Jales aprende a cultivar e a lucrar com uva niagara

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Município, habituado a variedades como itália, rubi e benitaka, introduz a niagara e colhe mais na entressafra

 

Em plena colheita, produtores de uva de entressafra da região de Jales (SP) estão rindo à toa com os preços pagos pelo quilo da fruta, 20% maiores em relação a 2008 - o quilo da uva niagara subiu de R$ 2,70 para R$ 3,30 e o da itália de R$ 2,40 para R$ 2,90. A expectativa é que os preços cheguem, respectivamente, a R$ 3,60 e a R$ 3,10 até o fim da colheita, em novembro, quando só então começa a safra normal.

 

Com tanta euforia e possibilidade de ganhos, os produtores já escolhem onde vão investir. "Este ano, a produção foi boa e os preços estão sendo melhores ainda. Pode ser que cheguem a R$ 3,60. Se isso acontecer, vou comprar uma casinha na cidade", diz o viticultor Marciano da Silva, do Sítio Ouro Verde, de 6 hectares.

 

Segundo ele, há tempos a uva se tornou a principal atividade do seu sítio, que antes era tomado por pomares de laranja. Silva vai colher 45 toneladas de uva em menos de 2 hectares. Tirando os custos de produção, a receita líquida deve ficar entre R$ 75 mil e R$ 95 mil. "Nunca conseguiria ter esse lucro com as laranjas", diz. Ele conta que os preços da colheita de 2008 já tinham sido bons. "Mas agora estão melhores ainda. Com o dinheiro do ano passado, comprei uma caminhonete para usar aqui no sítio, agora vou ver se dá para comprar uma casa na cidade."

 

JÁ NO EMBARQUE

 

Parte da produção de Silva já foi colhida e embarcada na semana passada para São Paulo e Campinas, destinos da maior parte das 10 mil toneladas de uvas que serão colhidas nos 440 hectares de videiras em Jales. As duas variedades mais cultivadas são a itália e a niagara, mas outras variedades, como benitaka, isabel, moscato jundiaí e até a bordeaux - cuja produção nesta região quente do Estado seria impossível, na visão de muitos técnicos - também são cultivadas, embora em menor proporção.

 

Nos últimos anos a niagara vem tomando espaço da itália por causa da maior remuneração e do menor custo de produção. A grande maioria das plantações, tanto de itália quanto de niagara, que correspondem a mais de 90% dos cultivares, é mantida em sistema de agricultura familiar, cuja mão de obra é garantida pelos próprios donos da propriedade.

 

Na Chácara Santa Maria, a família Ramazoto espera colher 70 toneladas de uvas em 2,5 hectares. "A nossa intenção é comprar um trator novo para as atividades, ampliar o nosso armazém e investir ainda mais na produção de uvas niagara", diz um dos três filhos do patriarca José Ramazoto, Adriano Ramazoto, cuja família sobrevive da renda da viticultura. "Os preços devem fechar como os melhores dos últimos anos", diz Adriano.

 

Segundo ele, o lucro deve chegar a R$ 110 mil, já descontados o gasto com a mão de obra prestada pelas famílias, cerca de R$ 22 mil, e os custos de produção, outros R$ 22 mil. O valor do lucro representa um aumento de 20% em comparação com o resultado de 2008, cujos rendimentos serviram para a família bancar a instalação de mais 1 hectare de pomares para o plantio de uvas niagara, uma variedade mais rústica e resistente às intempéries climáticas.

 

Otimismo nos parreirais chega ao comércio

 

O clima de otimismo na roça chegou à cidade. O comércio de Jales espera receber grande parte dos R$ 35 milhões que a colheita deve injetar na economia do município, especialmente com o comércio de implementos agrícolas, sobretudo de tratores especiais para cultivo de uvas e equipamentos de irrigação para os pomares. Conforme o livro Uvas rústicas de mesa, publicado após o 1º Simpósio Brasileiro de Uvas Rústicas, realizado em setembro de 2008 em Jales, as vendas de tratores aumentaram 212% entre 2006 e 2008. Já as vendas de caminhonetes para viticultores cresceu 30%, de um ano para outro.

 

"O nosso relatório interno informa que as vendas de tratores e implementos de irrigação devem subir 150% este ano, o que obrigou nossos fornecedores a criar dois turnos de produção para cumprir os prazos", diz o vendedor José Luiz Fação Júnior, da Jima, a maior revenda de sistemas de irrigação e implementos agrícolas do município. Segundo ele, além da maior remuneração, prazos de financiamento estendidos justificam o aumento das vendas.

 

VINHOS TAMBÉM

 

A produção de uva deu tão certo em Jales que os produtores acabaram encontrando na fabricação de vinhos artesanais uma forma de complementar a renda. No Sítio Santo Antônio, Sebastião Santim e sua esposa, Neusa Santim, passaram a cultivar, além da niagara, em 2 hectares, mais meio hectare de variedades como moscato jundiaí, máximo, isabel, cabernet sauvignon e bordeaux, para fabricar vinhos artesanais.

 

Na colheita deste ano, 25% dos lucros serão obtidos com a venda do vinho, cuja produção saltou 70%. "No ano passado fabricamos 1.800 garrafas; este ano teremos uva para fabricar 3 mil garrafas", diz Sebastião Santim.

 

Parte do vinho será fabricada com uvas bordeaux, novidade na região. "Quando comentei que gostaria de plantar essa variedade, um técnico da Embrapa me disse que isso seria impossível. Hoje, vejo que não é verdade", diz Santim, enquanto observa as videiras carregadas, em 2 mil metros quadrados, próximas de sua casa, onde instalou uma adega e uma cantina. Cada garrafa é vendida diretamente ao consumidor por R$ 7.

 

"É um dinheiro que entra durante o ano todo e acaba ajudando muito nas despesas", diz. Detalhe: parte da uva usada na fabricação do vinho, que ocorre por seis meses durante o ano, sai de lotes de niagara que não possuem qualidade para mesa.

 

De acordo com Santim, a colheita deste ano deve lhe proporcionar um rendimento de 30% a 40% maior do que a do ano passado, quando pôde trocar de carro. "Consegui vender meu carro 1989 e comprar um zero-quilômetro. Este ano, pretendo comprar um lote na cidade para construir uma casa", diz, sorrindo.

 

Veículo: O Estado de S.Paulo


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