Importadores observam maior procura por rótulos de origem francesa e portuguesa e apostam no bom gosto dos consumidores. A maior procura por marcas e uvas mais refinadas deverá manter o crescimento do setor, que em 2010 importou 75 milhões de litros de vinhos de Argentina, Portugal e França. Expectativa é alavancar vendas com a proximidade do fim do ano
O brasileiro está buscando mais qualidade na hora de comprar vinho. Se, antes, o que pesava era essencialmente a relação custo-benefício, agora, começa a ganhar corpo uma escolha mais emocional, baseada em outros fatores, como o valor da marca e a procedência do produto - nem que isso signifique pagar um pouco mais caro.
No Grupo Pão de Açúcar (GPA), por exemplo, que comercializa 160 rótulos exclusivos, o setor de vinhos cresceu este ano 15% em valor e cerca de 5% em volume . "Há pequeno aumento do volume de vinhos consumidos, mas o maior incremento no faturamento deixa claro a venda de vinhos de mais qualidade, produzidos com vitiviníferas, ou seja, variedades de uvas próprias para a produção da bebida", explica Eduardo Chaves, gerente-comercial de Vinhos da empresa.
Desde 2001 a rede mantém um canal exclusivo de exposição de marcas, o Club des Sommeliers, com a proposta de buscar produtores nacionais para estender seu portfólio e transmitir informações sobre vinhos, sob a batuta de seu enólogo contratado, Carlos Cabral.
Atualmente a marca Club de Somellieres oferece 48 rótulos: 6 argentinos, 8 chilenos, 5 portugueses, 5 italianos, 15 franceses e 9 brasileiros.
Para Nina Bastos, proprietária da importadora Le Tire-Bouchon, embora os chilenos e os argentinos apareçam no topo das vendas - beneficiados, especialmente, pelas políticas de incentivos fiscais -, começa a despontar o maior interesse pelos rótulos de origem francesa.
Na sua experiência no mercado de importação, Nina observa uma significativa mudança de paradigma. "Anteriormente, havia a ideia de que, para ser bom, um vinho francês, deveria ser caro. Quem comprava um vinho francês também queria dar um presente mais sofisticado. Agora, com o dólar mais baixo, as pessoas estão pagando mais para experimentar, elas mesmas, um vinho de qualidade superior ", diz.
Com o varejo aquecido, Nina diz que no primeiro semestre deste ano teve 30% de aumento do seu ticket médio - hoje, em torno de R$ 60,00 - e adicional de 50% no volume de vendas.
O segundo semestre, segundo ela, costuma ser ainda melhor. "Geralmente, os meses de novembro e dezembro, próximos às festividades de final do ano, representam 33% da venda de vinhos de tudo o que foi vendido na minha loja ", prevê.
Para Luciano Almendary , da importadora All Food, o paladar do consumidor brasileiro vem evoluindo nos últimos 15 anos. Em sua importadora, são comercializados itens de várias procedências, mas ele observa uma maior procura por vinhos de origem portuguesa, com custo, em média, de R$ 50.
O aumento do poder aquisitivo da população explica a busca pela compra de produtos mais sofisticados, acredita Cristián Le Dantec, diretor regional do Grupo Viña San Pedro Tarapacá para o Brasil. A vinícola, que vende 6,5 milhões de caixas de vinhos por ano em todo o mundo, tem hoje no Brasil um dos principais mercados consumidores. com 700 mil caixas por ano. "Se o Brasil continuar crescendo no mesmo ritmo, o aumento do consumo per capta de vinho, que hoje é de dois litros deve aumentar. Os países mais desenvolvidos têm um consumo per capita de cerca de dez litros; nos países produtores de vinho esse número chega a 30 litros, mostrando que ainda temos espaço para crescer", explica O vinho branco não é tão consumido no Brasil, mas, para Cristián, isso deve mudar num curto espaço de tempo "O clima é bem propício para consumir vinho branco e espumante", diz.
O mercado de espumantes, que ganha 70% de participação entre os meses de setembro e dezembro no Brasil, também está na mira das empresas. Esse ano, Brasil receberá uma nova marca de espumante de origem argentina. A marca Cloe, da Premier Foods, nasce com a perspectiva de vender 12 mil garrafas esse ano e quintuplicar as vendas no ano que vem. "Essa é uma categoria que vai crescer muito nos próximos anos, mas ainda precisa ser trabalhada para se consolidar, por ser vista apenas como um produto de final de ano", diz Martin Belton, proprietário da marca no Brasil. A aposta inclui investir na harmonização da bebida com alguns pratos, à base de peixes, e trabalhar diretamente nos pontos de venda.
Sem revelar números, outra grande varejista, o Carrefour também diz investir constantemente no segmento de vinhos, com variedade e informações, para atender a crescente procura por este tipo de produto no País.
Algumas lojas da rede dispõem de adegas ambientadas, com mais de 500 rótulos de vinícolas nacionais e importadas, além de contar com atendentes especializados em vinhos para atender os clientes.
Veículo: DCI