Alta do café pressiona empresas que apostavam na queda

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A inesperada alta do café desencadeada pela redução dos estoques mundiais ameaça pressionar a Starbucks Corp., Kraft Foods Inc. e fundos hedge que apostaram na queda do preço. A demanda poderá superar, no próximo ano, a produção em 8 milhões de sacas de 60 quilos, volume quase equivalente ao consumo da Alemanha, um dos principais importadores globais. Os estoques dos exportadores estão em seu menor patamar desde 1965, segundo a Organização Internacional do Café (OIC). Depois de terem recuado pela primeira vez desde 2001, os contratos futuros do café arábica poderão subir 25% neste ano, influenciados pela queda na produção no Brasil e Colômbia, os dois principais produtores do hemisfério ocidental, segundo estimativas do Goldman Sachs Group. 

 
 
"Prevemos alta dos preços do café em 2009", afirmou Sandra Bachofer, que administra US$ 1,2 bilhão no Tiberius Group, na Suíça. "Supomos que o café será uma das commodities mais promissoras em 2009."
A expectativa de recuperação mostra o que ocorre quando os mercados futuros, guiados por especuladores, colidem com a oferta e demanda do mundo real. Uma alta prolongada elevaria os custos da rede de cafeterias Starbucks, com sede em Seattle, e da Kraft Foods com sua marca de café Maxwell House, enquanto beneficiaria plantadores e aumentaria a receita de países como Vietnã e Brasil com as exportações. 

 

Embora o Fortis Bank projete que a recessão poderá estancar a demanda e manter os preços sob controle, o café subiu 2,3% neste ano, para US$ 1,1465 por libra-peso, na bolsa de Nova York. Os contratos para entrega em dezembro indicam que a tendência de alta continuará. 

 

A analista Judith Ganes-Chase, que era do Merrill Lynch e agora comanda uma consultoria em Nova York, disse que o café poderá subir até 52%, para US$ 1,70 até 30 de junho. O Morgan Stanley prevê preço médio de US$ 1,41 na iniciada em 1º de outubro, enquanto o Goldman Sachs estima cotação de US$ 1,40 para os próximos 12 meses. 

 

A Starbucks, maior rede de cafeterias do mundo, previu em 28 de janeiro que custos "desfavoráveis" com o café na safra que se encerra 30 de setembro minarão o efeito positivo da queda nos preços dos laticínios. Os custos no primeiro trimestre subiram 2,9 pontos percentuais em relação ao mesmo período do ano anterior, em parte, influenciados pelo aumento nas despesas com café. "Estamos certos de que temos o café que precisamos e de que os aumentos em países específicos terão pouco ou nenhum efeito em nossos contratos futuros ou atuais", disse Stacey Krum, porta-voz da empresa. 

 

A companhia normalmente fecha compromissos de abastecimento por 12 a 18 meses. Portanto, o impacto da mudança nos custos do café poderia levar esse tempo para aparecer nos resultados financeiros, observou o analista Jeffrey Farmer, da Jefferies & Co., de Boston, que classifica as ações do grupo com recomendação de "manter". 

 

A Kraft Foods, segunda maior empresa mundial de alimentos, elevou os preços dos cafés Maxwell House duas vezes no início de 2008, quando o custo dos grãos disparou, para depois reduzi-los em três ocasiões. Neste ano, os preços não foram alterados, segundo Bridget MacConnell, porta-voz da companhia. 

 

A alta das cotações também poderia afetar fundos hedge e outros grandes especuladores, que venderam 19.379 contratos futuros, avaliados em mais de US$ 864 milhões, até 10 de fevereiro, com base no contrato para entrega em maio, apostando que os preços cairão, de acordo com a Comissão Reguladora de Operações a Futuro com Commodities (CFTC), dos EUA. 

 

O café caiu 14% no quarto trimestre em Nova York, apesar do ágio pago pelos grãos colombianos sobre os contratos futuros mais ativos em Nova York, ter subido 54%, um sinal que havia demanda mesmo enquanto os investidores fugiam das commodities. O número de contratos não-exercidos caiu quase 10%. 

 

"O café caiu vítima de uma liquidação maciça de fundos", no ano passado, afirmou Roland Veit, presidente da importadora Paragon Coffee Trading Co., de White Plains, Nova York. "O mercado de café foi puxado demasiadamente para baixo por motivos não ligados aos fundamentos [de oferta e demanda]." 

 

Os investidores haviam acumulado contratos futuros de commodities, na expectativa de lucrar com o crescimento na demanda por alimentos, ração e combustível. O enfraquecimento do dólar tornou as matérias-primas negociadas na moeda mais atraentes para compradores internacionais e também uma forma de proteção contra a inflação. 

 

O número de futuros não-exercidos em Nova York chegou ao recorde de 204.360 contratos em 15 de fevereiro de 2008. Como cada contrato movimenta 37,5 mil libras-peso, o número era equivalente a quase metade de todo o café consumido no mundo em 2008. O aumento nos investimentos de especuladores ajudou a elevar o preço para US$ 1,719 por libra-peso, maior cotação em dez anos. 

 

O otimismo sobre a demanda por commodities, então, foi apagado pela crise de crédito e recessão, o que levou a uma corrida dos investidores para vender ativos. Entre outubro e dezembro, os fundos hedge e outros grandes especuladores já apostavam na queda dos preços do café, enquanto índice Standard & Poor´s 500 apresentava seu maior declínio trimestral desde 1987. O índice Reuters/Jefferies CRB, composto por 19 commodities, que atingira pontuação recorde em 3 de julho, acabou caindo 36% em 2008, pior declínio em mais de 50 anos. Em dezembro, o café era cotado pelo menor preço em dois anos e os contratos não- exercidos haviam diminuído 39% em relação ao recorde. 

 

A oferta mais estreita está elevando o custo do café da Colômbia, onde uma associação de agricultores anunciou em 26 de janeiro queda de 9% na produção de 2008, para 11,5 milhões de sacas. O recuo significa que alguns embarques exportados poderiam "chegar atrasados" para alguns compradores, segundo Jorge Lozano, diretor da Associação Colombiana de Exportadores de Café. Os grãos custavam US$ 0,2742 mais caros do que o contrato mais ativo em Nova York, em 13 de fevereiro. O ágio havia chegado a US$ 0,2885 em 4 de fevereiro, o maior desde 2001. 

 

Os estoques em armazéns monitorados pela bolsa de Nova York recuaram em 12 de fevereiro para o menor patamar desde julho de 2007. Os estoques dos transportadores em 1º de outubro eram 32% menores do que no mesmo período do ano anterior, somando 17,26 milhões de sacas, em parte porque o consumo nos países exportadores cresceu 37% nos últimos dez anos. 

 

A demanda mundial poderá chegar a 130 milhões de sacas, superando a oferta entre 6 milhões e 8 milhões de sacas a partir de 1º de outubro, segundo Néstor Osorio, diretor-executivo da OIC. O Brasil estima queda de até 20%, para 36,9 milhões de sacas neste ano. "Haverá déficit na oferta. Não há motivos para acreditar que os preços cairão", disse ele.

 


Veículo: Valor Econômico


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