NF eletrônica chega ao consumidor

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A partir de janeiro, os consumidores que visitarem uma das 180 lojas da varejista de calçados Paquetá no país serão surpreendidos com um novo tipo de atendimento. Não será preciso esperar na fila do caixa para pagar pelo produto; o vendedor vai resolver tudo com um iPod ou outro dispositivo móvel. Por meio de um aplicativo instalado no aparelho, o vendedor também poderá sugerir opções caso não exista o produto no estoque, além de indicar bolsas e cintos para acompanhar a escolha. O consumidor entrega o cartão ao vendedor, que conclui a compra e entrega o produto. Para o consumidor, a nota fiscal chega por e-mail. Já o fisco é avisado on-line sobre a venda. Simples assim.

A mudança nas lojas da Paquetá - uma das maiores varejistas de calçados do país, com faturamento anual de R$ 1,1 bilhão - vai consumir investimentos de R$ 5 milhões e só será possível por conta da adoção da nota fiscal ao consumidor eletrônica (NFC-e), que promete uma revolução no varejo do país a partir do ano que vem. A NFC-e é a versão, para o consumidor, da Nota Fiscal Eletrônica (NF-e) já adotada nas operações de venda entre empresas (B2B).

Com a NFC-e, o lojista poderá emitir a nota fiscal a partir de qualquer dispositivo móvel, e não só em impressoras fiscais, como é hoje, o que elimina a figura do caixa. "Vamos transformar o layout das lojas e fazer com que os atuais caixas [funcionários] passem a atuar como uma central de atendimento, para abrir crediário e vender seguros, por exemplo", disse Gervásio Scheibel, gerente de sistemas de Informação da Paquetá.

Ao mudar para o novo sistema, o varejista poderá contar com uma economia de 30% a 50% dos custos que envolvem a emissão da nota hoje (impressora fiscal, papel e softwares de homologação). Além disso, há a burocracia do atual sistema: para funcionar, cada caixa precisa receber uma certificação de uma empresa terceirizada, indicada pelo Fisco. Isso impede, por exemplo, que um lojista abra mais caixas em determinado momento da semana ou do mês com maior fluxo de público. "O lojista precisa do aval desse terceiro para operar um caixa que já está instalado", disse Júlio Brandine, diretor da Tax Audit, especializada em softwares de venda para empresas e consumidores e no relacionamento digital com o Fisco.

A Tax Audit atende empresas como Pão de Açúcar e Riachuelo, que desde agosto de 2012 integram alguns dos projetos-piloto de implantação da NFC-e liderados pelo Fisco em sete Estados: Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Acre, Amazonas, Maranhão, Rio Grande do Norte e Sergipe). A partir do ano que vem, alguns Estados, como Amazonas e São Paulo, vão adotar oficialmente a NFC-e, que já entrou em vigor em 1º de outubro no Mato Grosso. O Estado é livre para aderir ao modelo, mas se o adota, todo o varejo é obrigado a seguir.

A mudança será gradativa para os negócios em operação, a partir de critérios como faturamento. Com isso, o Fisco pretende aumentar a arrecadação, atingindo até as microempresas, uma vez que vai receber informações on-line sobre as vendas. No sistema atual, as informações ficam armazenadas no aparelho, o que dificulta o controle. Além disso, por conta da sua limitação de memória, a impressora fiscal (que custa cerca de R$ 2 mil) precisa ser substituída a cada cinco anos, em média.

A adoção da NFC-e também terá impacto no setor de automação comercial, que movimenta cerca de R$ 3 bilhões ao ano. Em 2014, estima-se que o varejo invista R$ 1 bilhão para se adequar aos novos sistemas fiscais, segundo informou a Associação Brasileira de Automação Comercial (Afrac). O valor é baseado em levantamento do IHL Group, voltado a pesquisas em varejo e tecnologia. A expectativa é que 400 mil pontos de venda passem a emitir a NFC-e no ano que vem em todo o país - ao todo, existem 2,2 milhões de estabelecimentos formais no Brasil.

"A NFC-e ainda vai conviver durante um bom tempo com as impressoras fiscais tradicionais", disse o vice-presidente da Afrac, Paulo Eduardo Guimarães. A instituição promove hoje, em São Paulo, um evento com os varejistas para esclarecer as mudanças provocadas pela NFC-e.

A Linx, fornecedora de tecnologia de gestão empresarial para o varejo, vê grandes oportunidades para a introdução de softwares que permitam o pagamento móvel nas lojas. "Todo estabelecimento estará conectado com rede Wi-Fi para permitir a venda por smartphones e tablets", disse Jean Carlo Klaumann, vice-presidente de operações da Linx.

A empresa criou um software de monitoramento em mensageria. Se, por algum motivo, cai a conexão à internet da loja, o varejista precisa garantir que as notas cheguem ao Fisco. O software da Linx administra a "fila de cupons" até o momento de a conexão ser restabelecida, encaminha os documentos para a Secretaria da Fazenda do Estado, onde os arquivos são validados e retornam ao varejista.

Eros Jantsch, diretor de hardware da Bematech, fornecedora de impressoras fiscais, disse acreditar que o novo sistema não é tão seguro quanto o atual. "Com a impressora fiscal, a informação fica guardada no hardware assim que ocorre uma venda mas, na NFC-e, a comunicação da transação e a transação em si podem acontecer em momentos diferentes, o que facilita a evasão fiscal", disse o executivo, referindo-se à possibilidade de queda na conexão que invalide a transmissão on-line.

A NCR deixou de produzir as impressoras fiscais, que eram o carro-chefe da empresa, desde o ano passado. "Com a NFC-e, estamos apostando nas impressoras não fiscais que serão usadas pelos estabelecimentos", disse Antônio Castilho, diretor da unidade de varejo NCR. A empresa também aposta nos aparelhos que permitem ao consumidor fazer a própria compra, o "self-checkout".



Veículo: Valor Econômico


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