ela pode crescer, só sei que pode crescer". Para o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Material de Escritório e Papelaria de São Paulo (Simpa), Antônio Martins Nogueira, o consumidor está pessimista em relação ao futuro e com medo de gastar. "O consumidor está reticente. Ele tem priorizado preço e deixado a qualidade do produto em segundo plano."
Na Kalunga, rede atacadista e varejista com 54 lojas no País, a estratégia é ganhar o cliente através do pagamento facilitado. Pela primeira vez, a rede ampliou o número de parcelas em seu cartão private label. Agora, o cliente pessoa física pode pagar as compras em até 10 vezes, sem juros.
Já para o cliente revendedor, a rede promete desconto de até 8% para as compras acima de R$ 350. Atualmente, a empresa conta com 200 mil cartões próprios emitidos e espera chegar a 300 mil plásticos até o final deste ano. Durante os primeiros dias das vendas relativas à volta às aulas, a rede comercializou 15% mais na comparação com igual período de 2008. "A Kalunga vem ocupando cada vez mais o espaço de varejista e, dessa forma, conseguimos atender um número maior de clientes", diz Hoslei Pimenta, gerente comercial da Kalunga.
Fornecedores
Para Águas, da Clovis, além da insegurança do consumidor, a redução no prazo de pagamento exigido pela indústria contribui para o clima de incerteza no setor. O executivo diz que o prazo médio para o pagamento dos pedidos junto aos fornecedores da atacadista diminui em 30 dias.
"Como consequência tivemos que reduzir o prazo de pagamento dado aos nossos clientes revendedores", explica. Por outro lado, para os atacadistas que estiverem dispostos a pagar seus pedidos à vista, a indústria tem concedido, segundo Águas, descontos entre 6% e 7%.
Aumento de preços
O presidente do Sipam afirma que os revendedores que ainda não repuseram seus estoques, com medo dos rumos do mercado nestes próximos meses, podem conseguir negociações menos vantajosas do que os que se anteciparam.
"Nos próximos dias deverá ocorrer um aumento nos preços entre 5% e 8%", alerta Nogueira. Entre os produtos mais vendidos nesta volta às aulas, os especialistas não prevêem mudanças. Cadernos, mochilas, lápis, canetas, lancheiras e papéis especiais devem continuar sendo os produtos mais procurados.
Veículo: Gazeta Mercantil