Com a paralisação dos caminhoneiros, o mercado físico do boi gordo ficou praticamente sem referência de preços nas praças de comercialização do País nesta quinta-feira. Frigoríficos não foram às compras e, com isso, consultorias que apuram diariamente as cotações da arroba bovina no País não conseguiram reunir número suficiente de negócios para formar uma média de preços.
A IEG FNP, de São Paulo, acompanha a comercialização de 28 praças pecuárias pelo País e em mais da metade delas não houve compra ou venda de animais para abate, informa o diretor técnico da consultoria, José Vicente Ferraz. A Scot Consultoria também observou a mesma situação. Com 32 mercados regionais para apuração de preços, em 27 não foi possível captá-los pelo restrito ou inexistente número de acordos fechados.
A XP Investimentos confirma a situação, informando em seu boletim diário que poucos compradores de gado saíram ao mercado de São Paulo nesta quinta-feira. "As referências de preço que vigoravam estão suspensas", diz a XP.
Assim, as cotações da arroba do boi gordo foram mantidas nesta quinta-feira em relação ao dia anterior em vários mercados pecuários do País. Na praça referência, São Paulo, a Scot Consultoria indicou, novamente, R$ 139/arroba à vista e R$ 140/arroba a prazo em Barretos e Araçatuba (SP). A IEG FNP também manteve a cotação de ontem no noroeste de São Paulo, a R$ 140/arroba a prazo. A XP apurou leve recuo de R$ 0,05/arroba em São Paulo, para a média de R$ 138,30/arroba à vista, "embora poucos negócios tenham sido consolidados", diz.
O diretor técnico da IEG FNP, José Vicente Ferraz, analisa que o movimento da indústria, de deixar de comprar bois gordos no mercado físico, diz respeito ao temor de acumular estoques de carne bovina nas câmaras frias - operação que é cara - e não ter como distribuir a produção, pela falta de transporte. Já do lado dos pecuaristas, Ferraz não vê, por enquanto, problemas muito sérios em manter os animais um tempo a mais no pasto. "Se estivéssemos em plena época de confinamento (de bovinos), os custos diários com ração, à base de milho e soja, poderiam ter um efeito maior", compara. "Mas agora ainda não há um número grande de animais confinados, só a pasto." Para ele, problemas mais graves decorrentes da paralisação dos caminhoneiros ocorrem nos segmentos de aves e suínos, que dependem de ração, e não de pastagem, para garantir a alimentação dos animais.
O consultor Alex Lopes, da Scot Consultoria, também acredita que a suspensão das compras enquanto durar a paralisação dos caminhoneiros diz mais respeito à preocupação da indústria em não conseguir escoar a carne bovina e formar excesso de estoques. E, pensando mais à frente, quando o movimento de protesto dos transportadores acabar, Lopes aponta o risco de haver uma pressão baixista na arroba do boi gordo. "Pode haver um excesso de animais ofertados e que estavam 'represados' nas propriedades", diz Alex Lopes. Ele comenta, porém, que essa pressão deve apenas ser momentânea, já que o setor de pecuária bovina está entrando na entressafra de animais e a tendência é de alta para a arroba. "Entretanto, embora o consumo de carne vermelha venha dando sinais de recuperação, os frigoríficos têm trabalhado bem ajustados e só devem comprar o que conseguirem vender", acrescenta, "sem formar estoques nas câmaras frias".
A XP Investimentos confirma a falta de referência de preços nas praças pecuárias e informa que um dos grandes frigoríficos atuantes no País "não vem divulgando preços (da arroba) de nenhuma de suas plantas desde ontem (23)". "O mercado físico está sem referência", diz a XP, acrescentando, porém, que as escalas de abates estavam confortáveis para os frigoríficos, com animais suficientes para cinco a seis dias úteis de trabalhos. "São bovinos que já estão negociados e só não foram entregues por causa da dificuldade de transporte", informa a consultoria. Assim, a indústria, quando compra, já negocia lotes somente para depois de 4 de junho.
O maior risco para o setor produtivo, caso o movimento dos caminhoneiros se prolongue, diz Ferraz, da IEG FNP, é o desabastecimento de carnes ao consumidor, "que pode aumentar o preço da proteína" e o não cumprimento de contratos de exportação por parte da cadeia de carnes. "Deixar de cumprir esses contratos é sempre muito ruim", diz Ferraz. Além disso, as indústrias também podem amargar prejuízos com a ociosidade das unidades de abate. "Os custos fixos são muito altos para os abatedouros ficarem parados", comenta. (Tânia Rabello, tania.rabello@estadao.com)
Fonte: Broadcast Agro