O segundo emprego de Abilio

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Pela primeira vez, o empresário brasileiro está à frente de uma empresa que não o Pão de Açúcar. Saiba quais são os seus planos para a BRF

Por Ralphe MANZONI JR. e Rodrigo CAETANO

Desde os 12 anos de idade, o empresário Abilio Diniz dá expediente no Pão de Açúcar, empresa fundada por seu pai, Valentim dos Santos Diniz, em 1948. Enquanto trabalhou na rede varejista, ele protagonizou diversas batalhas, inclusive com seus irmãos, para se manter no controle da operação, que acabou passando para o grupo francês Casino. Na quarta-feira 10, Diniz, aos 76 anos, estreou em um novo emprego. “Nunca tive outra casa para trabalhar que não o Pão de Açúcar”, disse ele, em sua primeira entrevista como presidente do conselho de administração da BRF, a maior empresa de alimentos processados do Brasil, com receita líquida de R$ 28,5 bilhões. “Meu sentimento é um misto de emocionado e inquieto.”
 
Diniz, que substitui no posto o executivo Nildemar Secches, o homem que moldou a BRF a partir da fusão da Sadia e da Perdigão, acumula agora a presidência de dois conselhos de administração, pois mantém o cargo no Pão de Açúcar. Mas passa a viver uma situação, no mínimo, inusitada. Na rede varejista, na qual sua participação é de 19,5% do capital votante, ele teve seu poder de decisão reduzido, desde que o Casino assumiu o comando da companhia, em julho do ano passado. Na BRF, com apenas 3% das ações, Diniz é quem tomará as rédeas do negócio, apoiado por uma votação de 62,23% do capital presente à assembleia que referendou o seu nome. Seus principais aliados são o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, a Previ, e a gestora de recursos Tarpon.
 
Maior acionista, a Petros, dos empregados da Petrobras, absteve-se na votação. Diniz teve apenas 6,08% dos votos contrários, entre eles o do empresário catarinense Décio da Silva, presidente do conselho de administração da fabricante de motores Weg. Logo em seu primeiro dia, os executivos da BRF conheceram o estilo de Diniz – um chairman que gosta de colocar a mão na massa, tanto que dava expediente na mesma sala onde trabalhava a diretoria executiva do Pão de Açúcar. De manhã, ele participou de uma videoconferência com os funcionários, na qual respondeu a perguntas. Na sequência, reuniu-se com 70 dos principais executivos. Na ocasião, pediu para que “revisitem” a empresa.
 
“É uma ótima oportunidade para encontrarmos novos modelos de negócios”, disse Diniz. Duas consultorias devem ser contratadas para ajudá-lo nessa tarefa. Uma delas, dada como certa por fontes consultadas por DINHEIRO, é a Galeazzi & Associados, do consultor Claudio Galeazzi, parceiro de longa data de Diniz. Galeazzi, reconhecido pela sua habilidade em reestruturar empresas em dificuldades financeiras, chegou a presidir o Pão de Açúcar de 2008 a 2010. Atualmente, faz parte do conselho de administração da varejista, indicado pelo ex-patrão. Alegando ter acabado de assumir, Diniz não detalhou seus planos para a BRF. O certo é que não se esforçou e investiu tanto para sentar em sua nova cadeira para deixar tudo como está.
 
Prova disso é que sua eleição partiu de uma movimentação da Tarpon e da Previ, insatisfeitas com o desempenho da BRF. Os dois acionistas acreditam que a BRF poderia melhorar sua margem líquida, atualmente na casa dos 10%, e aumentar a sua fatia do faturamento em produtos processados, como pratos prontos. Com isso, reduziria a dependência de produtos in natura, como cortes de carnes e aves. O objetivo é ser uma empresa de R$ 50 bilhões em 2015. Uma das primeiras medidas de Diniz como chairman foi congelar os planos de criar um “quartel-general” internacional, que seria comandado por José Antônio Fay, atual CEO da BRF. “Já se esperou tanto tempo para definir isso, não custa nada esperar mais um pouco”, afirmou o empresário. Fay, no entanto, permanecerá à frente das operações da BRF, cargo que ocupa desde 2009.
 
“O conselho mudou, é natural que os projetos sejam revistos”, afirmou Fay, que estava ao lado de Diniz no encontro com a imprensa, na quarta-feira 10. Isso não significa paralisar os planos de internacionalização da companhia, que já atua em 140 países. Ao contrário. De acordo com Diniz, a BRF detém 65% do seu mercado no Brasil. “Uma empresa com essa participação no mercado interno precisa se voltar para o Exterior”, afirmou o empresário, que, entre os anos 1970 e o início dos anos 1990, levou o Pão de Açúcar a Portugal, sua única experiência nessa área. “Para manter o crescimento dos últimos anos, a BRF precisa buscar o mercado externo”, diz Henrique Koch, analista do BB Investimentos. Diniz não terá sala nem secretária na BRF, pelo menos neste momento.
 
Mas disse que pretende se dedicar pelo menos duas horas por dia à empresa, reunindo-se com Fay e os vice-presidentes. “Quero excesso de velocidade, mas sem apressar nada”, disse Diniz. O empresário também terá de conseguir tempo para enfrentar o Casino, do empresário Jean-Charles Naouri. O atual controlador do Pão de Açúcar já pediu, em duas ocasiões, que ele renuncie à presidência do conselho, pois acredita que há conflito de interesse por Diniz ocupar o mesmo cargo na BRF e no Pão de Açúcar. “A bola agora está com ele”, diz uma fonte do Casino. Não está claro até o momento, segundo fontes consultadas por DINHEIRO, como agirá o grupo francês: se tomará alguma medida ou agirá de forma branda. Uma pessoa ligada a Diniz acredita que o Casino não jogará pesado contra o empresário. “Se os franceses entrarem na Justiça, a chance de perder é grande”, diz essa fonte. “É o tipo de risco que o Naouri não gosta de correr.”


Veículo: Revista Isto É Dinheiro


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