A chegada do iPhone, da Apple, ajuda a dar novos contornos ao marketing digital brasileiro. Um dos primeiros reflexos é a corrida das empresas para ter o seu site acessado no aparelho. Estima-se que, no ano passado, o setor tenha movimentado entre R$ 10 milhões e R$ 20 milhões, dos quais 90% destinados à produção de sites - apenas os 10% restantes vão para serviços de publicidade. Acredita-se que em até três anos os anunciantes tenham suas versões de conteúdo para os chamados celulares da "geração touch" (com toque na tela) ou similares ao iPhone - aqueles que têm navegação na internet wi-fi ou 3G.
As agências que trabalham na produção de mídia para iPhone e similares estimam haver hoje no País mais de 500 mil aparelhos com essa tecnologia. A perspectiva é haver entre 1 milhão e 5 milhões ao final deste ano - ante aos cerca de 15 milhões de aparelhos com acesso à rede por meio do sistema wap.
Diante do aumento da base, cresce também o número de empresas que criam versões de seus sites para estes equipamentos. Os setores automotivo e bancários são os que mais procuram essa tecnologia.
A indústria calçadista ViaUno, por exemplo, vai aproveitar o lançamento da uma coleção, em março, para colocar no ar o seu site para iPhone. "Consideramos muito importante a mídia digital", diz o diretor de marketing da empresa, Paulo Kieling. Já a Fiat começou junto com o lançamento do produto. Em maio, a AgênciaClick havia desenvolvido um "piloto" para o modelo Palio Adventure Locker - disponível para os clientes que adquiriram o celular fora do Brasil. "Aproveitamos que lançaríamos o portal da empresa e já o fizemos de forma compatível, pois cada vez mais as pessoas usam o celular como um computador", afirma Rafhael Vasconcellos, diretor-executivo de criação da agência.
"O crescimento da base vai fazer disparar a demanda", diz Cesar S. Cesar, diretor de marketing e estratégia da Hands, empresa de marketing digital. Segundo ele, a produção de sites móveis cresceu 30% desde que o iPhone chegou ao Brasil, em setembro. E, considerando o desempenho de 2008, ele acredita que o desempenho será, pelo menos, repetido neste ano.
"O iPhone é a grande virada do marketing via celular", afirma Marcelo Castelo, sócio-diretor da F.Biz. Segundo ele, muitas empresas nem têm a versão wap e já fizeram site para iPhone e similares. Na F. Biz, hoje cerca de 20% da produção de sites da agência é destinada ao modelo criado pela Apple - a maioria ainda é de wap. Para 2009, ele acredita que metade será de site para iPhone .
"Com a vinda do iPhone, voltou a se falar em internet para o celular, houve uma retomada do interesse das marcas em ter presença no ambiente móvel", diz Leonardo Xavier, diretor-geral da Pontomobi Interactive
Para Castelo, muitos dos consumidores que tinham celular com acesso aos portais waps das operadoras não navegam na internet. Mas, com o iPhone, passam a fazê-lo. Cesar também acredita que o usuário da nova coqueluche tecnológica seja, em grande parte, aquele que não acessava a internet no celular antes.
Usos
Castelo diz que um dos diferenciais desses aparelhos é o uso de aplicativos, destinados ao comércio, álbuns de fotos e jogos, entre outros. "Uma marca pode ser divulgada por meio desses aplicativos". O GPS acoplado ao iPhone também é um dispositivo a ser explorado pela publicidade, assim como o chamado "acelerômetro" - que imite sons ou imagens a partir da movimentação do celular.
Rodrigo Teco, diretor da Grafikonstruct, uma empresa de design digital, acredita que a tendência, mais que a adaptação dos sites, é o aumento do uso dos aplicativos, como papéis de parede e serviços - previsão do tempo, por exemplo.
Para Castelo, em cinco anos os telefones similares ao iPhone devem superar a internet em usuários - a web possui atualmente pouco mais de 40 milhões, de acordo com o Ibope/NetRatings. De acordo com Teco, dos sites construídos pela empresa hoje, entre 1% a 2% dos acessos são feitos via celular.
Xavier, por sua vez, pensa que haverá uma "virada" importante no mercado brasileiro em relação à internet no celular, pois hoje ocorre o que predomina via portal wap. "Haverá uma desconcentração da audiência e reconcentração nos portais web, com tendência para aqueles ligados ao entretenimento e serviço". Por isso, na sua avaliação, a audiência global aumenta e se desconcentra, reforçando o raciocínio de que "faz sentido investir em propaganda" para essa nova tecnologia..
Publicidade
Castelo diz que a publicidade no iPhone ainda é incipiente, mas lembra que algumas operadoras de celular e grandes portais já criaram suas versões para este tipo de aparelho e têm vendido espaços publicitários. "Se a empresa tem um site adaptado para o iPhone, vai anunciar em outro site compatível com esse sistema", afirma. Mas, na sua avaliação, nos próximos anos, o maior desembolso de recursos será para a produção de sites e não para a publicidade. "Depois de três a cinco anos, a mídia irá superar a produção", acredita.
"Antes do abalo da crise financeira, a demanda por publicidade estava crescente. Agora, recuou", afirma Cesar. No entanto, segundo ele, em momentos de crise geralmente os anunciantes procuram as mídias que dão retorno mais rápido. Assim, neste ano, a agência tem trabalhado com "promoções": estipulou o preço para veiculação publicitária próximo ao fixado por veículos de internet e com pacotes que variam por um tempo determinado.
"Não só a publicidade no iPhone cresce, mas a construção de sites ou hotsites adaptados, pois a tecnologia permite uma riqueza de interações, como localização e ligação direta da tela. Essa é a grande demanda", acredita Xavier
Veículo: Gazeta Mercantil