Mesmo com a aceleração dos preços do açúcar, o setor sucroalcooleiro terá um difícil ano pela frente, marcado pela redução dos recursos destinados às indústrias. Prova disso é que o total de investimentos nas usinas em 2009 será de R$ 7 bilhões, ou seja, 40% menor do que em 2007 e 2008, quando foram aplicados R$ 12 bilhões no setor.
Para Marcos Françoia, diretor da MBF Agribusiness, na safra 2009/2010 o fator financeiro também será empecilho para garantir a qualidade da matéria-prima, pois as empresas devem reduzir investimentos em tratos culturais. Em relação à moagem, esta poderá ser comprometida em razão da diminuição do período para reforma das unidades, provocada pela falta de capital de giro. O consultor avalia que emendar a safra acaba sendo um prejuízo para as empresas. "Algumas [companhias] alegam que o procedimento é uma estratégia de gestão, mas não é verdade porque se invade um período de maturação em que a qualidade da cana é ruim, o período de chuvas dificulta a retirada, além de acumular impurezas que prejudicam a linha de produção", disse.
Na análise de Françoia, as empresas que emendaram a moagem pretendiam gerar caixa, mas não calcularam o tamanho da perda. "Elas optaram por prorrogar a necessidade de caixa com relação a férias de funcionários e a rescisão do safrista em dezembro, então continuaram moendo uma quantidade de cana mesmo que esteja tendo prejuízo", avalia.
Por conta dessa estratégia, alguns grupos devem entrar na nova safra com a parte industrial sem o reparo adequado. Segundo Françoia, há empresas optando por reformas básicas e outras afirmando que nem mesmo farão os reparos necessários, o que provavelmente levará a paradas para reformas emergenciais no próximo período de moagem.
A tendência altista para o açúcar, tanto no mercado interno quanto nas bolsas internacionais, não é garantia de renda para as usinas brasileiras. Segundo analistas do setor, poucas unidades vão conseguir aproveitar as boas cotações da commodity , já que para suprir a falta de capital de giro muitas venderam antecipadamente o produto. Estima-se que entre as usinas altamente alavancadas (que representam entre 40% e 50% das unidades produtoras), 70% já estariam com boa parte da safra comprometida por negócios fechados no mercado futuro. Marcos Jank, presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), reconhece que 2009 será um ano muito delicado. "O setor não está muito alavancado e mesmo a melhora nos preços do açúcar não tornará o ano livre da crise", afirmou durante o lançamento do Ethanol Summit, evento que irá reunir os principais nomes do setor dentro e fora do País.
Ao analisar o comportamento do mercado interno para os próximos meses, Jank afirmou que a crise deve atravessar o ano que será de consolidação para o setor. "Os investimentos, da ordem de US$ 20 bilhões, realizados nos últimos quatro anos entram em fase de maturação e terão de ser concluídos, mas aqueles que estavam planejados para os próximos anos serão adiados", disse.
O presidente da Unica avalia ainda que nessa fase de consolidação, o reagrupamento societário, via fusões e aquisições, deverá aumentar a sinergia entre as companhias. "O mundo da energia é muito mais regulamentado e concentrado que o da produção de açúcar e exige empresas mais eficientes". Jank afirmou ainda que o momento atual não é uma crise do setor, tendo em vista que os fundamentos continuam favoráveis, mas sim das empresas do setor.
Números da safra 2009/2010
O Brasil deve processar 598 milhões de toneladas de cana-de-açúcar na safra 2009/2010, iniciada este mês, alta de 5,72% ante às 565,6 milhões de toneladas moídas na safra anterior, de acordo com o último levantamento da consultoria Datagro.
Com o direcionamento da safra para a produção de açúcar, que hoje oferece melhores preços, a produção brasileira de etanol deverá crescer apenas 2,96% na safra 2009/2010, para 27,905 bilhões de litros, ante 27,098 bilhões de litros na passada. A queda nas exportações do produto deverá ser próxima de 25%, recuando na próxima temporada de 5,05 bilhões de litros para 3,75 bilhões de litros. "As usinas, que tinham de 6% a 8% de custo financeiro nos empréstimos, passaram a pagar de 20% a 23% ao ano, o que é alto para um setor que tem entre 11% e 13% ao ano de retorno sobre investimentos", disse Plínio Nastari, durante o 2º Simpósio Internacional Datagro/Udop, na cidade de Araçatuba, em São Paulo.
Mesmo com a aceleração dos preços do açúcar, o setor sucroalcooleiro terá um difícil ano, marcado pela redução dos recursos às indústrias. O total de investimentos nas usinas em 2009 será de R$ 7 bilhões - 40% menor do que em 2007 e 2008, quando foram aplicados R$ 12 bilhões. Marcos Jank, presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), reconhece que 2009 será um ano delicado, mas vê na consolidação a saída: "O reagrupamento societário, via fusões e aquisições, torna empresas mais eficientes".
Veículo: DCI