Aumenta procura por serviços de tecnologia e RH

Leia em 4min 40s

Negócios em expansão, contratação de funcionários, inauguração de praças, ampliação de investimentos. Com a crise internacional, tudo isso ficou no passado para boa parte das companhias, mas não para fornecedores de serviços terceirizados. Empresas das áreas de tecnologia e recursos humanos vêm registrando aumento de demanda impulsionadas pela necessidade das companhias de cortar custos.

 

"De uma forma geral, percebemos um aumento da demanda pelos serviços de terceirização da área de RH que vai de 30% a 35% no primeiro bimestre deste ano, ante o mesmo período do ano passado", afirma Renato Morelli, diretor de marketing da Associação Brasileira de Provedores de Outsourcing de RH (ABPO). Ele explica que as empresas fornecedoras têm ganhos de escala, por trabalharem com muitas companhias. "O custo de trabalho das nossas empresas é diluído, o que permite que elas repassem esse ganho para seus clientes, que não conseguiriam ter, sozinhos, essa vantagem", enfatiza.

 

Alexandre de Botton, diretor da Propay, que atua no segmento de RH, conta que registrou uma alta de 15% no total de contratos fechados nos últimos dois meses, em relação ao ano passado. O Grupo Soma, que fornece serviços na mesma área, viu os pedidos de orçamento crescerem 10% no último trimestre, em relação aos três meses anteriores. "Não esperávamos esse aumento, mas com a crise, estamos indo bem. Parece que as pessoas começaram a dizer: como eu não vi isto antes?", afirma Arlindo Felipe Júnior, diretor da empresa.

 

O momento é realmente oportuno para as fornecedoras de serviços de terceirização, explica a professora de macroeconomia da PUC-SP Márcia Flaire Pedroza. Segundo ela, ao delegar os processos "meio" a terceiros e se atentar mais para seu negócio "fim", as companhias podem obter ganhos de produtividade e se defender melhor do aumento de competitividade que um ambiente mais restritivo impõe. "Na crise, os poucos investimentos possíveis devem ser feitos nos lugares certos", afirma.

 

A área de tecnologia é uma das que registram bastante procura em processos de terceirização. A Alog Hosting, que trabalha com armazenamento e gerenciamento de banco de dados, por exemplo, faturou 22% mais em janeiro, em relação a igual mês de 2008 - a receita subiu de R$ 162 mil para R$ 198 mil. "O número de clientes mais que duplicou neste início do ano", afirma Eduardo Carvalho, diretor comercial da empresa. Diante dos resultados, a companhia, que emprega 290 pessoas, vai contratar. "Até nos surpreendemos, pois enquanto todo mundo está demitindo, abrimos 20 vagas em São Paulo e no Rio de Janeiro", diz.

 

A IT Group, fornecedora de serviços gerenciados de tecnologia, existe há sete anos, mas nunca observou melhor desempenho do que nos últimos quatro meses. "Os clientes estão mais aptos a receber propostas de novos e pequenos fornecedores, coisa que não acontecia antes", afirma José Marcelino Bersch, diretor de negócios da empresa. No segundo semestre de 2008, as receitas cresceram 50%.

 

A TCI, que realiza a automação de processos, também acumula bons resultados. A companhia teve um crescimento de 60% no faturamento do ano passado, frente a 2007, sendo que 40% desse acréscimo se deu no segundo semestre.

 

Uma vantagem que as empresas buscam na terceirização é a maior flexibilidade para ajustar sua estrutura operacional a novos níveis de demanda. O economista Jaci Corrêa Leite, professor da Fundação Getúlio Vargas - EAESP, explica que, em momentos mais arriscados, é mais fácil ajustar os contratos de terceirização, do que alterar os processos dentro da própria empresa. Ele acrescenta ainda que a demanda maior por esses serviços mostra que as empresas estão se preparando para uma crise mais duradoura. "Ninguém muda sua estrutura, delegando a responsabilidade de uma área inteira, acreditando que essa é apenas uma situação passageira. As mudanças geradas por um processo de terceirização são fortes e estratégicas, e perduram no longo prazo", diz.

 

Apesar de ter se acentuado, a procura das empresas por serviços terceirizados não é nova. Nos últimos anos, as companhias têm se mostrado mais receptivas a ceder áreas para a administração terceirizada. "O trauma sofrido na década de 80, quando houve uma febre de terceirizações mal feitas, para as quais nem as empresas fornecedoras nem as que terceirizavam estavam preparadas, passou. Hoje o movimento de terceirização vem de forma mais estruturada", diz a especialista Márcia Pedroza.

 

Mas há quem veja desvantagem na intensificação da terceirização no mercado brasileiro. "A fornecedora não conhece com profundidade os negócios da empresa para qual ela presta serviços, o que pode acarretar, ao invés de ganho, perda de qualidade", afirma o professor de macroeconomia da ESPM José Eduardo Balian.

 

A advogada Maria Cristina Machado, que é consultora na área de outsourcing, alerta ainda para os riscos legais. Ela explica que a empresa pode ser responsável pelos direitos dos funcionários terceirizados no caso de não cumprimento da lei trabalhista por parte da fornecedora. "No Brasil, ainda não há uma legislação específica para a terceirização", diz. "Para diminuir os riscos, as empresas devem ficar atentas aos contratos de terceirização, além de controlar no dia-a-dia as funções desses funcionários, para garantir a falta de vínculo (empregatício)". Na opinião da advogada, a falta de flexibilidade da legislação é antiquada. "Os empecilhos da lei com relação à terceirização se mostram contraditórios e retrógrados, dadas as necessidades que a economia globalizada está desenhando", diz.

 


Veículo: Valor Econômico


Veja também

Bolo x Colomba

  Veículo: Valor Econômico...

Veja mais
Setor de cartões ignora a crise e já cresce 14%

Apesar da expectativa de retração da economia e de estabilidade do Produto Interno Bruto em relaç&a...

Veja mais
Brasil entra no radar da americana Crocs

A indústria norte-americana Crocs, responsável pela fabricação de calçados de resina ...

Veja mais
Apesar da crise, Hering mantém plano de expansão

SÃO PAULO - Ao contrário de outras grandes companhias do segmento de vestuário, a Cia. Hering garan...

Veja mais
Castelo Alimentos prevê crescimento de 4% este ano

Mesmo em tempo de crise, a Castelo Alimentos, sediada em Jundiaí, estima crescimento de 4% este ano, mesmo &iacut...

Veja mais
Samsonite prevê vender 18% a mais neste ano

A americana Samsonite, fabricante de malas, vendeu no Brasil em 2008 400 mil unidades, entre malas, mochilas e acess&oac...

Veja mais
Páscoa chega recheada de impostos

A carga tributária de produtos tradicionalmente consumidos pelos brasileiros na Semana Santa e no domingo de P&aa...

Veja mais
Lego prevê expansão de 20% em receita

A Lego, empresa dinamarquesa do segmento de brinquedos para montar, fechou 2008 com aumento de 21% no faturamento em rel...

Veja mais
Exportador de frutas busca no país ânimo contra a crise

Embarques já recuaram, mas mercado interno ainda é sólido. "A marola foi um pouco maior. Possivelme...

Veja mais