O aumento dos gastos dos governos por meio de planos de estímulo poderá lançar o mundo em uma nova crise e já desencadeou uma volta da inflação, afirma o presidente do conselho de administração da Nestlé.
Peter Brabeck, um dos mais importantes líderes empresariais da Europa com seus cargos de vice-presidente dos conselhos de administração do banco Credit Suisse e da fabricante de cosméticos L´Oréal, disse ao "Financial Times" em uma entrevista que a atual recessão será "muito profunda" e "relativamente longa". Para ele, os déficits que estão sendo criados por muitos governos ao redor do mundo significam que "esta crise vai prosseguir por um período prolongado".
"O que mais me preocupa é que o que estamos fazendo hoje em alguns países poderá ser a base para uma nova crise... Os projetos de estímulo que estão sendo implementados agora significam que as impressoras [de dinheiro] começarão a funcionar e isso é claramente o começo da inflação", disse ele.
Os comentários vêm do presidente do conselho do maior grupo de alimentos do mundo e demonstram a grande preocupação de alguns empresários com a maneira como a reação à crise econômica poderá provocar grandes problemas.
Brabeck também alertou que os preços dos alimentos continuarão aumentando este ano, graças ao aumento da demanda mundial de 3% a 4%. Ele disse que a crise dos alimentos está "piorando" e que os mais pobres "estão sendo afetados muito duramente" por ela.
O executivo atribuiu parte do problema ao uso de alimentos na produção de biocombustíveis. "Eu acho absolutamente inaceitável o fato de estarmos usando alimentos para produzir biocombustíveis. Precisamos de 9,1 mil litros de água para produzir um litro de diesel puro. Isso não é sustentável."
Brabeck disse ver as medidas para estimular o setor financeiro como "absolutamente essenciais". Mas ele está preocupado com a intervenção estatal, que deveria ser "forte e curta", mas que agora está se transformando em ações governamentais "longas, superficiais e que continuarão ainda por muitos anos".
Ele acrescentou que os planos de socorrer os bancos e assumir os ativos tóxicos não envolveriam a necessidade de imprimir mais dinheiro, mas é exatamente o que está acontecendo com a maior parte dos planos de estímulo dos grandes países.
Brabeck foi presidente-executivo da Nestlé por 11 anos, antes de se tornar presidente do conselho de administração no ano passado. O grupo suíço é um dos poucos que vêm se saindo relativamente bem na recessão atual. (A estimativa da companhia é de obter um crescimento orgânico perto dos 5% este ano)
Ele vem tentando há muito tempo chamar a atenção para a possibilidade de falta global de água potável. Ele alerta que se o mundo continuar tratando a água como uma commodity sem preços determinados, "vamos ficar sem água muito antes de ficarmos sem petróleo".
Veículo: Valor Econômico