A Athos Farma, que até o ano passado ocupava a posição de quarta maior distribuidora de medicamentos do país, entrou com pedido de recuperação judicial para proteger-se dos credores. O pedido foi feito na semana passada ao juiz da 4ª Vara Civil de Duque de Caxias, na Baixa Fluminense (RJ).
Por conta das dificuldades de obtenção de crédito nos últimos tempos, a Athos Farma acumulou passivo de cerca de R$ 360 milhões com bancos e indústrias farmacêuticas. O pedido de recuperação judicial exclui a ANB Farma, também controlada pelo grupo.
A situação da distribuidora de medicamentos, que cresceu de forma acelerada nos últimos anos, agravou-se em abril com a liquidação antecipada do Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (Fidc), no valor de R$ 190 milhões, que havia sido lançado seis meses antes. Vários credores aproveitaram a oportunidade do Fidc para trocar suas dívidas e ganhar os recebíveis da empresa. O Bradesco, por exemplo, recebeu R$ 30 milhões e eliminou toda a sua exposição ao risco da empresa.
A Athos Farma tinha acordado em agosto vender 25% do seu capital para a Alliance Boots, o gigante grupo com ampla atuação na área de distribuição e varejo farmacêutico na Europa, mas as dificuldades financeiras da Athos levaram à desistência do negócio. Uma redução expressiva do crédito por parte da Athos permitia contratualmente a saída da Alliance Boots do negócio.
Com o aperto de crédito e dificuldades para honrar compromissos, a Athos tentou uma reestruturação da dívida com os credores - por parte dos bancos, Santander, HSBC, Banco Votorantim e Itaú BBA lideraram a operação. Um acordo preliminar de reestruturação da dívida, que previa prazos de três a oito anos para pagamento do passivo, e um plano de negócios chegaram a ser negociados com inúmeras indústrias e alguns bancos. Mas uma das instituições exigiu o ingresso de dinheiro novo (mais R$ 70 milhões) e o acordo final não foi fechado.
Com o pedido de recuperação judicial, a expectativa da Athos é obter uma proteção junto aos credores na tentativa de reverter a frágil situação financeira da empresa. "[...]Agora trabalhamos para fazer a empresa retornar a operar comercialmente o mais rápido possível, voltando a ser um participante ativo do mercado de distribuição farmacêutico. Estamos convictos da existência desse espaço no mercado atual", disse a Athos em nota distribuída aos credores, a qual o Valor teve acesso.
A crise da Athos levou ao fechamento de centros de distribuição e à demissão de quase metade dos funcionários. O faturamento de R$ 2 bilhões anuais - obtido antes da crise - encolheu substancialmente nos últimos meses, fazendo com que a empresa perdesse participação no mercado. Mesmo assim, a Athos aguarda, se o plano sair, o retorno da Alliance Boots. Emissários do grupo inglês estiveram recentemente no Brasil conversando com os credores. Segundo os fabricantes, um dos grandes diferenciais da empresa é sua forte atuação no segmento de médias e pequenas farmácias, especialmente as localizadas no Nordeste e o reduzido passivo fiscal da Athos na comparação com outras distribuidoras.
Aporte de recursos vai capitalizar a Panarello
O aporte de recursos do grupo alemão Celesio - via aumento de capital - na Panpharma será destinado exclusivamente para a capitalização da maior distribuidora de medicamentos do país, garantiu Alexandre Panarello, de 32 anos, novo presidente do grupo. "A intenção é consolidar a liderança e elevar o crescimento da empresa."
Depois da conclusão, durante a semana passada, do "due dilligence", o grupo alemão Celesio anunciou na sexta-feira a aquisição de 50,1% das ações da Panpharma, que inclui as distribuidoras Panarello, American Farma e Sudeste Farma. Juntas, elas possuem 17% de participação do mercado atacadista de medicamentos com vendas líquidas de R$ 3 bilhões em 2008. A Panpharma, criada em Goiás em 1975 e que cresceu com generosos incentivos fiscais, alegou confidencialidade do valor da negociação. Estima-se um aporte de ao redor de R$ 400 milhões, segundo apurou o Valor. A intenção inicial era adquirir 54% das ações.
Segundo Panarello, o grupo alemão procurou a empresa no início de 2008 em busca de oportunidade de crescimento no Brasil. "A família achou a proposta interessante porque permite uma gestão compartilhada." A Celesio atua em 14 países, como Alemanha, França e Portugal, com vendas de € 21,8 bilhões em 2008. Para Panarello, os modelos de gestão da Celesio encontrados em vários desses países preservam a gestão e a cultura local da empresa.
A família brasileira continuará na gestão, além de deter assentos no conselho de administração da distribuidora - seu fundador Paulo Panarello Neto, de 59 anos, será o presidente do "board". Executivos da Celesio vindo das operações do grupo alemão em Portugal ocuparão dois dos sete cargos de direção, supervisionando as áreas operacionais, tecnológicas e de logística. O acordo de acionistas é por prazo indeterminado, mas os alemães têm a opção de comprar o restante das ações.
Panarello descartou com veemência o ingresso da distribuidora no varejo farmacêutico - a Celesio possui 2,3 mil farmácias em alguns países da Europa, atuando tanto no atacado como na venda ao consumidor. "O modelo brasileiro é diferente. Não posso competir com a minha fonte de receita", disse, acrescentando não temer a concorrência das redes de drogarias nem do ingresso maior dos supermercados nas relações com a indústria farmacêutica. "Esse processo é muito incipiente, e a dimensão continental do Brasil dificulta muito isso."
Com a Celesio, Panarello quis também enfatizar as mudanças no setor com ações que "banalizam a informalidade e geram maior transparência" como a adoção da nota fiscal eletrônica e do modelo de substituição tributária em São Paulo.
Veículo: Valor Econômico