A retração de 7% no resultado do varejo brasileiro no primeiro trimestre, sobre um ano antes, piorou as expectativas para o acumulado do ano. Agora, a previsão é que o setor encolha 4,8% de janeiro a dezembro, quando comparado aos 12 meses de 2015.
A previsão foi feita ontem pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) e indica que, se confirmada, o resultado será o pior visto desde 2001, início da Pesquisa Mensal do Comércio, apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), informou a entidade. A expectativa anterior da CNC era de retração de 4,6%.
"Apesar da perda de força da inflação e seus impactos favoráveis sobre o volume de vendas, o contínuo encarecimento do crédito e a confiança abalada de consumidores e empresários levaram a CNC a reforçar a expectativa de que 2016 será o pior ano do setor varejista desde o início da PMC", afirmou o economista da CNC Fabio Bentes.
No varejo ampliado, que inclui ainda os setores automotivo e de material de construção, a confederação manteve a previsão de queda no faturamento de 8,8% ao final do ano. A retração no primeiro trimestre chegou a 9,4%, registrando, "o pior comportamento das vendas desde 2004, quando o IBGE iniciou a medição deste segmento", completou Bentes.
Pior março desde 2003
Os números negativos foram potencializados pelo resultado do varejo no mês de março, apurado pelo IBGE. Segundo o Instituto, as vendas registraram queda de 0,9% na comparação com o mês anterior, cravando a maior baixa para março desde 2003, quando o varejo teve retração de 2,4%.
Em nota, o IBGE atribui o recuo aos fatores inibidores de consumo como "Elevação da inflação, restrição do crédito e perda da renda real. Em março, frente ao mesmo mês do ano passado, as vendas caíram 5,7%", disse a gerente de serviços e comércio do IBGE, Isabella Nunes, lembrando que a maioria dos ramos do comércio mostrou resultados negativos de fevereiro para março, com destaque para o de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, que depois de uma leve recuperação em fevereiro, voltou a recuar 1,7%.
Para o presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) e da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp), Alencar Burti, os números do IBGE são alarmantes. "Se considerarmos que a confiança do brasileiro tem caído a níveis recordes nos últimos meses, eles [os números] não chegam a ser espantosos", disse.
Para o executivo, a tendência é de piora. "Esse desempenho negativo do varejo deve ser registrado também no segundo trimestre, uma vez que a situação econômica e política do País piorou desde março", completa ele.
Móveis e eletrodomésticos
Também influenciou o desempenho geral do varejo brasileiro, explicou Isabella, o setor de móveis e eletrodomésticos, que depois de ver suas vendas subiram 6,1% em fevereiro, amargou uma queda de 1,1% em março. A venda de combustíveis e lubrificantes também pressionou a queda do índice nacional, ao mostrar retração de 1,2% após alta de 0,3% em fevereiro.
"Esse recuo aconteceu em perfil generalizado entre as atividades, mas tem forte influência do movimento de hipermercados. Isso reflete não só a perda real da renda, que tem impacto do consumo do setor supermercadista, mas também reflete a variação do preço dos alimentos, que subiu acima da inflação e que também afeta o consumo", analisou Isabella.
Outros balanços
Completando o cenário ruim para o setor, ontem a FecomercioSP apontou que, pelo quatro mês seguido, o Índice de Expansão do Comércio (IEC) registrou queda e, em abril, atingiu 65,3 pontos, recuo de 1,3% em relação ao mês anterior. Na comparação com o mesmo período de 2015, a redução foi de 20,4%. Com isso, o indicador renovou o mínimo histórico e mantém-se há 15 meses abaixo dos 100 pontos, o que sinaliza pouca disposição neste ano para expansão dos negócios por parte dos empresários brasileiros.
Veículo: Jornal DCI