O círculo se completou. Há dez anos a varejista francesa Carrefour vendeu alguns shoppings para a empresa de imóveis Klépierre. A lógica era que varejistas deveriam se ater ao varejo e administradoras de propriedades, aos imóveis. Agora, o Carrefour comprou de volta os shoppings por € 2 bilhões, sob a lógica de que o acordo se encaixa em sua estratégia de "voltar ao básico". O que houve com a lógica da separação entre empresa de propriedades e empresa operacional?
O acordo é uma resposta pragmática a um problema estratégico. Os 127 centros comerciais estão todos ao lado de hipermercados Carrefour, em geral em regiões fora de áreas urbanas, próximos a cidades médias. A Klépierre, hoje, tem mais interesse em shoppings maiores, em cidades grandes. Talvez não estivesse tão comprometida quanto o Carrefour em atualizar os centros comerciais. A varejista, então, vai comprá-los de volta, num empreendimento conjunto. Vai entrar com outros 45 shoppings, dos quais já é dona, e ficar com participação de 42% na joint venture. Investidores institucionais, que ficarão com o resto, vão entrar com € 1 bilhão no patrimônio do empreendimento. A joint venture terá 172 empreendimentos e caixa para reformas.
O Carrefour poderá remodelar seus hipermercados, sabendo que os shoppings ao lado também o farão. E conseguiu isso sem grande aumento do endividamento. Nesse ponto, começa o trabalha árduo. Há bons motivos para a Klépierre ter mudado seu foco. Extrair bons retornos desses locais pode ser difícil. Mas o Carrefour, com 600 hipermercados na Europa, está casado com eles, goste ou não.
O CEO do Carrefour, Georges Plassat, teve um bom início ao recuperar a rede após alguns anos difíceis. O avanço em hipermercados foi maior que o de supermercados nos últimos trimestres. Mas isso é só o começo. As ações, em alta de 75% desde que Plassat traçou sua estratégia em agosto de 2012, levam em conta recuperação mais prolongada. Será preciso mais do que remodelar shoppings para conseguir isso.
Veículo: Valor Econômico