A crise internacional deve ter desdobramentos distintos nos negócios das companhias varejistas. As ações das empresas desse segmento, portanto, devem sofrer impactos diferentes na BM&F Bovespa. Na avaliação de analistas consultados pela Gazeta Mercantil, os papéis que têm melhores chances de recuperação nos próximos meses são os de varejistas que vendem produtos básicos, como alimentos, cujas receitas não estão tão atreladas à tomada de crédito.
Um dos beneficiados pode ser o Pão de Açúcar, cujo processo de reestruturação trouxe novas possibilidades para fugir de um cenário de piora da economia. "O Pão de Açúcar sofreu muito e fez sua lição de casa. Aumentou o mix de produtos e ampliou o foco para os da casa", diz a sócia-gestora da Global Equity, Patrícia Branco.
Essa nova estrutura de negócios deve ser determinante para enfrentar a crise. Afinal, os maiores impactos que a rede deve enfrentar estarão exatamente na redução de receitas de produtos da linha branca. "O consumidor deve utilizar a retomada de crédito para quitar dívidas já contraídas e não para fazer novas aquisições", projeta o analista da corretora Planner, Peter Ping Ho. "A prioridade serão as compras de primeira necessidade em detrimento do que pode ser deixado para depois", afirma.
Nesse sentido, as expectativas para os papéis de lojas de departamentos com foco em vestuário listadas em bolsa não são muito animadoras. "Se houver um agravamento da crise, é bem possível que esse setor sofra uma estagnação. Por maiores que sejam as facilidades oferecidas por essas lojas no financiamento das compras, o aumento de suas vendas deve ser cíclico, acontecendo apenas em datas comemorativas, como o Dia dos Pais", diz Ping Ho.
Pelo lado dos custos operacionais, essas companhias também estarão pressionadas. "Além de vendas menores, há o custo da manutenção da rede de lojas, que fizeram parte dos planos de expansão dos últimos anos", diz Patrícia Branco, da Global Equity.
Frigoríficos sofrem mais
As ações das empresas de alimentos também devem passar por vários testes ao longo de 2009. As maiores dificuldades devem ser sentidas pelo JBS. "A empresa fez grandes investimentos no mercado norte-americano e deve demorar bastante para começar a ter o retorno disso", afirma o analista da Planner.
Parte desse problema pode ser compensado pelo fato de a companhia ser exportadora em um momento no qual o real ainda está bastante desvalorizado perante a moeda norte-americana. "Mesmo com um desaquecimento da demanda por seus produtos, as exportadoras podem conseguir recompor parte de suas margens dessa maneira", explica Nicholas Barbarisi, diretor de operações da empresa de investimentos Hera.
Para Patrícia Branco, Sadia e Perdigão também estão expostas à diminuição do apetite por gastos. "No caso da Sadia, os papéis estão subindo mais na expectativa de uma resolução dos problemas de sua dívida com derivativos do que propriamente por seus fundamentos. A venda de seus produtos de maior valor agregado deve perder força", diz.
Defensivos ganham espaço
Em meio à piora da crise, ações de setores de varejo que possuem um consumo regular podem ganhar espaço. Conhecidos como defensivos, são papéis de empresas com fluxo de caixa constante, que não têm necessidade de investir muito para ampliar sua atividade. Por isso mesmo, distribuem os lucros quase que integralmente em forma de dividendos a seus acionistas. É o caso da fabricante de cigarros Souza Cruz "Além de ter um fluxo regular de caixa, a empresa exporta cerca de 30% de sua produção e é beneficiada pelas cotações do dólar", afirma Patrícia Branco.
Veículo: Gazeta Mercantil