Os estoques de televisores de plasma da Gradiente confiscados em janeiro pela Justiça do Trabalho, em Manaus, começaram a ser comercializados pelo Magazine Luiza, uma das cinco maiores varejistas de eletroeletrônicos do país. Na pontocom da rede, um modelo de 42 polegadas da marca brasileira que enfrenta dificuldades financeiras, está sendo vendido por R$ 2,399 mil à vista, ou em 12 parcelas sem juros de R$ 199,92.
Procurados, o Magazine Luiza e a Gradiente não quiseram se manifestar sobre o assunto. A varejista confirmou, por e-mail, que os aparelhos são novos e que se responsabilizará pela assistência técnica do lote comprado recentemente da Gradiente. A varejista compromete-se a dar uma garantia de um ano aos consumidores.
A Justiça apreendeu os televisores que estavam nos estoques da Gradiente, na Zona Franca, a pedido do Ministério Público do Trabalho do Amazonas (MPT/AM), devido ao atraso no pagamento dos funcionários da empresa, que mantém cerca de 400 empregados.
"Autorizamos a venda de 513 aparelhos para o Magazine Luiza. Em contrapartida, a Gradiente comprometeu-se a depositar R$ 500 mil em uma conta judicial e esse valor será repartido entre os funcionários", afirmou ao Valor , o procurador-chefe do MPT/AM, Audaliphal Hildebrando da Silva. Ele espera que os empregados da empresa possam receber o dinheiro "antes do Carnaval", mas ainda não foi decidido de que forma será feita a partilha. Segundo ele, a venda dos aparelhos para o Magazine Luiza já havia sido acertada pela Gradiente anteriormente.
Um representante do Sindicato do Metalúrgicos do Amazonas afirmou que ainda há perspectivas de que a Gradiente volte à ativa. A empresa teria informado os seus funcionários que avançara nas negociações com os credores, mas que continua à espera de um socorro do BNDES. Há rumores de que a Gradiente pretende reabrir a fábrica em Manaus para produzir 65 mil televisores.
De acordo com os sindicalistas, a situação da Gradiente deve ser incluída na pauta dos assuntos que serão discutidos durante a visita do Ministro do Trabalho, Carlos Lupi, a Manaus, nesta semana. O ministro, que deve chegar hoje à capital amazonense, possui visitas agendadas às fábricas da Samsung e da Honda e deve reunir-se com representantes da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa). O sindicato pedirá que o governo conceda incentivos para manutenção das indústrias e do emprego na Zona Franca.
A Gradiente encaminhou à Suframa um pedido para a constituição de uma nova empresa, a Companhia Brasileira de Tecnologia Digital (CBDT), que herdaria a marca Gradiente e passaria a produzir aparelhos reprodutores de DVD, notebooks, home theaters e televisões com monitor de cristal líquido (LCD). A solicitação foi avaliada pelo conselho de administração da Suframa, em seu última reunião de 2008, realizada no fim de dezembro.
"Contudo, devido a pendências na documentação exigida, o projeto ainda não foi aprovado. Na ocasião, o conselho concedeu à empresa um prazo de 60 dias, que expira no próximo dia 17 de fevereiro, para que sejam apresentados os documentos necessários e a CBDT tenha, assim, seu projeto aprovado. Caso a exigência não seja cumprida no prazo estipulado, o projeto da CBDT não terá sua aprovação concretizada", informou a Suframa.
A criação da CBDT já fazia parte do plano apresentado pela Gradiente aos credores em meados do ano passado para sair da crise financeira. Segundo fontes do setor, qualquer plano de resgate da Gradiente, que tem dívidas de mais de R$ 300 milhões, passaria pelo BNDES, mas o banco não aprovou até o momento o empréstimo à empresa.
Veículo: Valor Econômico