Apontada como capaz de economizar tempo e aumentar a assertividade de processos como inventário e logística, a tecnologia RFID (identificação por rádio-frequência) começa a abrir espaço no varejo brasileiro. Mas ainda está longe de oferecer custos e vantagens suficientes para atrair a adesão de toda a cadeia supermercadista, principalmente dos fornecedores, o que permitiria o aproveitamento completo dos benefícios da identificação individual de produtos com leitura imediata por antenas, sem necessidade de coleta manual de dados.
Mesmo assim, além da presença de fornecedores, a Memove, rede varejista de moda do grupo Valdac, mostrou na feira da Apas, na semana passada, os benefícios da adoção da tecnologia - uma das soluções sustentáveis utilizadas para formar diferenciais competitivos da bandeira, baseados em inovação.
A bandeira nasceu em 2011 para ocupar o nicho de mercado criado com a ascensão da classe média, situando-se entre os magazines e as lojas monomarcas com foco no atendimento das classes emergentes com solução inovadora. O posicionamento levou o grupo, hoje com 140 lojas das marcas Siberian e Crawford, a buscar o tema sustentabilidade em tecnologia como um meio para viabilizar a startup, com adoção de um conjunto de soluções que incluíram iluminação 100% LED, pisos elevados e forro por aletas, com economia de recursos como mão de obra, água, ar condicionado, energia elétrica e manutenção.
O RFID é a cereja do bolo. Cada produto carrega uma etiqueta na qual um chip porta código eletrônico de 96 bits, em conformidade com o manual desenvolvido para normatizar a aplicação pelos 60 fornecedores da marca. No centro de distribuição, o portal de leitura confere 8 mil peças por hora e 100% das caixas são conferidas. No centro também é feito o mesmo processo pelo sistema tradicional, por leitura manual de código de barras por meio de coletores. "Usamos 50% menos pessoas e eliminamos divergência de faturamento com o RFID", descreve o diretor de operações e vendas Luiz Martinelli.
Nas lojas, as informações dos produtos são captadas nos caixas, com eliminação do processo de bipagem peça a peça e do alarme tradicional com bolachas e pin - o chip porta o código de alarme, desabilitado no pagamento. O processo de inventário ganhou ciclos bimestrais, já que um coletor consegue registrar 30 mil peças em quatro horas. O sistema tradicional exigiria de 12 a 15 pessoas trabalhando oito horas cada, já que em média um homem-hora bipa 300 peças. "Os ciclos mais rápidos indicam desvios e permitem agilidade nos ajustes, otimizando a prevenção de perdas", diz o executivo.
Segundo ele, a tecnologia permitiu reduzir o índice de ruptura do varejo (a falta de produtos nas gôndolas dos supermercados) de 0,85% para 0,55%.
Com a possibilidade de acompanhar a movimentação da mercadoria, o próximo passo é entender melhor o que acontece dentro do provador. Para seguir um conceito de sala de visitas, as lojas oferecem redes wi fi e ipads para interação. "Devemos chegar a 2015 com 50 lojas de 1.000 m2 ", antecipa Martinelli.
Especializada em sistemas de gestão para a cadeia de abastecimento, a PC Sistemas, adquirida pela Totvs no começo do ano por R$ 95 milhões para preencher uma lacuna na oferta de soluções de supply chain, aproveitou o encontro da Apas para lançar o sistema de identificação WinThor RFID com parceiros como a Intermec, especializada em sistemas de transmissão de dados e fornecedora de antenas e coletores de dados específicos para a tecnologia. "A solução permite otimizar entrada, saída e inventário, e criar soluções como carrinhos de compras equipados com tablets que leem os produtos da loja", diz o diretor comercial da PC, Ademar Alves.
Segundo ele, o supermercado Baikal, de Goiânia, já utiliza a tecnologia para entrada, saída e inventário de mercadorias e está testando protótipo de carrinho inteligente para frente de loja. "Estamos percebendo mais interesse do varejo. Temos pilotos em andamento e devemos ter pelo menos um cliente este ano", acrescenta o diretor de soluções e performance store da Plastrom Sensormatic, Carlos Eduardo Santos. Por enquanto o uso na vertical de supermercados seria concentrado na logística, principalmente como etiqueta de romaneio (listagem) nas caixas, otimizando o trânsito das mercadorias dos centros de distribuição para as lojas.
Outra tecnologia adotada pela Memove foi o self-checkout, que hoje responde por 30% das vendas. A RMS aproveitou a Apas para exibir solução deste tipo, desenvolvida com software da marca e equipamento Fujitsu. Segundo o diretor Claudio Reina, a solução já está em uso em duas lojas da rede paranaense de supermercados Muffato. "Melhora em 20% o atendimento na frente de caixa", defende.
Veículo: Valor Econômico