Varejo on-line cresce e pode quebrar redes tradicionais

Leia em 4min 20s

Mais rápido do que se imagina, o crescimento do varejo on-line vai exigir mudanças drásticas de comportamento das tradicionais redes que operam só com lojas físicas. Segundo um estudo da Bain & Company, há um ponto de inflexão econômico quando as vendas na internet alcançam 15% das vendas totais de uma determinada categoria. A partir disso, o que se vê, na prática, é o fechamento de lojas e falência de marcas.

Foi o que aconteceu com a Blockbuster, que quebrou quando as vendas de vídeos on-line alcançaram 17% do mercado; e com a rede de livrarias Borders, que fechou as portas antes que o mercado de livros on-line atingisse 24% do total. Em setembro, vendeu sua propriedade intelectual e base de clientes à concorrente Barnes & Noble.

De maneira geral, as vendas no comércio virtual estão canibalizando as vendas físicas no Brasil, uma vez que crescem a uma ritmo de 24,4% ao ano desde 2005, enquanto o varejo como um todo avança 11,8%, aponta um levantamento da Bain & Company.

O ganho de participação de mercado do varejo virtual deve continuar. No ano passado, as vendas on-line somaram US$ 9,8 bilhões no país. A previsão da consultoria é que esse número alcance US$ 22 bilhões em 2016, crescendo a uma taxa composta média anual (CAGR) de 18%, velocidade três vezes superior a das vendas totais no varejo no Brasil.

Darrell Rigby, sócio da Bain & Company e diretor global das áreas de varejo e inovação da empresa, explica que o avanço da penetração do e-commerce varia conforme a categoria. Em vestuário, as vendas on-line crescem numa velocidade bastante acima das vendas totais do setor. Até 2016, subirão a um ritmo médio de 30% ao ano, parte disso devido à migração do consumidor no canal de compras. "É surpreendente. Algumas pessoas não esperavam que roupas pudessem ser fáceis de vender pela internet", observa.

Rigby explica que na categoria de eletrônicos, a canibalização das vendas físicas é menos acentuada, pois o ritmo de avanço das vendas totais não é tão inferior ao crescimento do comércio virtual desses produtos.

Por enquanto, no Brasil, pouco mais de 3% do varejo total é representado pelo e-commerce, enquanto em países Estados Unidos e Inglaterra essa fatia varia entre 8% e 10%. Há um limite de patamar para essa parcela de vendas on-line dentro do total? "Não vai chegar a 100%", assegura Rigby. Para ele, sempre haverá espaço para as lojas de tijolo e argamassa, que proporcionam um experiência de compra única. "Se você ainda não sabe o que vai comprar, a loja física pode ser a melhor opção", comenta. No entanto, salienta, os consumidores chegam às lojas cada vez mais informados bem sobre os produtos, especialmente os jovens.

Rigby é adepto da ideia de que o varejo do futuro é multicanal, e, portanto, as grandes redes de hoje que querem permanecer vitoriosas em seus setores devem aprender a atuar com eficiência também pela internet. "Uma das maiores dificuldades neste momento de transição é o fato de os executivos no setor de varejo raramente virem da área de tecnologia da informação", ressalta.

Em boa medida, a resistência por parte das companhias em dar um passo a frente da concorrência em varejo digital vem também do temor de que a sua própria operação on-line "roube" escala das lojas físicas, impactando as margens de lucro. "Como, no início, as lojas virtuais têm escala pequena fica sempre aquela desconfiança no empresário: será que isso me dará mesmo um bom retorno?", explica Rigby.

Segundo ele, o modelo de negócio de varejistas que operam exclusivamente na web pode se traduzir em maiores taxas de retorno sobre o investimento e melhor avaliação dos investidores. Nos últimos cinco anos, a Amazon registrou retorno sobre capital de 17%. O seu valor de mercado no período foi de 115 vezes o seu lucro. Uma amostra de nove varejistas tradicionais analisadas pela Bain & Company tiveram, na média, taxa de retorno sobre capital de 9%, sendo avaliadas a 16 vezes o seu lucro pelos investidores.

"Se o consumidor quiser comprar pela internet, ele vai comprar pela internet. E para não perder participação de mercado, as companhias vão precisar estar preparados para atender esse desejo da melhor maneira", diz.

Apenas dispor de uma loja virtual, no entanto, não basta. É preciso inovar permanentemente. "Amazon e eBay continuam investindo agressivamente nisso", afirma. Em 2011, a Amazon destinou 5% do seu faturamento para pesquisa e desenvolvimento, enquanto a eBay gastou 10% da sua receita em desenvolvimento de produto.

Oferecer serviços de alta qualidade também é crucial. No Brasil, diz Rigby, esse é um ponto particularmente delicado, pois há um alto índice de consumidores que relatam terem tido experiências de compra on-line ruins, quase sempre ocasionados por problemas de logística. Inclusive, este é um dos motivos pelo qual a taxa de conversão no país ainda é menor do que em outros países. Cerca de 40% dos usuários de internet no Brasil já compraram algo em lojas virtuais, enquanto nos EUA, a taxa de conversão fica entre 60% e 65%.



Veículo: Valor Econômico


Veja também

Setor de TI aposta em soluções para o varejo

O varejo é um mercado pouco penetrado pelas empresas de tecnologia da informação (TI) e a segmenta&...

Veja mais
Mobilidade levará web ao tênis de corrida

Tecnologia que conectará à rede objetos do dia a dia, como eletrodomésticos e automóveis, &e...

Veja mais
Busca Descontos movimenta R$ 100 milhões em um dia

Empresa, que trouxe a versão brasileira do Black Friday para o país, fica atrás apenas do Google e ...

Veja mais
Projeto-piloto vai testar uso da NF-e no varejo em cinco estados

Adesão será mais fácil para empresas como shoppings e supermercadosRepresentantes dos estados de Am...

Veja mais
Concorrência beneficia os lojistas

Dois anos após a abertura do mercado de credenciamento, que possibilitou que um único terminal de leitura,...

Veja mais
Competição entre bandeiras fica maior

O desenvolvimento do mercado brasileiro, que cresce a uma taxa de 23% ao ano, a entrada de novas empresas no setor, as i...

Veja mais
Google lança ferramenta para patrão rastrear funcionários

Um novo serviço do Google Maps, serviço de geolocalização da empresa, vai acabar com a priva...

Veja mais
Magazine Luiza fecha acordo com a Cardif

Parceria permitirá a oferta de produtos de seguros pelo site ou nos pontos de venda da varejista  O Magazine...

Veja mais
Pontofrio.com firma parceria com SDonline

A parceria entre os portais de e-commerce Pontofrio.com e SDonline, site desenvolvido pela arquiteta Fernanda Marques pa...

Veja mais