A PepsiCoInc. está apostando que os consumidores querem que suas bebidas valham por pequenas refeições.
Como parte de sua estratégia de explorar o mercado de alimentos de conveniência mais nutritivos, a empresa tem esperança de que as pessoas paguem mais por uma bebida que é nutritiva e espessa o suficiente para ser considerada mais um petisco do que uma bebida.
O Tropolis, um purê de fruta com 80 calorias, vendido em saquinhos com cores brilhantes, será dirigido a mães e crianças. A Tropicana, unidade da PepsiCo, vai fazer o Tropolis com sabores maçã, uva e cereja no Meio-Oeste americano este mês, cobrando entre US$ 2,49 (R$ 4,20) e US$ 3,49 (R$ 5,87) por um pacote com quatro unidades.
Mas não está claro até que ponto um produto de nicho que é mais complicado de produzir e distribuir do que um suco será rentável para a PepsiCo, cujas ações vêm tendo desempenho inferior ao de suas maiores rivais nos Estados Unidos, a Coca-Coca Co. e a Dr Pepper SnappleGroup Inc.
A Coca e a Dr Pepper não têm negócios significativos na área de alimentos e fizeram apostas maiores em refrigerantes e sucos, que são de longe os produtos mais rentáveis da indústria.
A PepsiCo é mais conhecida pela Pepsi-Cola e pelas batatinhas Elma Chips, ou Lay's nos EUA, partes das duas linhas de refrigerantes e salgadinhos da empresa, "fun-for-you" (diversão para você, com produtos como Doritos) e "better-for-you" (melhor para você, com a Diet Pepsi), que correspondem a US$ 50 bilhões dos US$ 60 bilhões em receitas da empresa.
Mas a presidente da empresa, Indra Nooyi, aposta na criação de um portfólio "good-for-you" (bom para você), unificando as divisões Tropicana, Quaker e Gatorade sob um único guarda-chuva e expandindo as linhas de produtos. Nooyi disse que pretende aumentar o negócio de nutrição de US$ 10 bilhões para US$ 30 bilhões até 2020.
Para atingir tal objetivo, a PepsiCo anunciou a compra este mês da linha de lácteos e de sucos da russa OAO Wimm-Bill-Dann, num acordo que avaliou a empresa em US$ 5,4 bilhões. "Vemos a oportunidade que surge de 'lanchificar' as bebidas e 'bebidificar' os lanches como a próxima fronteira na área de alimentos e bebidas de conveniência", disse Nooyi. Ela citou exemplos como o kefir, uma bebida que lembra um iogurte azedo, muito popular na Rússia e que alguns dizem ajudar na digestão. Ela espera ver produtos lácteos misturados com suco, cereais, frutas e castanhas, todos comercializados pela PepsiCo.
Mehmood Khan, ex-endocrinologista da Clínica Mayo que lidera o grupo de nutrição da PepsiCo, diz que é ultrapassado pensar que snacks são secos e bebidas, molhadas. "Os consumidores não acordam de manhã e dizem: 'Vou comer cereais; quero um produto à base de leite'", diz Khan. "Eles estão procurando combinações das duas coisas." Khan não especificou quais seriam as próximas combinações.
Os pesquisadores que desenvolveram o Tropolis dizem que trabalharam com mães e crianças até encontrar o ponto da textura do produto para que ele flua pela abertura da embalagem. Eles também ajustaram a mistura de suco e purê para alcançar a textura desejada sem adicionar gomas ou amidos. Entre os ingredientes há purê de maçã, água filtrada, concentrado de purê de banana e três outros tipos de concentrado de fruta.
Marion Nestle, professora de nutrição na Universidade de Nova York, alerta que os concentrados de fruta são simplesmente açúcares. "Eles começam com comida de verdade, então que ganhem crédito pelo caldo de maçã e as bananas amassadas", mas "o resto é açúcar", diz. "Seria melhor se as crianças comessem uma maça ou uma banana."
A PepsiCo afirma que o Tropolis deve fazer com que as crianças comam mais fruta, que é o mais importante.
A PepsiCo já vende um produto assim dentro da linha de sucos Naked, da mesma forma que a Coca faz com a linha Odwalla. A Coca-Cola vende uma linha com fruta espremida chamada Multon Rich Fruit Mix na Rússia, tendo como alvo adultos que querem refeições para viagem. A Coca-Cola não comenta seus planos de expansão.
O grupo francês DanoneSA vende iogurtes líquidos nos EUA há mais de seis anos. O mercado americano de iogurtes dobrou nos últimos dez anos, principalmente por causa do interesse em produtos como iogurtes em embalagens em formato de tubo, segundo a General MillsInc., fabricante do Yoplait e do Go-Gurt.
Nos EUA, um grande fabricante da chamada fruta espremível é a Peter Rabbit Organics, uma empresa britânica de capital fechado com produtos em mais de 8.000 estabelecimentos, inclusive 6.000 cafeterias da Starbucks. "Eles são carregáveis, podem ser espremidos e por isso são divertidos para as crianças", disse o diretor-gerente da empresa, Ben Ford, ao Wall Street Journal. "Era muito fácil consumir as bebidas no passado, mas agora você também tem as fibras." A Peter Rabbit vende purês feitos com mangas, morangos e outras frutas.
A Dr Pepper Snapple considera fazer um produto a partir de frutas espremidas, mas não tem planos imediatos de lançamento.
Veículo: Valor Econômico