Americanos deixam de beber 42 mil toneladas em 2010; para associação, comportamento é reflexo da crise
Líder em demanda e berço da produção mundial de suco de laranja, os EUA perderam 42 mil toneladas de consumo em 2010 ante 2009, segundo estudo da CitrusBR (Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos).
O volume praticamente equivale ao consumo brasileiro, que foi de 45 mil toneladas no ano passado.
Essa foi a primeira vez na história em que o consumo nos EUA caiu acompanhado de queda de preço. "Isso nos leva a crer que os americanos estão ficando mais pobres", afirma Christian Lohbauer, presidente da CitrusBR.
Outro indicativo de menor poder aquisitivo nos EUA é o aparecimento do néctar (suco de laranja concentrado, misturado à água) nas estatísticas de consumo americanas pela primeira vez. Os americanos são tradicionais consumidores do chamado NFC (o puro suco de laranja).
Além da questão econômica, mudanças nos hábitos de consumo -com a maior participação de águas com sabor e isotônicos no mercado- contribuem para as vendas menores de suco de laranja.
Marcos Fava Neves, coordenador do Markestrat (centro de pesquisa que compilou os dados), acredita que o problema esteja mais ligado ao perfil do consumidor do que à economia americana.
"O consumidor tradicional de suco de laranja nos EUA está morrendo, e os jovens são mais suscetíveis a novos produtos", diz o especialista. "A quantidade de lançamentos de produtos concorrentes ao suco é muito grande lá."
IMPACTOS
Cerca de 70% das exportações brasileiras já tiveram como destino os EUA, mas o mercado americano foi perdendo relevância para a citricultura brasileira nos últimos anos. Hoje, 18% das exportações nacionais vão para os EUA, e 70%, para a Europa.
No entanto, o novo cenário do mercado americano impacta diretamente os negócios do Brasil, pois cerca de 40% do suco produzido na Flórida, principal região da cultura nos EUA, é fabricado por empresas brasileiras.
Para Fava Neves, a tendência de queda de consumo nos EUA não deve se reverter, pois o interesse da indústria americana, que por meio de ações de marketing transformou os EUA no maior mercado mundial, em estimular o consumo não é mais o mesmo.
"A produção na Flórida está no limite. Neste momento, um aumento do consumo não significaria vendas maiores para a indústria local, e sim maiores importações", afirma Fava Neves.
Veículo: Folha de S.Paulo