Concorrência beneficia os lojistas

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Dois anos após a abertura do mercado de credenciamento, que possibilitou que um único terminal de leitura, o chamado POS, aceitasse todas as bandeiras de cartões de crédito, a briga das maquininhas ainda está concentrada nas duas grandes empresas do setor. Cielo e Redecard são donas de 90% do mercado de adquirência. Desde julho de 2010, quando caiu a exclusividade entre bandeiras e credenciadoras de cartões, a disputa entre as duas ficou mais acirrada e produziu efeitos como redução de custos para lojistas e serviços diferenciados.

A entrada de players estrangeiros e nacionais, ainda que esteja ocorrendo de forma gradual, tornou mais agressiva a competição entre as credenciadoras e deve provocar mudanças ainda mais profundas além das que já são visíveis. O impacto das mudanças ocorridas até agora teve reflexos em todos os agentes do setor: emissores, bandeiras, processadores, lojistas e clientes.

Segundo o diretor da Associação Brasileira das Empresas de Cartões e Serviços (Abecs), Raul Francisco Moreira, o processo de credenciamento é complexo, requer investimentos de formação da rede e de capacidade de processamento e garantias das transações.

Para ingressar num mercado tão rentável, que cresce a taxas superiores a 20% ao ano, as empresas necessitam de tempo para se preparar, dizem os especialistas. "É um processo gradativo, de longo prazo, que exige ajustes da credenciadora às normas de segurança das transações e às características do mercado local", afirma Moreira, destacando que não existem barreiras legais para o ingresso de novos competidores. A previsão da Abecs é de que o mercado de credenciadores será tão competitivo quanto o de emissores de cartão.

Além de se adequar às rigorosas normas de liquidação financeira do Banco Central, explica Moreira, a empresa precisa adaptar o sistema ao parcelamento sem juros pelo cartão de crédito, a nossa "jabuticaba". O parcelamento responde por mais de 50% das transações com cartão de crédito.

A americana Elavon, subsidiária do Citigroup, que começará a trabalhar de forma definitiva no país a partir de julho após uma fase de testes iniciada em fevereiro, demorou 10 meses para adaptar o sistema às necessidades e demandas do mercado doméstico.

Uma das etapas mais trabalhosas e que exigiu investimentos elevados foi a de parcelamento e antecipação de recebíveis, conta o presidente da Elavon, Antonio Castilho. Uma equipe de 400 profissionais, nos EUA, demorou meses para desenvolver as especificações made in Brasil para, entre outras coisas, parcelamento da fatura do cartão de crédito e antecipação de recebíveis, conta Castilho.

Nesse novo contexto, as líderes, por sua vez, tiveram de rever a sua estratégia de negócio. Reduziram custos para os comerciantes, desenvolvendo novos produtos e serviços sob medida para o comércio. A entrada do banco Santander no mercado de adquirência associado à empresa de tecnologia GetNet, em março de 2010, quatro meses antes do fim da exclusividade, contribuiu para acelerar a competição.

O valor do aluguel do terminal que faz a leitura dos cartões caiu e, em alguns casos, até deixou de ser cobrado. A taxa de desconto, paga pelo lojista à credenciadora sobre cada operação feita com cartão, baixou, em média 35%, de acordo com a Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL). Além disso, passaram a premiar com pontuação e bônus os lojistas fiéis aos POS, desenvolvendo sistemas de fidelização para os clientes.

A Cielo criou para o lojista que dá preferência a sua maquininha um sistema de cupons eletrônicos, que guarda informações sobre os clientes mais fiéis e os surpreendem com brindes e descontos quando a compra atinge determinado valor. A Redecard fechou parceria com a Multiplus e oferece programa de milhagens para os comerciantes que concentram operações em seus terminais de captura de cartões. E, recentemente, passou a oferecer a função crediário no cartão, que permite parcelamento de bens de consumo em 48 vezes, mas o lojista recebe o valor da venda em menos tempo (quatro dias) de uma só vez.

"Cielo e Redecard não querem entrar em guerra de preços. Querem fidelizar o lojista, que agora pode escolher com quem deseja trabalhar", afirma Boarnerges Ramos Freire, diretor presidente da consultoria Boarnerges & Cia.

Na disputa por uma fatia maior de mercado, o serviço de adquirência do Santander oferece um pacote integrado. Quanto maior o faturamento com a maquininha de leitura, mais descontos o lojista consegue nos produtos financeiros do Santander e mais facilidades. "Quanto maior o relacionamento do lojista com o banco, mais benefícios ele consegue", afirma o diretor de cartões do Santander, Cassio Schymura. Com 288 mil estabelecimentos credenciados até março, o banco já havia cumprido 96% da meta traçada para 2012. O objetivo é alcançar 10% do mercado até 2013.



Veículo: Valor Econômico


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