meros que começam a ser divulgados pela matriz da rede de supermercados Dia, sediada na Espanha, a respeito da operação brasileira revela o desempenho da varejista no país - algo historicamente mantido sob sigilo - e mostra a posição do Brasil nos planos de crescimento do grupo até o ano de 2014. O Dia é a maior cadeia de supermercados com franquias no mundo e no ano passado passou por uma separação ("spin off") da controladora Carrefour.
De acordo com dados apresentados ao mercado no fim do ano passado, a receita líquida da varejista no país cresceu 19,4% de janeiro a setembro de 2011, ao atingir €882 milhões no período (R$ 2,053 bilhões). Esse valor exclui os ganhos dos franqueados.
A taxa de 19,4% é a segunda maior taxa de crescimento entre os sete países onde a cadeia opera no mundo. Perdeu para a Argentina, que cresceu 20%. A rede Dia também tem subsidiárias na Espanha, Portugal, França, Turquia e China.
As vendas líquidas de 2011 não foram anunciadas ainda, mas se no último trimestre (o melhor do ano) a rede apenas repetir o resultado apurado de julho a setembro, terá vendas líquidas de R$ 2,76 bilhões no ano. Isso colocaria a cadeia na quinta colocação do ranking do setor, atrás do Grupo Pão de Açúcar, Carrefour, Walmart, e Cencosud. Deve empatar com a rede gaúcha Zaffari, com vendas líquidas estimadas pelo mercado de R$ 2,7 bilhões em 2011.
Em termos de valor Ebitda (ganho antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado em 2011, o Brasil foi o principal responsável pela alta na soma registrada nos países emergentes (o país responde por metade das vendas do Dia nos países em desenvolvimento). O Ebitda até setembro subiu 65% sobre igual período de 2010 - com alta na margem Ebitda de 1,3% para 1,9%.
"Somos a maior operação do mundo em termos de potencial de crescimento futuro", diz Renato Giarola, diretor comercial do Dia Brasil. A rede soma 450 lojas no país e abriu 70 pontos em 2011, recorde de aberturas do varejo alimentar no ano. Apenas o Walmart abriu o mesmo número de unidades, mas ao incluir na contas as inaugurações de lojas de atacado e centro de compras.
Discreta e avessa a aparições públicas, a linha de frente do Dia no Brasil mudou em abril de 2011. Saiu o espanhol Carlos Villar e em seu lugar entrou o argentino Freddy Wu. Villar saiu porque queria voltar à Espanha e a entrada de Wu foi vista como uma "mudança pela continuidade", diz um executivo próximo ao Carrefour, controlador do Dia. "As metas estão mais agressivas, até para compensar a perda de fôlego na Europa. Freddy tem sido pressionado para entregar mais", diz ele.
O Dia já informou aos investidores que o objetivo é fazer com que Brasil, China, Argentina e Turquia sejam responsáveis por 30% das vendas do grupo até o fim de 2013, como consta em material publicado aos acionistas. Essa fatia passou de 22% para 25% entre 2010 e 2011. Neste ano, os quatro países superaram pela primeira vez a França, responsável por 24% das vendas. "Apesar da crise, a rede vai bem, cresce mais que o Carrefour [a taxa de crescimento no mundo é o dobro da rede francesa]. Mas eles sabem que podem ser mais rentáveis nos mercados emergentes", diz Manoel Araújo, da Martinez de Araújo Consultoria de Varejo.
Para chegar lá, as lojas no Brasil terão que vender quantidades maiores de produtos porque o modelo de crescimento do Dia baseia-se no aumento progressivo do volume vendido, com foco na abertura de pontos pequenos com custos muito baixos. O Valor apurou que o custo de operação do Dia varia de 5% a 6% da receita no país. Em supermercados em geral, o custo operacional atinge 10%. Com lojas de 400 a 1.000 metros quadrados e não mais de 3,5 mil itens, a rede repassa esses custos menores aos preços - em média, 10% abaixo do mercado.
Um terço das 450 lojas do Dia no Brasil são franquias (eram 25% há dois anos). A rede não cobra royalties e taxa de publicidade e controla os associados com rigor. "Para se ter uma ideia, a franquia tem prazo de só 3 dias para pagar uma entrega. Dizem que isso é para o franqueado não cair na tentação e fazer bobagem com o dinheiro", afirma um ex-franqueado.
Veículo: Valor Econômico