Abílio Diniz, 72 anos e prestes a ser tonar pai pela sexta vez - em novembro nasce Miguel -, preside o conselho de administração da maior varejista do país, o Grupo Pão de Açúcar. É conhecido por seu temperamento forte, mas ontem, vestindo camisa polo preta e calça de sarja cinza escura, parecia mais relaxado e sorridente. Um executivo muito diferente de quase 20 anos atrás. "1990 foi meu ano de transformação. Enfrentei um sequestro, brigas na família e o Pão de Açúcar quase quebrou", diz.
Ontem, no meio da tarde, parecia satisfeito com os resultados apresentados pelo grupo no segundo trimestre - aumento de 155% no lucro líquido, para R$ 131,72 milhões, e uma receita líquida de R$ 5 bilhões, ou 18,1% maior do que o apurado no segundo trimestre de 2008.
Havia feito uma reunião, pela manhã, com analistas de bancos, e avaliava que a percepção desses especialistas em relação ao seu negócio havia melhorado. "Ontem [quarta-feira] batemos em mais de US$ 50 na bolsa, um objetivo nosso que parecia inatingível. Mas agora chegamos", disse ele, referindo-se à cotação da ADR do Pão de Açúcar negociada em Nova York. Pede à secretária que lhe traga o telefone celular para checar a ação na Bovespa. O papel do Páo de Açúcar, às 16h10, caía 1,55% e o índice Bovespa, 0,35%. Ele não se abalou. "Com o Pão de Açúcar é assim mesmo, sobe no boato e cai no fato". No fim do pregão, o papel da varejista aprofundou a queda, para 2,26%. A queda do Ibovespa foi de 1,12%.
Diniz está otimista com o andamento da economia nacional. O grupo trabalha atualmente com a previsão de que o consumo das famílias cresça 1,2% neste ano, mas ele acredita que esse percentual possa ser maior. "O governo [federal], no conjunto do seu trabalho, faz um trabalho muito bom. Aumentou a renda dos mais carentes e, neste ano de crise, substituiu a demanda externa pela interna".
O crescimento da classe C, que já soma cerca de 100 milhões de pessoas, já é acompanhada pelo grupo Pão de Açúcar, cuja bandeira de mesmo nome é considerada um supermercado onde o consumidor de mais alta renda compra, há algum tempo. A decisão de dobrar de tamanho a rede Assai, que mistura os modelos de varejo e atacado, mostra o foco no comprador de menor renda. A rede, que tem hoje 32 lojas, deve iniciar 2011 com 62. E há a possibilidade de converter outras bandeiras do grupo (Pão de Açúcar, Extra e Compre Bem) para a de "atacarejo".
Perguntado se está satisfeito com a presença do grupo no Nordeste, Diniz responde que, sim, mas não o suficiente. "Há estados onde temos apenas um ou duas lojas. Isso não é suficiente". Observa que o comando da varejista, capitaneado pelo consultor Claudio Galleazzi, deverá voltar a discutir o planejamento estratégico do grupo no fim deste mês.
O orçamento, que prevê investimentos em torno de R$ 1 bilhão, será cumprido, afirmou o empresário. O grupo trabalha com a meta de abrir 97 lojas neste ano, sendo 50 Extra-Fácil, 8 Assai, 6 Pão de Açúcar, 4 Extra, 10 lojas em postos de gasolina e 15 em drogarias. Eventuais aquisições - "estamos sempre olhando", diz ele, devem ter fundings fora do orçamento já acertado para o ano.
Mas não é apenas o lado profissional que parece deixar Abílio Diniz mais sorridente. Ele está animado com o site pessoal que vai ao ar na próxima segunda-feira, com informações sobre nutrição, esportes e envelhecimento. O empresário havia pensado em fazer um programa em um canal de televisão aberta, mas depois de gravar dois deles, na TV Record, desistiu. "Não gostei, ficou parecendo algo amadorístico."
Para divulgar suas experiências e ideias sobre como ter qualidade de vida e ser bem-sucedido nos negócios, contratou a Trip Editora, que nos últimos 12 meses gravou muitos vídeos com Abílio e especialistas em diversas áreas. Eles serão mostrados no site, onde haverá espaço para enviar perguntas ao empresário.
Com a família, Diniz diz estar feliz. Com os quatro filhos adultos, a relação é tranquila, afirma, e com a filha Rafaela, de 5 anos, toma café da manhã e assiste a filmes, como "Peter Pan". "O lado triste é que quando Rafaela tiver 47 anos (idade da filha mais nova), eu não estarei mais aqui".
Com a Fundação Getúlio Vargas (FGV) e o Insper (ex-Ibmec) Abílio Diniz vem conversando para tentar estruturar um curso para recém-formados, com duração de 4 a 6 meses. "Não existe curso de liderança no Brasil. Eu sou líder e posso passar minha experiência adiante", diz ele, que tem admiração por um único empresário do varejo mundial: Michel Fournier, o empresário, já morto, que em 1963 abriu o primeiro hipermercado do mundo com a bandeira Carrefour. Aos vivos, Abílio Diniz, tem respeito.
Veículo: Valor Econômico